A felicidade de uma criança

A criança arregalou os olhos, num misto de deslumbramento e incredulidade. Aquilo tudo era para ele? Nunca imaginara que a felicidade fosse assim, redonda, vermelha e… doce. Mas aquele gesto vindo dum homem tão rude, um desinteressado, um estranho, se não contasse com as inúmeras vezes que se cruzaram com ele nas escadas ou na frente do prédio onde vivia, acrescia ao espanto que ele sentia.

Nunca na vida provara um rebuçado, nunca houvera dinheiro extra para rebuçados. Aliás, nunca havia nada extra, e normalmente o dinheiro que havia não chegava para o essencial, quanto mais para o rebuçado extra. Pelo menos era o que ouvia da sua avó.

Estendeu a mão para receber o pequeno presente, envolto num papel transparente que mostrava o corante encarnado tão lindo. Aquele era dele! O seu pequeno pedaço de céu, um esgar de felicidade numa vida que não entendia.

Assim que o vizinho se afastou, Carlos trincou metade do rebuçado e guardou o restante no papelinho transparente. A felicidade podia ser dividida, e a sua irmã Clara, que ele deixara em casa há minutos atrás, ia gostar daquele bocadinho de céu.

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Um rebuçado a uma criança, um sonho que possamos concretizar. Um apelo à protecção que lhes é devida e merecida. Elas não pediram para vir ao mundo, parem de fingir que elas não existem, parem de impedir os que não podem gerar crianças de amarem e educarem os desprezados desta vida, parem de acumular corpos em instituições que são a antítese do calor humano.

Ainda há crianças que desconhecem o sabor dum rebuçado, o amor num beijinho ou o carinho duma mãe.

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