Tóxico é produtivo. Será? Hoje, o tema desta Pausa é um bocadito mais pesado (ou intenso). Há umas semanas, cruzei-me com a formulação de um conceito que fez os meus sininhos interiores dispararem em alerta.
Os meus sininhos são do tipo de alerta que o Homem-Aranha recebe, quando o perigo se aproxima. Úteis para saber que algo não está bem, mas inúteis para identificar qual é, na realidade, o perigo… ou como evitar.
O conceito é conhecido por: Produtividade Tóxica.
E, os meus sininhos (sensores de perigo) soaram em reconhecimento.
Ser Produtivo, ser aquele que produz muito, que demonstra muitos resultados, cuja acção é lucrativa, cujo trabalho representa um acréscimo de valor.
Podemos reformular este conceito de várias formas. E, podemos atribuir conotações a este termo. Contudo, não é a Produtividade em si que possui um valor. É aquilo que fazemos para obter esse produto.
Antes falava-se de Escravatura. Hoje, existem verdadeiros fenómenos sociais, em que as pessoas escolhem matar-se no processo de produzir qualquer coisa (karoshi).
A cultura de “ser-se produtivo em quantidade que nunca é suficiente”…
Acontece quando acreditamos que é preciso viver num ritmo constante de produção desenfreada. Quando não nos permitimos tempo para as outras facetas da nossa vida, como a familiar, por exemplo.
E, como é muito fácil entrar neste ritmo de excessos, é preciso encontrar um equilíbrio na nossa forma de, eficientemente e eficazmente, fazermos O nosso trabalho.
Porque qualquer coisa que se defina como tóxica é sempre má. E, ser-se tóxico, e engrandecer-se a cultura de toxicidade é sempre mau… para todos.
A única forma de ver algo de positivo na toxicidade é se o objectivo for eliminar tudo em volta. Aí o sucesso da toxicidade é imperativo.
Mas, supondo que queremos medrar ou prosperar, ao invés de poluir e incapacitar, é preciso atentar ao que estamos a colocar no mundo e de que formas.
Estar atentos ao que exigimos de nós próprios e daqueles que nos rodeiam… e, quais os motivos dessas exigências.
Por vezes, é difícil saber o que é toxicidade. Somos empurrados a acumular tarefas, em cima de responsabilidades, em cima de necessidades, sem nos apercebermos que estamos a calcorrear um caminho perigoso.
Por vezes, esses caminho leva-nos a produzir grande quantidade, durante um espaço de tempo e, depois, acaba-se o combustível e o produto do que fazíamos perde qualidades.
Outras vezes, incapazes de reconhecer que já só estamos a funcionar com fuminhos de combustível (é! eu vou com esta analogia até ao fim do argumento) convidamos a doença a entrar, e forçar-nos a parar.
Muitas vezes, acreditamos que o fornecimento desse combustível será eterno, e que não terá variações de preço, ou no consumo. Vá!, podem rir-se à vontade, pois não há nada que sempre dure, nem coisa que nunca se acabe… boa ou má.
Sendo o próprio combustível perigoso (inalações e coisas que tais), acreditamos que não é preciso compreender de onde ele vem, e a necessidade real que temos de gerir a sua utilização. Mas, como aquilo em que costumamos acreditar, recorrentemente, tem pouca fundamentação científica, acabamos em situações indesejadas.
Esta auto-estrada desprovida de placas de sinalização, ou limites de velocidade, é um caminho que queremos aceitar, que percorremos com intento, mas que por vezes, falhamos em reconhecer que o sininho de alerta há muito que disparou, e que estamos a circular alimentados a fuminhos de combustível.
Querer produzir o mais possível, de uma forma (desumana) regular e constante, sem pausas de recuperação, sem planos que incluam todas as facetas da nossa vida, e não apenas aquela que nos venderam que devemos mostrar e asseverar, sujeitar-nos a ambientes que são tóxicos para a nossa natureza pessoal, são realidades que estão aí e que favorecem a nossa inclinação humana para sermos tóxicos, até quando só queremos ser mais produtivos.
Reconhecendo todos estes padrões e, ciente que muitos outros me passam despercebidos, não sei bem como podemos mudar esta realidade. Ser-se tóxico-produtivo é um início que leva a não se criar nada de bom, novo, útil.
Produtividade Saudável é imperativa
Uma Produtividade Saudável, em que se aprende a gerir o tempo de forma sábia, em que nos disciplinamos a cumprir horários, para produzir e para descansar, e em que nos focamos na miríade de eventos que são importantes, nas diferentes áreas das quais a nossa vida é feita (trabalho, família, amigos, saúde, divertimentos…) parece-me uma abordagem bem melhor.
Agendar o momento de pausa semanal é ser-se produtivo em favorecimento de todas as facetas da nossa vida.
Usemo-lo bem, seja ao Domingo, ou noutro dia qualquer.
desejo-vos uma excelente pausa de Domingo!
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Referências:
- Sentido do Homem-Aranha
- Definição de Produtivo e Tóxico
- Definição de Escravatura
- Definição de karoshi (Japão)