8 Ideias a contemplar no início de um projecto

8 ideias no início de um projecto

Esta semana tem sido marcada pelo início, e decorrer dos primeiros dias, do NaNoWriMo de 2020. Daí o dia, e a hora, de publicação deste artigo…

Se não sabem do que falo, o que é muito natural, convido-vos a ler primeiro este artigo aqui: National Novel Writing Month.

Este artigo tem 10 anos. O mesmo tempo em que sou membro registado deste desafio. Participei 4 vezes, 5 se contarmos com a presente volta no NaNo de 2020, e terminei dois livros (dos quatro) no decorrer deste desafio.

Não pretendo entrar em pormenores sobre o meu projecto corrente mas, quero falar convosco sobre uma parte, muito importante, do processo da escrita de um manuscrito de algum comprimento.

O NaNo tem um objectivo obrigatório de 50 000 palavras. Um total simpático que pode apontar sempre o Verdadeiro Norte do sítio para onde queremos levar o tamanho de um projecto escrito. De uma forma geral, e num âmbito de outros projectos que não façam parte do Nano, não é obrigatório marcar as 50 000 como o objectivo (sobre os diferentes formatos da narrativa literária, podem ler este artigo aqui…). Alguns projectos levam mais palavras, outros menos.

Acho que é importante rever o que sabemos sobre o Início de uma história. Há uns quantos artigos atrás, considerei 7 formas de começar uma história que contemplam aquela cena inicial que nos prende à leitura em si… ou, nos frustra e, faz abandonar o livro à sua sorte.

Ao longo do tempo considerei, também, como não começar uma história, ou seis inícios a evitar. Neste artigo podem ler algumas formas de estragarmos um início de história, que se exige que seja interessante, e que nos prenda sem nos deixar largar o livro.

As regras para fazer ambas as coisas estão nestes artigos. Pelo menos, as “regras” que, bem pensadas, podem ser reformuladas e potenciar um início brutal.

Hoje, contemplo outras coisas sobre os momentos iniciais de concretização de uma história ficcional. Assim, deixo-vos 8 momentos que devem contemplar neste início, ou em qualquer outro início, de uma história:

1. Sincronicidade

Há coisas que só se revelam quando estamos em pleno processo criativo. Quando as ideias fluem, e a criatividade está em acordo com as leis gerais do Universo, e temos aquele momento em que, sem saber de onde surge o insuspeito AH-HA! Algo que escrevemos há muito tempo, descontextualizado, sem sabermos se algum dia iria servir para alguma coisa, manifesta-se num texto actual, como uma qualquer lei de sincronismo absoluto que só existe para quem aceita que não controla todas as fases do processo. Isto não se inventa, materializa-se.

Assim, não há regras fixas para este jogo. Há aparecer para escrever sobre o que queremos escrever. E, há períodos em que dedicamos à nossa escrita mais completa, só porque sabemos que é assim que deve ser. Ou, se forem como eu, vão acumulando, acumulando, enchendo o saco, continuando até que, um dia, num projecto, as coisas são forçadas a sair no meio que é suposto. Sem regras. Estou a tentar relembrar-me, a cada curva do caminho que, quando escrevemos, não pode haver regras. A única regras é aparecer e escrever.

2. Ter ideias e registá-las também

Um monte de notas. Um caderninho para listas. Um caderno para apontamentos. Um ficheiro de word. Um post-it… O que quiserem. Quantos quiserem. É preciso estar aberto e disponível para apontar as ideias que vão surgindo. É importante deixar que elas se manifestem sem barreiras ou racionalizações. É apontar e seguir em frente. O tempo de rever, e editar, virá depois.

3. Dar espaço à história para esta se ir revelando ao autor

Temos um plano, personagens, ideias, muitas referências e muita pesquisa… ou pouco de tudo. Temos, por vezes, anos a matutar em detalhes de uma ideia, para uma história, que queremos concretizar. Que não acreditamos que saberemos concretizar… Enquanto nos sentamos a escrevê-la (e é por isso que adoro o NaNo, porque não nos deixa tempo para pregarmos rasteiras a nós próprios e pararmos séculos a repensar) não nos forçamos a seguir o plano. Reinventamos o plano e deixamo-lo mutar à medida que ele vai crescendo. Se calhar não conseguíamos ver para além dum certo ponto porque estávamos de ideias fixas em não mudar. Quando a opção é escrever depressa, sem considerar os nossos entraves emocionais, o processo simplifica-se. O resto, logo se vê, quando outras fase deste processo chegar.

4. Conversar muito com as personagens

Conhecermos quem são, o que querem, o que fazem. Como os seus conflitos consigo próprias e com as outras personagens da história as motivam para fazer avançar Esta história. Entrevistamo-las. Pensamos delas. Pomo-las a relacionar-se entre si. Opomo-las. Deixamo-las resolver os seus conflitos. Deixamo-las serem quem são. Uma história faz-se de personagens. Conversar com elas é sempre o caminho a seguir.

