Opinião: “Persuasão” de Jane Austen

Persuasion by Jane Austen

Acabei de ler ‘Persuasão’… pela segunda vez. Adorei.

Sinto que a primeira leitura, em 2012, não produziu o efeito do momento presente. A responsabilidade de uma mudança como esta, acompanhada por uma reclassificação de 4 para 5 estrelas, deve-se a uma leitora mais madura e empenhada. (EU?!?! Madura?? LOL)

O que sabia eu, sobre tantas coisas, em 2012?

Sei que em 2012 escrevi uma opinião sobre este livro (que podem ler aqui) e que, apesar de ser muito do que pensava sobre os vários assuntos, não era tudo o que pensava sobre esta história.

Contudo, naquela altura, não tinha ferramentas mentais para pensar tudo o que poderia sobre esta história… e, daqui a 10 anos, acredito que terei outra perspectiva por inteiro, sendo esta uma bela parte da leitura como actividade lúdica.

Tenho escrito algumas coisas sobre a vida, obra e influência de Jane Austen sobre mim, e sobre as minhas inspirações criativas. Se pesquisarem Jane Austen, ali no quadradinho deste blog para o efeito (ou aqui…), encontram uma série de referência à escritora. Escrevi, inclusive, um artigo sobre ‘A minha história com ‘Orgulho e Preconceito‘.

Mas, a única obra de Austen sobre a qual opinei, e volto a fazê-lo, é ‘Persuasão’. Porquê?

Faço-vos um pequeno resumo de todas, sem garantias de que talvez venha a publicar opiniões sobre as restantes obras, para terem uma ideia geral:

Northanger Abbey‘. Uma heroína muito jovem e ingénua, com uma parte de inspiração muito gótica, que parece desenquadrada do avanço da obra em geral, deixando personagens por explorar com maior exactidão.

Mansfield Park‘. Uma heroína sem grande sentido de auto-defesa, mas que acaba por demonstrar uma veemência por princípios, que não estão muito claros como os obteve, tendo em conta a situação a que estivera exposta durante a sua formação.

Emma é mais uma heroína jovem, jovial e, por mais estranho que pareça, sem qualquer obrigação de cumprir com as convenções mais relevantes da época (como casar). Mas, aquilo que inflige a outros, durante o período em que aprende algumas lições, parece não surtir grandes alterações na forma como evolui no seu respeito para com eles. No fim, parece despertada pelo despeito e beneficiada injustamente. O filme de 1996 com Kate Benkinsale deu-lhe uma dimensão interessante e não me deixou estas sensações esquisitas no final.

Sense and Sensibility, cativa pelos tormentos, e respectivo crescimento pessoal, que as personagens principais sofrem. Não são apenas as maldades que se consubstanciam em tormentos para os seus promotores, mas a visão sobre como as formas de comportamento são determinantes para aceitar o que acontece com graciosidade e, com sorte, no final, a felicidade ser possível. Uma espécie de recompensa para os menos afortunados.

Pride and Prejudice é a sua obra mais estimada pelo público em geral. Entendo porquê. Os preconceitos, as ideias injustas, os comportamentos perigosos, tudo entra em conflito quando é preciso aceitar que, por vezes, o amor acontece quando tem tudo para assim não ser. O crescimento pessoal das personagens tornou esta história em memorável por mais dos duzentos anos que anda por aqui.

Persuasion‘ é, talvez por ter sido a última obra a ser lida, escrita, consubstanciada pelo tempo, a minha favorita. O que, também, foi uma surpresa para mim.

Antes de reler, vi o filme de 2007 e, tirando a parte de haver uma quantidade impressionante de corrida para Anne (não sei bem porquê), foi um bom incentivo à posterior leitura.

Persuasion 2007
‘Persuasion’ fotos do filme de 2001 (IMDB)

Apesar de guardar um cantinho muito especial para todas as obras de Austen (podem ler mais sobre isto aqui…), é com estas três últimas que menciono (‘Sense and Sensibility’, ‘Pride and Prejudice’ e ‘Persuasion’) que me sinto mais encantada.

Mas, de volta a “Persuasão”…

Em ‘Persuasão’ acompanhamos Miss Anne Elliot, uma das três filhas de um baronete inglês, a menos estimada pela família, e aquela cujas adversidades familiares a condenaram a uma existência de servitude e desprezo.

Aos dezanove anos, Anne deixara-se persuadir pela necessidade de rejeitar o seu único pretendente, por motivos económicos e sociais, mesmo sabendo que o amava profundamente.

Com o tempo, Anne aprende a conviver com o seu acto de rejeição do único homem que amara. E, oito anos depois, continua a padecer das dores e consequências desse acto.

Esta é a história como o regresso deste primeiro pretendente (mas não o único) muda o destino, aparentemente, já traçado de Anne.

E, caso as tendências culturais da época, e da habitual natureza masculina, tivessem persistido, uma jovem de 27 anos teria sido relegada ao celibato e ao sofrimento de saber que nunca seria correspondida nos seus sentimentos… ou seria sacrificada às conveniências familiares.

Na obra de Austen, posso dizer-vos que adoro este inglês antigo e coloquial. Sinto que aprendo a formar frases melhores, e mais bonitas, só por ler o original.

Gosto da personagem de Anne Elliot. É uma verdadeira corajosa perante toda as adversidades… mesmo aquelas que partiriam um qualquer coração menos robusto. Também Anne vê os erros nos seus actos, e racionaliza-os através dos seus princípios, proporcionando-lhe um crescimento notável. E, consegue o tão merecido final feliz.

Jane Austen

O Capitão Wentworth revela-se em todos os seus sentimentos em conflito. Incapaz de aceitar os seus próprios sentimentos, comete alguns erros, iludido pelo orgulho e angústia de uma rejeição anterior. Mas, é nos cuidados que não consegue evitar, para com Anne, que se nota as verdadeiras motivações dos seus actos.

Há muitas, e bem construídas, personagens em ‘Persuasão’, sobre as quais não entrarei em detalhes. Há uma crítica social bem directa em muitas das ocorrências desta história.

Modos, feitios, feitos e relacionamentos são tingidos por uma variedade bem interessante de relações que vão do amor, respeito e amizade verdadeira, ao calculismo, vaidade e mentira. Muito do que se lê, sobre estas “pessoas” e dos seus actos, encontra-se hoje, aqui mesmo “ao lado”, daí esta obra possuir uma dimensão bem actual.

Muito mais poderia acrescentar sobre ‘Persuasão’ mas fico-me pelo seguinte:

Leiam. É uma história de vivências humanas, de amizade e amor profundo, que nos toca.

E vocês?

O que andam a planear

Obrigada e Até Breve!

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