Hoje e o Coronavírus

hoje e o coronavirus

O que posso dizer-vos nestes tempos de medo, incertezas e perturbação? Sendo absolutamente sincera posso pedir-vos para ficarem em casa. É possível? Talvez. Talvez não.

Para os que podem ficar protegidos, por favor, não alimentem este vírus com a vossa saúde.

Para os que não se podem resguardar por motivos profissionais, agradeço-vos sinceramente pelo vosso trabalho em prol de todos nós, e desejo que fique tudo bem convosco e com as vossas famílias.

Um sincero Obrigada.

 

Posso confessar que paniquei. Paniquei há três semanas atrás quando começámos a ver a cena a aproximar-se e paniquei, de novo, há duas semanas quando a pior (e previsível) evolução se aproximou de nós à distância de alguns, poucos, metros. Não me envergonho de ter panicado. Vá! E, de continuar num certo nível de pânico (respira!).

Enquanto os outros se escondiam atrás de palavras vazias, e desinteresse pela propagação viral, sinto que protegi a minha família dentro do limite que me foi possível fazê-lo. Infelizmente, como só uma acção como sociedade podia conter isto naquele ponto, vi as minhas piores expectativas confirmarem-se.

As imposições e as incertezas nunca são fáceis. Em qualquer outro tempo da história já teríamos passado por tempos de guerra, privações, doenças ou outro tipo de caos generalizado. Estas gerações mais jovens, onde me incluo, têm sido poupadas a tantas coisas difíceis que, talvez agora, e face a este panorama epidemiológico, possamos repensar a nossa vida em sociedade/comunidade.

Aqui em casa, neste momento, levamos uma semana a mais de isolamento do que a maioria. Não tem sido fácil. O espaço não é muito para quem tem uma speedy-menina-gonzalez de três anos quase a fazer quatro. E, a falta de companhia da família alargada não ajuda. Mas, há quem esteja pior. Nós temos sorte. Temos duas pequenas varandas solarengas, de vista desimpedida, e um monte de livros, brinquedos, aparelhos electrónicos, e materiais reaproveitados para artes manuais. E, desviámo-nos daquela “bala”.

Mas, como tenho tido bastante tempo em casa, por motivos profissionais, aprendi algumas coisas sobre como gerir as minhas actividades. Conhecimento que estou a tentar adaptar à nova vida de confinamento voluntário. E, é sobre isto que quero falar-vos.

Devido a uma mão cheia de circunstâncias, e à minha predisposição para trabalho criativo, que tenho vindo formular umas estratégias para me manter activa e não me deixar abater pelos dias de Inverno. Assim, reuni uma ideia ou duas sobre o que fazer quando preciso de FAZER QUALQUER COISA.

E, não! Limpezas agressivas não são resposta para acalmar os nervos… apesar de serem a minha estratégia de eleição para libertar o stress. Nota para mim: Pousa os panos e a vassoura e vai criar qualquer coisa que te divirta e abstraia.

Guardei então uma série de ideias que quero partilhar convosco. Usem as que vos aprouver ou, se possível, partilhem connosco as vossas sugestões, para que não se nos acabem as ideias. Para cada categoria vou incluir sugestões para pessoas com e sem filhotes. Porque com filhotes, a trama adensa-se…

  1. Manter um Horário

Isto é muito importante. Mesmo que acreditem que merecem um pouco de descanso e sair das rotinas do despertador, e de ir para a cama cedo, é importante estabelecer um horário e cumpri-lo.

Nós somos criaturas de hábitos e, após o choque inicial desta mudança abrupta de rotinas, sentimo-nos um pouco desorientados com o que é suposto estarmos a fazer. Assim, o melhor é manter uma rotina que nos seja familiar, com horários para coisas importantes como comer, dormir, fazer exercício físico, ver o noticiário, um episódio (ou dois) de uma série, ler um livro, escrever qualquer coisa, limpar o chão, brincar com o gato, conversar com alguém…

Com crianças.

