O que é a Prática Deliberada? O que significa? Devemos praticá-la? E, como a usamos?
O que é a Prática Deliberada?
Prática (do grego praktiké)
Significa:
1. Aplicação das regras e dos princípios de uma arte ou de uma ciência.
2. Acto ou efeito de praticar.
3. Maneira habitual de proceder. = COSTUME, USO
4. Conversação, palestra, discurso, fala. = PRÉDICA
5. Exortação ou pequeno discurso feito por um eclesiástico aos fiéis (antes ou num intervalo da missa).
6. Sermão nos templos protestantes.
7. [Marinha] Licença de comunicar com a terra. – in ‘Priberam’
Na minha interpretação pessoal de ‘Prática’:
Deliberada (do latim deliberare)
Como adjectivo, significa:
1. Que se deliberou ou decidiu.
2. Que foi feito de propósito ou com determinada intenção. = INTENCIONAL- in ‘Priberam’
O que significa?
Aquilo que procuramos com alguma medida de intenção, prática regular e com um propósito, tende a assentar as bases do que é a Criatividade Artística.
O que procuramos com empenho tende a construir uma base de conhecimento que, depois, usamos para basear o trabalho criativo que empreendemos. Aquilo que aprendemos, comunicamos. Aprendemos com intenção, praticamos com regularidade, criamos uma forma de comunicação própria.
Podemos vê-lo em todas as obras dos grandes artistas, seja qual for o seu meio de expressão criativa. A aprendizagem constante, a prática regular, o que comunica através da obra.
Conhecer as práticas deliberadas daqueles que vieram antes de nós, daqueles que coabitam connosco no mesmo espaço temporal criativo, e contemplar como podemos construir a nossa própria prática deliberada são temas importantes.
Devemos praticá-la?
Dá muito trabalho, mas sim.
Não basta aparecer todos os dias. Temos de saber porque o fazemos.
Não basta criar qualquer coisa. Temos de criar o que precisamos.
Não basta usar um horário de prática habitual. Temos de enchê-lo com a prática que necessitamos de facto.
Não basta acreditar. Temos de colocar o tempo necessário na prática deliberada para se tornar realidade.
E, como a usamos?
Exemplos de Práticas Deliberadas:
- Escrever três páginas por dia, todos os dias.
- Ler x de livros por ano, na arte y.
- Aprender tudo sobre como escrever diálogos, dedicando os recursos até ver os resultados práticos.
- Criar um desenho todos os dias.
- Criar um poema a cada dia.
Ir mais além:
- Escrever três páginas por dia, todos os dias. Reler semanalmente, sublinhar ideias e novidades, investigá-las, aprofundar conhecimentos, escrever mais sobre qualquer uma delas.
- Ler x de livros por ano, na arte y. Ler x10 livros sobre o tema ‘construir personagens’ (ou ‘impressionismo’ ou …), anotar ideias, pesquisar outras fontes, reunir tudo o que encontre sobre o tema, exercitar o que aprendi.
- Criar um desenho (um poema, uma história…) todos os dias. Escolher uma ideia, um tema. Estudar e aplicar uma técnica específica, ou várias. Aperfeiçoar. Buscar inspiração noutras obras e ideias. Criar um espaço de criação absoluto para aquela actividade específica e dedicar-se.
É a Prática Deliberada que nos dá uma hipótese de contribuir, de facto, para a construção de algo maior do que nós próprios. São os esforços, os sacrifícios, a intenção, a lógica, a criatividade, e tudo aquilo que colocamos em cada pedaço de arte que criamos.
Que nos sirva de incentivo para criar, no tempo que usamos a fazer aquilo que, por vezes, nos esquecemos que gostamos.
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Referências:
- Dicionário Priberam
- “Revision & Self-Editing”, James Scott Bell (ISBN 9781582975085)
- “Flow”, Mihaly Csikszentmihalyi (ISBN 0060920432)
- Revista Super Interessante Arte: Van Gogh – A Febre de Criar
- “Leonardo’s Notebooks”, Leonardo Da Vinci (ISBN 9781579124571)
- Splendidly Unreasonable Inventors: The Lives, Loves, and Deaths of 30 Pioneers Who Changed the World, Jeremy Coller (ISBN 9781590202692)
Obrigado. Não só por esta publicação, mas pelo conteúdo de todo o Blog. Costumo vir aqui, aliás por sugestão sua nos e-mails que recebo. Tento sempre segurar alguma coisa para mais tarde poder consultar. Agora que é fácil, não é. Também não ando propriamente à procura de coisas fáceis. Sei que as mais difíceis são as interiores, aquelas que temos cá dentro desejosas de sair e que nos falta a capacidade de as transformar em palavras escritas. Bom, então três páginas por dia, vamos começar por aí, para já.
Olá Carlos,
Eu é que agradeço o seu comentário. Por vezes, e apesar dos números indicarem uma quantidade de visitas, que muito agradeço, fico meio triste com os poucos comentários que ele recebe. Concordo em absoluto que as coisas mais difíceis de gerir são as “interiores” e acredito que essa parte integra a prática da nossa escrita. Por no papel as nossas dificuldades, para melhor as entendermos, e podermos ajudar o mundo através dessa compreensão. Três páginas por dias fazem a diferença, acredita! Daí têm nascido muitas ideias, projectos e, acima de tudo, alívio.
Obrigada e até breve!