Opinião: ‘O Carteiro de Pablo Neruda’ de Antonio Skármeta

Antonio Skármeta, outro escritor que nos apresenta a ditadura no Chile nos anos

O Carteiro de Pablo Neruda
‘O Carteiro de Pablo Neruda’ de Antonio Skármeta

70. Outro autor que cumpre o seu propósito ao nos trazer um romance com significado e significância histórica.

A história de Mario Jiménez serve de palco para a recriação artística dos últimos anos de vida do poeta Pablo Neruda. Um cruzamento ficcional que tinha tudo para correr mal ou, então, para ser um estrondoso sucesso Acho que, todos nós sabemos qual foi o veredicto.

Com esta possibilidade sempre em mente, adiei a leitura deste livro e, confesso que, apesar de ter tido a oportunidade de ver o filme não o fiz.

“- Porque os nomes não têm nada a ver com a simplicidade ou complicação das coisas. Segundo a tua teoria, uma coisa pequena que voa não devia ter um nome tão comprido como mariposa. Pensa que elefante tem o mesmo número de letras que mariposa e é muito maior e não voa – concluiu Neruda exausto. Com um resto de ânimo, apontou a Mário o caminho para a calheta. Mas o carteiro ainda teve a presença de espírito para dizer:

– Poça, como eu gostava de ser poeta!” – pág. 23, ‘O Carteiro de Pablo Neruda’

Este é um romance que entrou na minha categoria de ‘doce’, de uma simplicidade e, em simultâneo, complexidade de backstory que o molda de forma brilhante. Uma história que poderia ter-se transformado em tanta coisa já vista e

Nota sobre o falecimento de Pablo Neruda
Nota sobre o falecimento de Pablo Neruda

repetida mas que, devido à força das suas personagens, não o faz. Ao invés, inova e concretiza tudo aquilo a que se propõe.

Uma história de amor, paixão, admiração, amizade e lealdade. Um retrato de um país em transmutação que arrasta consigo todos os que apenas querem viver o dia-a-dia. Um exemplo das consequências do domínio das forças políticas sobre a ingenuidade, inacção, e falta de exercício de escolhas da sua população.

“(…) só havia uma possibilidade de salvar o Chile das garras definitivas e sanguinárias do marxismo: protestar com tal estrondo batendo as caçarolas que «o tirano» – assim designou ele o presidente Allende – ensurdecesse e, paradoxalmente, prestasse ouvidos às queixas da população e renunciasse. Então voltaria Frei, ou Alessandri, ou o democrata que vocês quiserem, e no nosso país haverá liberdade, democracia, carne, frangos e televisão a cores.

Este discurso (…) foi coroado por uma frase emitida pelo camarada Rodríguez, que desertou da sua sopa precocemente enfartado ao ouvir a arenga do deputado:

– A cona da tua mãe!

Sem fazer uso do megafone (…) acrescentou ao seu piropo algumas informações (…) se não queriam ser enganadas por estes bruxos de colarinho e gravata que sabotam a produção, que açambarcam os alimentos nos seus armazéns causando um desabastecimento artificial que se deixam comprar pelos imperialistas e que conspiram para derrubar o governo do povo.” pág.83, ‘O Carteiro de Pablo Neruda’

Um enredo devidamente apimentado com uma história de amor, sexo, e crescimento interior das personagens que, quando expostas a perigos, demonstram a sua coragem.

O Carteiro de Pablo Neruda’ é, sem dúvida, um livro a ler e a ter na colecção.

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