Olá a todos. Sejam bem-vindos a esta [pausa de domingo].
Esta semana, recomendo um filme cujo tema é relevante para a nossa realidade e actualidade.
Neste artigo semanal que, normalmente, desejo que seja leve, divertido e interessante, esta semana não será bem assim. Ia escrever um artigo sobre o próximo read-a-ton de Halloween que, há vários anos comecei por empreender sozinha. Confesso, esta é a minha forma de me por a ler Horror, sem assimilar demasiado as mazelas que o género representa para as minhas delicadezas pessoais.
Ia escrever sobre isto, mas já não vou.
Entretanto, surgiram algumas ideias sobre um filme que estive a ver, que gostava de partilhar convosco.
The Circle, 2017.
Com Emma Watson and Tom Hanks, streaming no prime video.
A história compõe-se assim:
Uma rapariga aceita um trabalho numa empresa tecnológica dedicada às redes sociais. A sua vida vê-se transformada pela nova cultura de trabalho que a enreda em todos os momentos da sua vida. A separação entre vida pública e privada esbate-se até à quase extinção. A família e os amigos sofrem com o excesso de visibilidade. A sua ingenuidade, e a falta de alerta para os males do mundo, empurram-na para uma vivência em que apenas o poder sobre os outros interessa, e é a única mais-valia para a sociedade em desenvolvimento. As pessoas são bens. As opiniões são desmoralizadas. Os que se recusam a viver assim, são assimilados ou apagados.
Levezinho, certo?
Porque achei interessante sugerir-vos este filme?
Porque, é difícil encontrar temas mais actuais. Porque, me pôs a pensar sobre experiências que eu, e outros, tivemos. Porque, conhecer as particularidades, e as extrapolações, são ferramentas que usamos para defesa pessoal. Porque, é preciso saber o que as coisas são, para escolhermos o que desejamos, em plena consciência.
Este filme soa a Distopia e não a Democracia. Soa a Totalitarismo. E, no fim, soa a uma realidade fora do nosso alcance para ser mudada, por mais pernicioso que este tipo de poder sobre os outros possa ser.
Esta é uma representação fidedigna de tantas realidades actuais que até parece moralmente são. A Emma Watson faz um excelente trabalho na interpretação da ingenuidade-melhoria-contínua, com a qual muitos de nós começamos.
E, a personagem do Ty é a representação do criador, cheio de boas intenções, que vê a sua criação usada para o mal.
A tentativa de assimilação cultural é agora entregue às pessoas/entidades para as quais aceitamos trabalhar. O engodo da festa constante, que capta e retém os colaboradores, potenciando o desequilíbrio nas suas vidas pessoais e familiares. Os grandes, e aliciantes meios que estas grandes empresas dispõem, fazem-nos acreditar na possibilidade de uma realidade melhor.
Estarem, constantemente, online e disponíveis, é o mínimo que podem dar em troca, ou assim querem fazer acreditar, já que é agora possível viver desta forma sempre conectada e, culturalmente, fechada.
A exposição à curiosidade pública, ao engrandecimento do absurdo dos nossos actos mais banais, e das nossas actividades particulares, é um aliciante brutal à partilha sem restrições.
Ocorrem-me os programas Big Brother que, no meu caso e nos anos iniciais, assisti com bastante interesse (poderia dizer sociológico, mas era mesmo só curiosidade).
A questão do Poder sobre os outros, que é exercido agora de formas mais encobertas, alimentando-nos com aquilo que queremos ver nas redes sociais, com um algoritmo que apenas reforça as crenças dos que se expõem a ele. Há muito que se acabou a ideia de que, através das redes sociais, temos acesso a ideias diferentes das nossas, por esse mundo fora.
A ingenuidade perante a História, e como começam e evoluem os conflitos em massa, a defesa de uma qualquer utopia moral que nunca pode ser nada, excepto controlo manipulável pelas instituições que têm alguma espécie de voto operacional no que, de facto, acontece.
O Poder no seu formato Político que intervém e pressiona as Instituições, mesmo de outros Países, no exercer dos seus direitos democráticos que se desejam livres, mas que são agora fáceis de manipular. Não foi há muito tempo, que se levantaram questões sobre as redes sociais operarem a favor de outros sistemas ideológicos para influenciarem eleições que se queriam democráticas.
O dinheiro em barda, que tudo comanda, e que está no campo das Indústrias Tecnológicas. Prontinhos para porem os miúdos a criar sem qualquer consideração moral sobre o produto do que criam. Ou para afastarem aqueles que não partilham as suas ideias políticas, como se viu há duas semanas, na representação da mais importante conferência tecnológica do mundo.
A informação é poder e, nós, vivemos na Sociedade de Informação. Tudo o que sabem sobre nós serve para nos servirem o que desejamos. Que este acto não seja bom para nós, como indivíduos, (e deva ser moralmente avaliado) não é uma consideração social que se deva ter. Pelo menos, não na forma como nos organizamos. O acesso implica uma escolha, mas escolher implica Saber o que podemos escolher que melhor nos sirva.
A educação que precisamos, a literacia nos temas do mundo (como económico-financeira, política, histórica ou Filosófica e Moral – O que significa ser Livre?) a qual aprendemos desde novos que é chata, e difícil, e deixemos que os outros o saibam por nós… — Olá, Colapso Financeiro! Como estás?)
Enfim, encontramos uma série de temas dignos de ponderação, na simplicidade de ‘The Circle’.
Espanto-me com a sua baixa classificação, mas olhando para os números, pouco mais de 500 pessoas classificaram a película, o que explica a coisa. Se a classificação é baixa, as pessoas não vêem o filme. E, assim se arruma o assunto.
Se tiverem hipótese, recomendo o filme. É divertido, elucidativo, desafiante. E, faz parte da nossa realidade actual.