As crianças precisam e apreciam horários. Mesmo quando choram, desalmadamente, porque não querem ir para a cama ou para o banho (deixo já as minhas desculpas aos vizinhos de baixo, e do lado. Juro que não estou a bater-lhe ou a obrigá-la a fazer alguma coisa pouco razoável. Só estou a tentar lavar-lhe o cabelo em condições, sem deixar ir água para a cara ou ouvidos… e, a falhar redondamente).

Nestes dias que correm, devido ao stress de estarem confinados, sob ordens constantes, e a observar-nos panicar devido ao aumento de drama nas notícias, as crianças precisam de alguma estabilidade de horários. Claro que, temos de ser sensíveis à idade de cada criança e adequar o horário a isso.

E, afinando os nossos horários conseguimos definir tempos em que temos um bocadinho só para nós… nem que seja no WC.

2. Blocos de Tempo

Definam blocos de tempo para fazerem as vossas actividades preferidas (ou necessárias). Vamos apontar quantas vezes lavam as mãos, desinfectam com álcool e põem creme hidratante?!? (as minhas mãos começam a parecer as do Exterminador Implacável após perder a pele humana).

Por Amor à Santa, e isto é algo muito sincero: não liguem a TV nas notícias o dia todo. No fim de uma hora estamos a pensar que nos sentimos já doentes, com sintomas esquisitos e tudo, e que a pandemia já nos bateu à porta há um ano atrás… ou, sou só eu que padeço disto?!

Exercício: Arranjem uma folha de papel, decorem-na ao vosso gosto, e tracem umas linhas. Ficam com uma espécie de horário da escola (lembram-se desses cartõezinhos verdes?) Cada quadrado é um bloco horário, de meia hora, uma, duas, ou o que precisarem. Depois comecem a preencher com as actividades que querem/precisam fazer. Apontem os 45 minutos de ginástica no hall de entrada, o pequeno-almoço, a arrumação da cozinha, os dois episódios de Netflix, preencher o vosso journal, jogar um jogo online ou de cartas (se tiverem companhia para isso), até à (famigerada) hora que vão dedicar a ler/ouvir as notícias do dia.

E, não esquecer de apontar a hora em que vão telefonar/fazer video-chamada para a família e/ou aqueles que gostam. É importante mantermo-nos ligados aos outros. Podemos estar sozinhos mas não estamos sós.

Com crianças.

Convidem-nos a participar da construção do horário e afixem-na, com grande pompa e circunstância, na porta do frigorífico. Introduzam o bloco de tempo para jogos no tapete da sala, sessão de cócegas, a aula de dança temática (por aqui o baby shark é o grande sucesso do momento, logo após os 30 minutos de dança para séniores… o que as minhas costas permitem 😀

Pintar com os dedos, construir bonecos de rolos de papel higiénico (ouvi dizer que é material que não falta em casa, por estes dias… já, por aqui, começamos a entrar em racionamento dessa cena). Outra actividade interessante é observar o que vemos da janela. Escolhemos diferentes alturas do dia, em diferentes dias, e sentamo-nos na varanda a apanhar sol ou, pelo vidro, a ver as árvores abanarem com o vento, ou as estrelas a brilhar ali mesmo ao fundo. Tempo a incluir no horário é o da série de bonecada preferida do momento que, aqui em casa, é uma coisa apelidada de música do bebé (obrigada, Cocomelon e a versão infantil de unboxing de brinquedos – todos a revirar os olhos neste momento, vá!).

3. Brainstorming de actividades

Façam um brainstorming de todas as actividades que podem fazer dentro da vossa casa incluíndo as que nos trazem mais conforto psicológico.

Numa folha/ficheiro listem vinte actividades que podem fazer dentro de casa. Depois, apontem mais vinte. Peçam ajuda aos membros da família e apontem todas as ideias que vos ocorram, e que não coloquem a casa ou a vida em perigo, entenda-se. Mesmo aquelas actividades que podem parecer que, à partida, não fazem sentido nenhum. Podemos sempre olhar para elas de modo diferente, daqui a uns dias, e adaptá-las ao que quer se seja que se forme na nossa mente.