5. Construir diferentes enredos paralelos

Conhecer as personagens é saber as histórias que os transformaram em quem eles são. As histórias que viveram e aquela que estão a viver são o material dos diferentes enredos que formam uma história. É preciso arquitectar umas coisas mas, acima de tudo, é preciso conjugar aquilo que sabemos sobre a história que queremos contar para gerarmos uma viagem emocionante para quem escreve e para quem lê.

Se o enredo é óbvio para ti, autor, será mais óbvio ainda (e desinteressante) para quem lê.

6. Permitir que a história mude enquanto a construímos

Não nos fixamos onde achamos que queremos ir com a história. Deixamo-la crescer. Adaptamo-nos às voltas que ela dá. Permitimos que as personagens cresçam e evoluam. Autorizamo-nos a explorar outras coisas, que ainda não tínhamos visto, porque ainda não tínhamos chegado a um determinado contexto, e permitimos que a história cresça e evolua enquanto a escrevemos.

Podemos ter uma receita prévia mas, os melhores resultados costumam vir do produto daquelas reviravoltas que não esperávamos que acontecessem.

7. Aparecer todos os dias para escrever, quando é tempo para isso

Podemos levar anos a construir uma história, a reunir ideias, a arranjar fontes… mas, quando é tempo de escrever, é sentar o tutu e escrever. Se precisamos de qualquer coisa como um desafio (daí o NaNoWriMo) é aceitá-lo. Se precisamos de um despertador e um balde de café, durante três meses, é aceitá-lo. Se precisamos de escrever no carro, ou no wc, ou no café da esquina… aceita-o.

Tem de haver tempo para todas as fases do processo de escrita e, sobretudo, tem de haver um compromisso com a vida, e os sacrifícios associados, para que uma tarefa desta envergadura surja.

A vida é dura para todos. E, não se compadece dos sacrifícios que temos de fazer. De facto, a nossa quota de miséria é infinita. O que podemos é escolher o que fazer com ela. E, escolher aparecer para escrever, sempre e quando possível. A escrever ou sem escrever, o tempo passa na mesma…

8. Saborear cada fase do processo, mesmo quando tudo é incerto e confuso

É sempre incerto e confuso. Só gostamos de acreditar que temos algum mísero controlo sobre a cena… ou, é isto que eu penso sobre o assunto. Enquanto nos sentamos a escrever a nossa história, temos um gostinho especial sobre uma só fase do processo: Escrever. Mas o processo não se resume a escrever. É preciso ler. Pesquisar. Tirar notas. Criar Universos e Personagens. Viver experiências. Recontar outras histórias. Adicionar pormenores. Rever. Editar. Eliminar…

Ninguém gosta de saborear a dor física de não conseguir ler mais um minuto de uma letra miudinha, às tantas da manhã. Ou, a seca que se apanha a ler enciclopédias, sites obscuros, ou na fila da biblioteca ou, a dor lancinante na parte de trás do pescoço…

Cada uma das experiências, boas e menos boas, são necessárias. Apreciar os pés congelados, que não consigo aquecer há mais de duas horas é horrível! Não há piada na dormência que se sente nas pernas (doença circulatória, aqui, infelizmente), porque não nos levantamos de 20 em 20 minutos, como era suposto.

Saborear. É preciso aprender a saborear, mesmo aquilo de que não se gosta. Todas as actividades têm coisas associadas de que não gostamos. Ou, usamo-las a nosso favor, ou serão sempre a pedra no sapato que não nos deixa caminhar sem coxear.

Não precisamos fazer isto tudo. Não precisamos sentar-nos a escrever… seja onde for. Fazemo-lo porque queremos. Porque, de alguma forma esquisita, faz sentido. Porque as coisas boas compensam, largamente, as coisas más. Não o fazemos porque queremos ser conhecidos, ou ter sucesso. A maioria de nós tem um horror mais profundo ao sucesso do que ao falhanço. Falhar é muito mais habitual e, portanto, menos assustador.

E, estas são as oito considerações sobre o início do NaNoWriMo de 2020. Um ano desafiante. Um projecto desafiante. Um lembrete para nunca desistir.

Espero que me acompanhem no NaNo deste ano. Vemo-nos por lá… https://nanowrimo.org/ (Europe :: Portugal :: sara-farinha)

E, lá me aventurei no Discord!!!! Keto cookies for me!!!

Obrigada…

E, se quiserem, leiam a Página Divulgação aqui no blog, e participem ao publicitar os vossos projectos.

E, relembro para Subscreverem o blog por e-mail e receberem, todos os Sábados, um vislumbre exclusivo sobre os bastidores deste blog.

Até Breve!

2 comentários em “8 Ideias a contemplar no início de um projecto”

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