“Letters to a Young Poet” de Rainer Maria Rilke

Rainer Maria Rilke

Há tanto tempo que não ia ao Chiado… Saudades! É, de facto, a palavra de 2020… se nos esquecermos de uns quantos palavrões que podíamos eleger para este elevado Cargo que foi 2020.

Para mim, o Chiado é a possibilidade de visitar livrarias e ver livros. Usados ou novos, da lojinha por cima da estação do Rossio, da magnífica Bertrand, ou da Fnac encafuada nos recônditos cantos dos antigos (agora novos) armazéns… que saudades que eu tinha (tenho) destes passeios.

Ali descobri um pequenito livro, tão à conta do tamanho da minha carteira, que tive de trazer comigo: ‘Letters to a Young Poet’ de Rainer Maria Rilke.

Nasceu na actual República Checa. Falava alemão. Escreveu em alemão e francês. Poeta, secretário de Auguste Rodin, o escultor, Existencialista e influenciado pelo Expressionismo. Podem ler alguns poemas de Rilke aqui… mas, o que devem incluir na vossa biblioteca de artes de escrita é este aqui…

‘Letters to a Young Poet’, de Rainer Maria Rilke, contém a essência da natureza de qualquer escritor através dos tempos.

São 10 cartas, escritas num período da sua vida mais tardio, em que a sua obra e as suas tendências artísticas já estavam formadas. Os seus conselhos a um jovem poeta (Franz Xaver Kappus) são os conselhos que esperei ouvir há muito tempo.

The only important thing is the ten letters that follow, important for the insight they give into the world in which Rainer Maria Rilke lived and worked, and important too for many people engaged in growth and change, today and in the future. And when a great and unique person speaks, the rest of us should be silent. – Preface by Franz Xaver Kappus

Depois de ler outras obras sobre a arte da escrita já as li, enunciadas de várias formas, concordantes ou discordantes nas suas perspectivas intrínsecas, em pequenas porções de conhecimento que ajudaram outros profissionais a perseguirem a sua verdade na própria escrita.

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Rainer Maria Rilke, nas suas Cartas a Um Jovem Poeta, com início em 1903, condensam tudo aquilo que ouvimos aqui e ali mas, fazem mais do que isto. Elas são um vislumbre real do que a vida de um escritor sério é. O trabalho de reflexão que envolve. A perseguição de uma maturidade apenas atingida pelos desafios pessoais.

You ask whether your verses are good. (…) You are looking to the outside, and that above all you should not be doing now. Nobody can advise you and help you, nobody. There is only one way. Go into yourself. Examine the reason that bids you to write; (…)  must I write? Dig down into yourself for a deep answer. And if it should be affirmative, if it is given to you to respond to this serious question with a loud and simple ‘I must’, then construct your life according to this necessity. – Rilke

Comoveu-me a forma como é óbvio, para Rilke, que um poeta (alargo aqui a aplicação para escritor) deve preservar certas coisas em si, nos seus comportamentos, na sua forma de vida. Fez-me relembrar um tempo em que não sentia a ansiedade de ver a vida passar ao lado, porque nada mais havia do que os momentos em que escrevia, sem intenções, sem barulho e sem confusões. Algo que permiti que me tirassem, ao convidar uma certa exposição pública, dos que estavam mais próximos, para o que escrevia.

In the deepest and most important things, we are unutterably alone, and for one person to be able to advise, let alone help, another, a great deal must come about, a great deal must come right, a whole constellation of things must concur for it to be possible at all. – Rilke

Rainer Maria Rilke

Levei muito tempo a conseguir regressar ao espaço onde escrevo. E, conto agora, com a ajuda de Rilke nestas matérias. A exposição à critica alheia, a solidão que devemos empreender quando perseguimos o nosso trabalho, os livros que nos ensinam e acompanham na nossa viagem pelo conhecimento capaz de enriquecer a nossa arte, permitir que o tempo nos possibilite o crescimento natural da nossa vida interior, e a contemplação da obra pelo que ela é, entre tantos outros temas, faz deste pequeno livro um guia sem comparação.

To be an artist means: not to calculate and count; to grow and ripen like a tree which does not hurry the flow (…). It will come. But it comes only to those who are patient, who are simply there in their vast, quiet tranquility (…) patience is all! – Rilke

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Tentamos viver as coisas de forma inapropriada. Rodeados de barulho e exagerando em todas as nossas experiências, adulteramos o que elas deveriam enriquecer-nos, através dos nossos sentidos. Ao invés, vivemos de distracções e de faz-de-conta que não serve a real arte.

Do not be distracted by surfaces; it is in the depths that all laws obtain. (…) love your solitude and bear the pain it causes you with melody wrought with lament (…) take pleasure in your growth, in which no one can accompany you, and be kind-hearted towards those you leave behind (…) but believe in a love which is stored up for you like an inheritance, and trust that in this love there is a strength and a benediction (…) – Rilke

O profundo, e o que nos vai no nosso interior, é o nosso foco no que é mesmo importante. A solidão é indissociável do trabalho, e da vida, de um escritor. Sentir o crescimento pessoal, que não é passível de ser acompanhado por outrém, e ser bondoso para com os que não estão no mesmo caminho que nós, e que não têm como nos compreender. Ser-lhes leal e amá-los como a uma forma de vida diferente da nossa. Não menos, nem mais, diferente apenas.

Think (…) of the world that you carry within you (…) be attentive towards what rises up inside you, and place it above everything that you notice round about (…) I know your profession is hard and goes against you (…) consider whether all professions are not like that, full of demands, full of hostility for the individual, steeped as it were in the hatred of those who with sullen resentment have settled for a live of a sober duty. – Rilke

É a devoção ao nosso mundo interior que nos deve mover. É este amor pelo que carregamos connosco que nos faz produzir o nosso trabalho. Consideramos qualquer profissão difícil. Não apenas a que escolhemos, mas todas elas o são. Escolhemos a sobriedade e o dever e muitos de nós escolhem viver com o ressentimento que essa escolha lhes causa. Porque não aceitar o trabalho que me cabe com sobriedade e dever se sei que o faço por amor?

E, tanto mais há para considerar nas cartas de Rilke a Kappus. Neste artigo, fico por aqui, mas garanto que se puderem ler, ou reler, esta obra, e se sentirem que precisam de um vislumbre sobre esta vida de escritor (poeta/artista), encontram aqui o ombro que compreende mais do que poderíamos supor, tendo em conta o tempo, e a realidade, que nos separa.

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Obrigada e Até Breve!

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