Toda a obra tem um Tema

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Toda a história tem um tema. Profundamente intelectual, ou um tema simples, não formulamos nenhum pedaço de literatura relevante que não possua um tema que a sustente.

Quando passamos bastante tempo, diria anos, dedicados à nossa escrita, começamos a compreender como se produzem determinados clichés, ou figuras de estilo que se repetem para formar um género reconhecido.

Tem-se falado bastante de Literary Tropes (que procurei traduzir, mas não arrisquei inventar!) que funcionam como guias para histórias de cada género literário.

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Ouvimos falar dos Temas. Lemo-los a eles, e sobre eles, até à exaustão, sem compreendermos muito bem o que significa ter um Tema que é nosso, pessoal, trabalhado através da nossa escrita de uma forma individual.

Com o tempo, estudamo-los mesmo se de formas insuspeitas. Encontramos os Temas nos materiais que consumimos, naqueles que procuramos produzir e, um dia, sentimos o click, e reconhecemos que integrámos aquele conhecimento nos nossos textos.

Nesse momento, não sabemos como havia sido possível viver sem ele.

Acredito que, só no discorrer do tempo, com uma prática constante, abstraída do dever, mas iluminada pela vontade, obtenho a compreensão do que um Tema pode ser, em toda a sua magnitude.

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Em traços largos: cada obra significa algo para além da história que está a contar. A esse significado chamamos Tema. Esse tema não tem de ser intelectualmente profundo, e não o inventamos do ar. Por isso, devemos contar uma grande história, e preocupar-nos com a poderosa experiência emocional, que desejamos dar ao leitor. Se o tema for emocionalmente profundo é bom, se conseguirmos que seja também intelectualmente profundo, melhor ainda.

Ouvimos os familiares “mostra, não contes“, ou “ponto de vista da personagem“, ou “voz de escritor“, ou “tema“, e procuramos saber o que significam. Tentamos reproduzir, perseguindo a prática que nos parece sempre ficar tão aquém daquilo que desejávamos que fosse.

Contudo, um dia, quando estamos imersos num qualquer trabalho (escrito, entenda-se), começamos a saber corrigir o que saiu de involuntário, e menos correcto, no primeiro rascunho. Porque, de súbito, reconhecemos o erro, e é impossível não o notarmos.

Ontem, li a seguinte citação (acho que reli porque o autor já a tinha citado noutro livro):

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Ou seja, assim que descobre qual é o tema da peça de teatro, que está a escrever, escreve-a num papel e cola-o em frente à máquina de escrever. Depois disso, nada entra nessa peça que não pertença a esse tema.

  • Perguntamo-nos sobre o que é o projecto em que estamos a trabalhar?
  • Qual é o seu tema?
  • E, se todos os elementos servem esse tema?

A princípio, claro que não. Mas, à medida que vamos construindo a obra, devemos fazê-lo e ajustar os nossos actos, consoante as nossas respostas.

E, no espírito de aprender com diferentes actividades criativas em que vou participando, há uns dias respondi a duas perguntas que me fizeram repensar o tema do Tema.

[o desafio é no Instagram, chama-se #WriterFriendsChallenge, é promovido por @susanleighneedham e @thatsrahelynn]

As duas perguntas são:

  • Porque é esta história importante?
  • Apresenta a história em 10 palavras ou menos.

Passei um bocado interessante a reformular, para colocar em papel versão Instagram, aquilo que acredito ser o Tema da história em que estou a trabalhar

Sim, o Tema é importante. E, sim, enquanto estamos a construir uma história, por vezes, sabemos o que queremos que ela seja mas, só após um bom rascunho é que podemos verificar se concretizámos o Tema que imaginámos para ela.

É importante voltar ao que fizemos, e avaliar se respeitámos o Tema que havíamos identificado ao início, ou se se desviou para outros temas. Avaliar se precisa de apuramento Temático (nos pormenores, por exemplo), de revisão mais extensa, ou de reformulação de partes que ajudem a concretizar o Tema.

Por exemplo, o ‘Amor é o Sentimento Mais Importante do Mundo’, mas depois a história não trabalha esse tema de forma a entendermos que o ‘Amor é o Sentimento Mais Importante do Mundo’, ou o que acontece quando as personagens perseguem outros temas para além de ‘Amor é o Sentimento Mais Importante do Mundo’.

Seja qual for o género literário, seja qual for a história, seja qual for o formato da narrativa, há um Tema. E, se não há, tem de haver.

A profundidade dos temas diverge. É verdade!

Mas, uma boa história tem de ter um impacto emocional. O Tema tem de ser importante. E, ambos, têm de atingir o leitor.

write a great story

Os Temas que costumamos escolher, por tradição, têm tudo a ver com quem somos. As coisas que são importantes para nós, os nossos valores, aquilo que observamos mais profundamente, e sobre as quais gostamos de escrever.

Pessoalmente, e em jeito de exemplo em não-ficção, gosto muito de escrever sobre a Escrita, sobre procurar escrever com qualidade, procurar compreender a parte mais artística da arte da Escrita. Este é um dos meus Temas.

Quanto aos géneros literários, existem fórmulas que nos podem guiar na perseguição da nossa história… mas que também podem afastar-nos de criar um real impacto temático com a nossa história. Lá porque se escreve assim, não quer dizer que devemos escrevê-lo sempre com a mesma fórmula.

Acredito que, só a pessoa que escreve a obra pode almejar melhorar a fórmula.

Outra ideia sobre o Tema que muito me cativou…

Há quem diga que, quando aprendemos a formular o Tema, ele acaba por transparecer em todas as nossas obras.

Ou seja, é como se ele fosse próprio e individual, e repetimo-lo, procurando aprofundá-lo em todas as obras que criamos. Assim, o Tema é tido como a nossa essência. É a nossa pergunta individual, que carregamos connosco.

Gosto desta ideia! Dá-me uma ideia de melhoramento possível, de continuidade da nossa obra, de trabalhar para melhor compreender o Tema que carrego comigo. É bonito!

Como vão os vossos escritos? Costumam definir um Tema para as vossas obras? Estão a participar no NaNoWriMo? Como vai o vosso desafio?

Obrigada e Até Breve!

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Referências:

 

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