Observo a obra de Tim Burton, aquelas histórias que ele cunhou pessoalmente, e confesso que, de alguma forma, o coloco algures como um percursor de Edgar Alan Poe.
O macabro, o poético, o altamente visual, são características que me ocorrem quando penso nas histórias que conheço de Burton. O nojo e o deleite caminham lado a lado (como prova este pequeno livrinho) nas pequenas ou grandes histórias deste homem que é considerado um dos homens dos sete ofícios.
Em tantas obras adaptadas, readaptadas, reconstruídas e recontadas, ‘Alice no País das Maravilhas’ de Jim Carroll, é mais uma desta lista. Aqui, ela baseia-se no argumento cinematográfico escrito por Linda Woolverton (e isto nota-se, na parte mais técnica do livro), e no filme realizado por Tim Burton.
É a prossecução de uma lenda infantil que ganha forma numa época de juventude da personagem principal. Uma reconstrução do Reino Inferior que nos relembra cada pormenor do filme e que nos leva ao mundo colorido numa época em que já não deveríamos sonhar com mundos de faz de conta. É um punhado de recordações de cenas de outras versões e de parque temáticos que nos fazem sonhar (como o da Disney em Paris).
“Para alguns – disse o pai de Alice. – Meus senhores, a única maneira de alcançar o impossível é acreditando que é possível.”
Alice é, agora, uma jovem mulher que perdeu o pai, e que vê-se prometida em casamento pela mãe, a um rapaz que é a sua perfeita antítese. As pressões sociais, a crítica à sociedade da época vitoriana, a crítica aos modos Ingleses e a descoberta e luta pela descoberta da identidade pessoal, são os temas basilares desta história.
“Estás maluquinha. Doida. Pirada da cabeça. Mas vou dizer-te um segredo… As pessoas melhores são todas assim.”
Alice esquecera as visitas anteriores ao Reino Inferior. Não tinha qualquer memória da toca de coelho, do Chapeleiro, da Rainha Branca, da Rainha Vermelha nem do mundo encantado que frequentara durante a infância. Aliás, com excepção dos sonhos que a perseguiam, retratando coisas tão estranhas como flores que falam e lagartas que fumam, Alice perdera todas as suas aventuras mágicas… e, preparava-se agora, para perder a magia da infância de forma absoluta.
A proposta de casamento. As escolhas de Alice. A viagem ao Reino Inferior. A luta contra a Rainha Vermelha… Tudo são metáforas para a escolha que enfrentava na vida “real”. Numa época em que as mulheres usavam espartilhos, almejavam apenas arranjar um bom marido que as sustentasse, e em que não podiam possuir quaisquer aspirações pessoais ou profissionais, Alice escolhe algo diferente, recusando tudo aquilo que os outros queriam que ela acreditasse.
“Desde o momento em que caí por aquela toca de coelho, têm-me dito o que devo fazer e quem devo ser. Fui encolhida, esticada, arranhada e enfiada num bule de chá. Fui acusada de ser Alice e de não ser Alice. Mas este é o meu sonho! Eu decido como é que ele continua a partir de agora.”
Este é a continuação de um conto infantil com um desenvolvimento, e conclusão, bem à moda dos tempos modernos. Alice encontra dificuldades, luta e vence. Escolhe o que é melhor para ela, independentemente daquilo que os outros pensam ou querem.
“Alice – disse a Rainha Branca -, não podes viver a tua vida para agradar aos outros. A escolha tem de ser tua, porque quando avançares para defrontar a criatura, avançarás sozinha.”
Um livro para jovens com algo de bem real e relevante para o resto de nós, e uma mensagem a que devemos dar atenção, na prossecução da nossa vida adulta.
Podem ler mais sobre ‘Alice no País das Maravilhas’ aqui…
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