O segundo documentário dos Minimalistas está na Netflix. Dirigido por Matt D’Avella, ‘Less is Now’ continua numa viagem para ver o mundo de outras formas: através do Minimalismo.
Este é um reformular do primeiro documentário Minimalism: A Documentary About the Important Things, em que acompanhamos Joshua Fields Millburn e Ryan Nicodemus a descobrir o Minimalismo e a espalhar as suas ideias por aí.
The Minimalists: Less is Now é um reunir de experiências, de diferentes pessoas, sobre as suas experiências com o Minimalismo. É, também, um reforçar da mensagem que esta forma de vida actual tem cada vez maiores repercussões na sociedade e no planeta.
Apesar do intuito deste documentário não se prender com a interligação destas realidades tão globais, é o que acredito que acabamos a contemplar.
Não se trata apenas de deixar fora, doar ou reciclar umas coisas que temos a mais lá por casa. Não se trata apenas da insatisfação (depressão) que a “escravatura moderna” nos proporciona. Não reflecte só o quanto produzimos em excesso, para adquirirmos em excesso, em tudo o que consumimos em excesso.
Há uns tempos que temos vindo a reforçar crenças sobre o nosso real poder de compra, que acreditamos que o temos, e que isso é bom, que devemos adquirir tudo o que desejamos, que só encontramos significado pelos bens materiais que temos ao nosso dispor, que trocamos tempo de vida por coisas que não têm qualquer significado real.
Nunca em tão pouco tempo, a nossa vida em sociedade se alterou tanto. Tudo está à distância de um clique, e de um crédito, enquanto mantemos as pessoas que amamos, e a nós próprios, bem para lá de um qualquer ecrã e uma conexão real.
Num momento em que estamos, de novo, confinados às nossas casas (em Portugal, pelo menos) foi com expectativa e satisfação que vi, e voltei a ver logo de seguida, este documentário.
Primeiro, porque estive anos à espera do segundo documentário anunciado. Segundo, porque queria perceber como se adaptava esta filosofia à realidade que vivemos hoje. Terceiro, porque estava curiosa com uma qualquer evolução que antecipei nesta filosofia.
Nunca a sensação de precisar de mais espaço para respirar se tornou tão real, como quando estava a meio de um confinamento geral, numa pandemia a nível global. Assim como, nunca o lixo de ontem teve tantas oportunidades para ser reaproveitado para entreter as hostes… E, nunca a perspectiva da necessidade de reformular o que conhecemos me deixou tão ansiosa.
Há uns anos, o primeiro documentário dos Minimalistas (Minimalism: A Documentary About the Important Things) apanhou-me a meio de uma cena e fez-me pensar em algumas coisas.
Acabadinha de sair de um parto tão menos do que perfeito, e de volta a uma vida que desconhecia aquilo que exigia, dei comigo a encontrar inspiração para arrumar a tralha que compunha a minha vida diária. Apesar de nunca ter sido grande acumuladora (excepção feita nos livros…), acho que 2016 foi um ano de dispensar tralha… em mais do que um sentido.
Agora, cinco anos depois, os Minimalistas regressam e, com eles a certeza que o que vi naquela altura não se diluiu com o tempo. Acho que a nossa realidade portuguesa, culturalmente distinta, não é tão complexa como a americana, logo devemos ver esta filosofia temperada com um grãozinho de sal.
Mas, também em Portugal, observo que temos muito destes novos hábitos de consumismo desenfreado, de controle de massas através das coisas que acumulamos, de convicções e sensação de que nutrimos aquilo que não nos faz bem.
Terapia de compras não é verdadeira terapia, lamento informar. E, tento informar-me disto com alguma frequência!
Construímos uma realidade tão distinta do que era, não há muito tempo atrás. Uma que evoluiu da minha mãe, que não teve uma única boneca de trapos; para a minha irmã mais velha, que teve as poucas bonecas que a minha avó trazia de Espanha; a mim, que tive algumas bonecas (e algumas chegaram aos dias de hoje) menos dispendiosas que já se vendiam por cá; até à minha filha, que tem “à disposição” uma magnitude de bonecas, que nem eu acredito que existem.
Como mulher procuro compreender o que, no nosso íntimo, nos move em direcção a isto. Como senhora de limpezas cá de casa, considero que quanto menos para limpar, melhor. Como mãe, arranco cabelos com tantos brinquedos espalhados. Como trabalhadora “fora de casa”, não compreendo como troco o precioso tempo de vida por dinheiro, para gastar em coisas que não fazem sentido. Como escritora contemplo o que foi, é, quero que seja, o que é para os outros, e o que implica esta sociedade construída desta forma.
É uma valente treta. Com as leis da Economia a funcionar muito bem, o Capitalismo a viver às custas destas modas, e todos a rezar para que uma crise profunda (Olá Pandemia!) não torne este nosso modo de vida insustentável, quando no fundo já sabemos que o é.
Deixo outra nota sobre este documentário: Matt D’Avella, o director.
Foi com uma curiosidade enorme que, há uns anos, descobri um vídeo deste senhor no YouTube em que ele testava as maravilhas de manter uma prática por 30 dias seguidos, no caso, journallig.
Na altura, vi uns quantos vídeos, e acho que foi uma escolha bastante coerente para a direcção deste documentário. Espreitem o Canal YouTube de Matt e o website.
Porque escrever, e não ter noção do que o mundo vê desabrochar, não faz sentido.
Aqui ficam os recursos para poderem contemplar o Minimalismo, espreitando uns websites relevantes:
Vejam o documentário e digam-me lá o que acharam.
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