“É útil ver bons escritores a cometerem erros” James Wood ‘A mecânica da Ficção’
Confirma-se. Há coisas muito úteis, uma delas é ver os outros errar. Observar os erros alheios, desde que estejamos receptivos a analisá-los, é uma lição e tanto.
Contudo, identificar esses erros implica reconhecê-los. Saber o que ficaria ali melhor, em vez do que foi escolhido. Significa, também, aprender com eles para que, quando for a nossa vez, possamos optar por aquilo que nos parece mais correcto.
Se, na vida, os dias não nos permitem reescrever a história, nas histórias cada momento pode ser reescrito. E não é que a máxima da história do velho, do rapaz e do burro não se aplique (porque as escolhas que fazemos dependem de nós e ditam aquilo que produzimos) mas há uma certa “bagagem” literária que devemos armazenar para que possamos escolher.
Em tudo, existe uma necessidade de apreender as regras. Sabê-las para podermos respeitá-las ou quebrá-las. Em todos nós, existe uma propensão para um caso ou outro. Acho que muito depende daquilo que somos e do que nos propomos a fazer.
Desejar escrever um livro, e estar disposto a dar os passos necessários para o fazer, são duas coisas diferentes. Querer fazê-lo bem, depende da vontade que temos em nos empenhar na tarefa. Tal como em qualquer outra coisa, quando o sentimento é real, nenhum esforço é demasiado, nenhum sacrifício intolerável, nenhum avanço é insignificante.
Como afirmou Hemingway “There is nothing to writing. All you do is sit down at a typewriter and bleed.”, traduzindo de forma livre: escrever não tem nada de difícil, é sentarmo-nos à frente da máquina de escrever e sangrarmos. Totalmente verdadeiro, na minha opinião.
Mas, o sangramento começa antes. Muito antes. Começa ali algures no momento em que decidimos encarar a escrita com seriedade e profissionalismo. Quando cada hora roubada a quem amamos é usada em benefício desse outro amor. Quando aprender não custa, aborrece ou afasta. Quando aproveitamos cada segundo usado em prol e lamentamos cada um dos empregues em outras obrigações. E, continua, até nos despejarmos em cada página batida, em cada ideia mal concretizada, em cada sentimento usado e abusado.
Todos cometemos erros. Do profissional ao iniciante, e em todas as camadas intermédias. Mas, a nossa atitude perante esses erros é que definem quem somos. Escrever é praticar, como todas as actividades em que nos empenhamos. É aprender, executar, errar, repetir, insistir até acertar. E, nunca será perfeito mas, ao vermos os erros daqueles que vieram antes de nós e cujas obras chegaram até aqui, possibilita uma convicção profunda que, erremos muito ou pouco, todos erramos. Só depende de sabermos o que fazer com esses erros.
Sendo tudo uma questão de opiniões, próprias e alheias, há que equacionar a importância que têm para nós. Porque mesmo para aqueles que parecem não ser afectados por essas opiniões, e que parece que as ditaduras alheias resvalam neles com o mínimo de impacto, também equacionam a possibilidade da irreparabilidade dos seus actos. E, esquecendo estilo neste curto pedaço de palavras soltas, aprendemos a errar. Com os nossos erros e com os dos outros. Modelamos comportamentos de acordo com a exposição ao alheio. Aprendemos a fazer melhor quando nos empenhamos a sério em algo.
É útil ver bons escritores cometerem erros. Mas todos nós preferíamos ter nascido ensinados… e que nos poupassem as dores dos erros cometidos.
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2 comentários em “Palavras Soltas: O burro, erros e a ditadura”