Receitas de Sucesso são mentiras

receitas de sucesso são mentiras

Por vezes, pensamos que para confeccionar um bolo basta saber seguir uma receita. Afinal, seguir as indicações que nos são dadas parece ser a melhor forma de fazer qualquer coisa, enquanto garantimos um mínimo de resultados.

Mentira.

Para confeccionar um bolo, obtendo bons resultados… que não se queime, desmanche, fique com grumos na massa, maior de um lado do que do outro, e afins… é preciso saber mais do que o que vem numa receita.

Oh! Levei anos até descobrir alguém que me ensinasse a dissolver folhas de gelatina na perfeição, sem grumos. Simplesmente, eu não entendia o conceito!

Mentira porque…

Primeiro, não somos bons a seguir instruções à risca. Há sempre aquela coisinha que fazemos diferente, aquela precipitação ou demora. Mesmo quando pensamos que somos bons a seguir instruções, acabamos por moldar a receita aos nossos modos, alterando aqui e ali, e mudando o equilíbrio da fórmula, por vezes, de um modo fatal.

ruído de pessoas

Segundo, porque há todo um conjunto de saberes envolvidos que não vêm na receita. Há certos actos que a experiência nos confere e que, a partir do momento em que já cozinhamos há uns anos, sabemos de forma natural. Aprendemos com todas as experiências culinárias, em especial, com a montanha de falhanços que cozinhar nos proporciona.

E, quem lê/vê receitas, conhece os termos que definem certos actos sem ser preciso estar, constantemente, a explicar aquilo que faria parte de uma outra receita por si só.

Terceiro, porque há sempre uma diferença de material, de circunstâncias, de atenção ao que estamos a fazer e, até mesmo, das mãos que estão a confeccionar a receita, aspectos que têm um impacto real no desenlace do artigo alimentar. E, qualquer diferença pode impactar, de forma desastrosa, a prossecução da arte de confeccionar um bolo.

Por isto tudo, e mais, seguir uma receita não nos garante o sucesso no resultado. Tal e qual, como em qualquer outra área da nossa vida.

Ter um conjunto de instruções a saber, e seguir, não nos garante qualquer tipo de resultado. O que as instruções nos proporcionam são um guia, um professor, um ensinamento, mas a partir dali, estamos por nossa conta, com as ferramentas que as nossas experiências, e imaginação, nos proporcionam.

bolo
Imagem no artigo na Revista Crescer

Técnica salva-nos da Desistência

Ensinaram-me a cozinhar em miúda. Numa junção de saberes que me foram passados, aos poucos, por uma mãe, um pai, uma avó e uma irmã. A partir dali, segui receitas por livros, ouvi outras pessoas falarem sobre este ou aquele prato, procurei esclarecer, quando pude, como se fazia diferente as coisas que me dificultavam certas receitas.

Inventei umas quantas sobremesas, pelo caminho. Só porque, de repente, era mais fácil combinar o que eu já sabia, com o propósito de lhe dar um cunho pessoal, e usar o que havia na despensa.

Mas a técnica, aquela que se aprende com muitos anos de estudo afincado, aquela com que se contacta na escola formal, aquela que nos eleva nas próprias criações, essa precisa de um estudo mais focado.

Saber como se faz, ajuda-nos a fazê-lo. Mesmo se a quantidade de prática continue a ser da nossa própria responsabilidade.

receitas de brigadeiro
Imagem de artigo no Receitas de Brigadeiro

Quando nem a Técnica nos salva do resultado?

Nunca soube fazer arroz como os outros gostam. Nunca saberei. E, surpresa! Não gosto desse tipo de arroz. Gosto de arroz bem cozido e cheio de molho, qualquer molho, não importa qual.

Há técnicas para fazer arroz. E, acreditem que não me faltaram críticas ou receitas. Era suposto a técnica ajudar-me a fazer arroz… nem com a Yammi, o meu arroz à-moda-dos-outros era tragável.

Só não desisto de fazer o arroz de que gosto, mas já não o faço para os outros. Faço arroz de que gosto. Quando tenho de o servir aos outros, compro feito. E, não faz mal.

Valerie Lin
Valerie Lin em ‘Loneliness improved my Art and Mindset’

A Receita…

Por vezes, pensamos que para confeccionar um bolo basta saber seguir uma receita. Por vezes, aprendemos as receitas e não conseguimos fazer o bolo. E, por vezes, é a nossa própria receita, o nosso cunho pessoal, que eleva o bolo.

Mas, primeiro precisamos da base, das fundações, de saber as técnicas que sustentam a prática. Depois, precisamos fazê-lo muitas vezes. Apreciá-lo. Mudar o texto da receita consoante consideramos necessário. Aperfeiçoá-lo pela prática.

E, entretanto, vamos apreciando e degustando. Vamos aprendendo as técnicas e praticando. Vamos colocando de nós próprios na confecção daquela obra… seja ela qual for.

Tal e qual como em qualquer arte. Tal e qual como na vida.

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Referências:

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