Paranóias de infância

Após ler o texto “How to stop worrying what others think”, cruzei-me com um post de Seth Godin “Now you are a celebrity”, e dei por mim a pensar numa série de barbaridades que tanto sentido fazem nesta vida sem sentido.

Sempre tive um problema ou dois neste departamento de querer agradar a todos. Desde que me lembro de ser gente que tento agradar, gosto de agradar e motiva-me ser recompensada quando agrado (em sentido lato, claro!). Lembro-me particularmente bem das constantes comparações entre mim e o outro rebento da família. Coitada, aí saiu-lhe a palhinha mais curta.

A par desta pequena idiossincrasia, ainda trago uma outra intimamente ligada à primeira: reexamino tudo o que faço e digo. Penso e repenso se poderia ter feito melhor, se deveria ter dito de forma diferente. Mesmo quando tenho a certeza que nada poderia ter mudado o desfecho, que o assunto estava arrumado logo à partida, ainda penso que talvez pudesse ter dito isto ou aquilo ou ter explicado melhor.

Aquele incentivo para ser melhor, a pressão para tudo fazer de forma perfeita, o exibicionismo forçado (porque todos os paizinhos incentivam os seus rebentos a exibir-se), e o julgamento quando as expectativas saíam frustradas, o apoio absoluto especialmente porque a falha era previsível. É! Recordo-me de algumas destas… e todas elas tendem a fazer os outros gostarem um pouco menos de nós.

Mas mais importante, mesmo depois de identificadas as idiossincrasias, e das valentes “tareias” que levei por querer ser melhor, agradar, cumprir, e mesmo depois de ter mandado isso tudo às urtigas, ainda dou comigo a pensar: Será que me expliquei convenientemente? Poderia ter dito algo diferente? Ser menos agressiva, mais agressiva, mais intuitiva ou mais esperta. Cristo! Isto nunca acaba… É de considerar se, algum dia, deixarei realmente de me importar com o que os outros pensam.

E mesmo quando penso que se calhar o problema está no outro, tenho de me recordar constantemente porque cheguei a essa conclusão, tão enraizado está o mantra “se não gostam de mim é porque fiz algo mal”.

Dizer que não iremos agradar a todos é verdade, repetir a lengalenga até se tornar oco é normal, mas atingimos algum objectivo? Mudamos alguma coisa em nós próprios? Aceitamos que podemos e vamos falhar em agradar, e que isso não nos torna menos que os outros, porque todos pensamos o mesmo, se as circunstâncias assim o proporcionarem.

Na verdade iremos ser sempre pressionados para ser o que não somos, para corresponder a expectativas irrealistas ou, pior, para confirmarmos as piores ideias que os outros têm de nós, mas não é razoável pensar que podemos agradar a todos. É um esforço impossível, brutal, vazio e deprimente. É destrutor da auto-estima e um desperdício de energias.

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4 comentários em “Paranóias de infância”

  1. tenho um exemplo do q vc descreveu, que sou eu mesmo, eu sempre tento agradar a todos, e no meu antigo emprego eu so tinha uma apatia um dos meus gerentes, todo o resto gostava de mim mas este gerente em especial nao gostava de mim nem brincando e depois de muita comverça com os outros, descobri que eu tinha chance de ser promovido e que ele so estava com medo de ser substituído e q tambem tinha uma certa inveja por que quase ninguem gostava dele mas ai chegou a tal ponto que eu tive q pedir demissão pra nao acabar com a raça dele, a trabalhei 2 anos 2 meses com o mesmo, nao foi por falta de tentar. E o que tirei disso foi que, as vezes não é que não gostam de você mas por que existe, medo, receio, inveja ou cobiça e não que você fez algo de errado.

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