Sim, podem apontar os 350 episódios do Prison Break ou, seja lá qual for, a última série da moda período pré-isolacionismo.

Com crianças.

Podem testar a brincadeira do jarro cheio de papelinhos com actividades diferentes. Apontam todas as brincadeiras, que podem fazer em casa, num papelinho. Dobram os papelinhos muito bem e enchem um recipiente com eles. Cada hora que queiram experimentar uma actividade surpresa, tiram do jarro a sugestão do que vão fazer a seguir. E, no Horário apontam um bloco de tempo para Brincadeira-Surpresa.

4. Conjugar Actividades

É necessário incluir as tarefas chatas. Porque as tarefas chatas também são importantes (como diz a mãe da Bluey). Quando nos juntamos em família, sobra trabalho. Enfim… Podemos usar estratégias e conjugar as actividades de pessoas diferentes dentro de casa. Se um cozinha, o outro arruma a loiça. Se um aspira, o outro lava o chão. Se um estende a roupa, o outro apanha. Se um lê, o outro toma conta das crianças.

Com crianças.

Dependendo das idades, pode ser mais, ou menos, fácil encaixar aquilo que nos apetece fazer, sem sentirmos que andamos sempre a reboque dos furacões infantis cá de casa. É importante aproveitar as horas da sesta. Eles dormem, os que ainda o fazem, e nós escrevemos qualquer coisa, descansamos a vista, ou vemos um filme maior de 16 na Netflix, ou coisa semelhante… Se os adormecemos, levamos connosco o podcast preferido, o audio-book que guardamos para estes momentos, ou a música nova que queremos ouvir.

5. Celebrar Datas Importantes

Hoje é dia do Pai. Sim, este artigo foi escrito hoje. Lamento, mas não há planeamento de blogger que aguente uma pandemia mundial… há pouco que o faça, diria. Fazer um bolo. Em conjunto com a criança, criar uma lembrança. Fazer o jantar preferido do pai. Falar com o pai ao telefone ou em vídeo-chamada.

Não deixar passar em branco os dias especiais. Afinal, a vida não é o que se passa na rua e, depois o que acontece em família. Neste momento, como grande representação do que deveria ser, a nossa vida é em família, e a rua é o acessório que tantas vezes nos distrai dela.

Ainda não convoquei a speedy-gonzalez-fixada-em-vídeos-infantis-de-brinquedos para fazer qualquer coisa para o pai. Mas, vou tratar do assunto em breve… Na mesa da cozinha porque a da sala foi ocupada pelo pai a trabalhar.

Mais, há uma boa probabilidade de estarmos ainda confinados no dia do 4º Aniversário dela. Parte-me o coração pensar nisso. Assim como, a Páscoa sem a família toda… Enfim, importante é viver os momentos que temos e tornar os nossos dias em família, tão normais, e especiais, quanto nos for possível.

Vou tentar adicionar decoradora de bolos à lista de coisas para aprender a fazer. Tenho um mês para descascar esta banana vampiresca.

Para quem vive sozinho é ainda mais importante não esquecer estas datas e, se possível, comemorá-las. Mesmo que seja à distância ou, se tal não for possível, em jeito de criar qualquer coisa sobre a pessoa em questão e o que sentimos por ela.

Entretanto, vão encaixando os vossos exercícios criativos. Seja a vossa prática diária dita normal, seja a exploração de uma actividade nova, seja o aprofundar de relacionamentos com os que vos rodeiam, ou o acto de apreciar a vossa própria companhia.

Tenho saudades da minha própria companhia, confesso. Isto de casa cheia é, por vezes, assoberbante… Mas, VAMOS FICAR BEM.

vamos ficar bem

Tenho esperança. E, pânico. O caos, o pânico,  horror. Mas, tenho ESPERANÇA e FÉ. E, temos uma hora de cada vez. Uma abençoada hora de cada vez.

É só uma hora de cada vez, e respirar fundo, e encontrar qualquer coisa divertida para fazer.

(JKL)

E, vocês? O que andam por aí a fazer?

Deixem-nos as vossas ideias sobre actividades divertidas.

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