Opinião: ‘Siddhartha’ de Hermann Hesse

Siddhartha“A tua alma é o mundo inteiro.” p.13

Adorei. Li-o quase de uma assentada. Cativou-me não apenas a mensagem, a busca pelo significado da vida, mas a facilidade com que Siddhartha abandona aquilo que já não o faz crescer em busca dum sentido maior na sua existência. O deixar tudo para trás, não uma, mas várias vezes ao longo da sua vida… e quem já passou por momentos desses sabe o quão difícil é contemplar um novo caminho quando pouco ou nada tem a que se agarrar.

“… era tudo mentira, tresandava tudo a mentira. A felicidade e a beleza mais não eram do que ilusões dos sentidos, estava tudo condenado a apodrecer. O mundo tinha um gosto amargo. A vida era dor.” p.22

Para Siddhartha a fome é irrelevante. Os confortos são desprezados. Tudo é relegado para último plano à excepção da descoberta de como conviver com o seu ‘Eu’. Tudo é absorvido como parte desta grande experiência que é a vida. Apenas o amor e, por fim, o sentido de unidade de tudo o que coexiste neste mundo prevalece.

“Reflectiu profundamente, até essa sensação o avassalar por completo e chegar a um ponto em que reconheceu causas – pois reconhecer causas, parecia-lhe, era pensar, e só através do pensamento as sensações se tornam saber e, em vez de se perderem, tornam-se reais e começam a amadurecer.” p.45

A constante busca por algo indefinido, e indefinível, acompanha-nos ao longo desta história. A paz interior que Siddhartha sente em cada etapa da vida cativa-nos. Mesmo no seu pior e quase derradeiro momento, tão semelhante a tantos de nós, ajuda-nos a compreender a força que a vida tem quando pensamos que tudo está perdido. Uma história de esperança, de luta, de fome (também no sentido literal) por conhecer quem somos e o que fazemos neste mundo.

“De súbito, compreendeu claramente que levava uma vida estranha, fazia muitas coisas que não passavam de um jogo, se sentia alegre e, algumas vezes experimentava prazer, mas que a verdadeira vida passava por ele e não lhe tocava.” p.77

A vivência social de um povo tão envolto na espiritualidade e na constante busca pelo intangível, pela alma em detrimento do corpo. Claro que muito tem mudado e podem-se apontar variadíssimos males ao modo de vida dum povo que prima pela excessiva estratificação social. Mas a crença, o espírito, a busca pelo espiritual, é intrínseca nesta cultura e uma parte fundamental deste livro.

“Siddhartha penetrou na floresta, já longe da cidade, consciente apenas de uma coisa: não podia voltar para trás, a vida que vivera durante muitos anos acabara, consumira-se e esgotara-se até à náusea.” p.93

Escrito nas primeiras décadas do século passado, ganhou o prémio Nobel em 1946 e acredito que ainda hoje é uma história memorável. Um clássico tão pungente como quando foi escrito.

“Aonde me levará o meu caminho? Este caminho é estúpido, desenrola-se em espirais, talvez em círculos, mas vá para onde for segui-lo-ei.” p.102

Mais uma obra a entrar para a minha prateleira de favoritos e uma que aconselho vivamente…

E a última…

“a bondade é mais forte do que a severidade, que a água é mais forte do que a pedra, que o amor é mais forte do que a força.” p.125

Podem ler ‘Siddhartha’ aqui…

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