Escrever e Publicar. O processo criativo de escrever um livro.

escrever e publicar

Olá a todos. Sejam bem-vindos a esta [pausa de Domingo]… à segunda-feira (feriado, por cá).

Há tantas formas diferentes de fazer algo, como existem diferentes formas de ser. E, com isto em mente, tento organizar o que penso sobre as diferentes formas de planear e escrever um livro.

Quando acompanho os processos criativos de autores de tempos menos recentes, encontro práticas que se manifestam todos os dias, ou na maioria deles, e que envolvem um construção orgânica do trabalho em si.

Escrevem, e vivem de formas que alimentam, e complementam a sua escrita.

Escrevem e reúnem os textos que usam para construir as personagens e a história que imaginaram, assim de uma forma que, muitas vezes, me parece natural e orgânica.

Tempos houve em que, pagos à palavra ou ao excerto de texto entregue para publicação, a criação textual parecia seguir a necessidade de colocar o trabalho no mundo. Também, muitas dessas obras passaram do mundo publicado para o mundo da obscuridade. Uma realidade que os mercados da época impuseram, mas que conheceram obras de excepção, e que nos chegaram séculos depois.

Mas, de uma forma geral, as obras que passaram à biblioteca da humanidade foram produzidas em tempos que pareciam exigir uma dedicação mais orgânica ao que se escrevia.

Claro que, assim como em tudo, existiram muitas desigualdades entre as realidades dos escritores, e diferenças entre eles, e as formas como compreendiam e executavam as arte da produção literária.

No mesmo respeito entre as diferenças dos mercados editoriais locais (cada país tem uma realidade), e acompanhando os processos criativos dos escritores que se apresentam com maior projecção e vendas, com menor, ou mesmo os desconhecidos que falam sobre as suas realidades online (alguns sem ou com poucos livros comercializados, mas outros com muitos…) existe uma panóplia de estados que me provocam muitas curiosidade.

Escreveram um livro e encontram-se a trabalhar nos subsequentes. (ou) Possuem alguns livros publicados e continuam na batalha pela produtividade. (ou) O catálogo de publicação chega a atingir os dois dígitos (40 ou mais livros) mas são, virtualmente, desconhecidos do grande público. (ou) Possuem um livro, ou vários, nas grandes listas de reconhecimento mundial e social mas, a verdade é que, essa menção não os distingue de todos os outros. Só mais um livro do qual se disse que era um bestseller, por motivos que envolvem mais do que a capacidade do trabalho cativar uma grande parte da população leitora. E, por fim, aqueles que produzem/publicam um, dois, três e até mais livros por ano, num ritmo que nos pode deixar a pensar se conseguiram transformar a arte numa fábrica de produção ritmada, consistente e sobre moldes.

E, suponho que, muitas mais realidades haverão.

Partilhem connosco a vossa realidade, nos comentários em baixo por favor. Será muito apreciado.

A verdade é que a literatura também evoluiu, assim como as características das pessoas que lêem.

Novos géneros literários, que surgiram nos últimos vinte anos, possibilitaram formas diferentes de consumo. Assim, como os formatos que os leitores preferem.

Gostamos de ler vários livros com as mesmas personagens. Seja a mesma história repartida em vários volumes (trilogia), ou contadas de forma extensa e pormenorizada (séries/universos).

Gostamos de ler esta fantasia ou aquela, neste universo ou naquele, com personagens ficcionais específicas (vampiros) ou com características de desenrolar da história repetidas (tropes). Gostamos, e repetimos, quantas vezes forem necessárias para o leitor que há em nós.

A mudança das características da atenção humana também tem um papel interessante na produção literária.

O loop infinito de consumo de conteúdos curtos, ou o loop infinito de consumo de conteúdos semelhantes, e o consumo de certas formas de conteúdo cheios de momentos desenhados para capturar o interesse do leitor na acção, e não tanto na intenção da acção, ou nas repercussões dessa acção. Parece que não passamos muito tempo a pensar em alguma coisa, quanto mais nas consequências de actos, moralmente, duvidosos.

Ou, a necessidade de se aparentar ser leitor, quando os conteúdos sociais assim o exigem. O consumo apressado, se existente, de um livro, para a seguir consumirmos o seguinte, sem um momento de pausa ou reflexão sobre o que se leu.

Afastei-me de exemplos, de forma intencional. Não proponho que se atribua Valor ou que se faça Comparação entre obras, ou diferentes momentos históricos na produção literária. Não é essa a intenção deste curto texto.

O que proponho aqui, e aquilo em que ando a reflectir há décadas, é no reconhecimento do processo criativo. Reconhecer o que foi. Reconhecer o produto de época, de cada época… E, reconhecer o que é, e qual o produto que a nossa época gera.

Não apenas no que consumimos, mas no que construímos. As expectativas que gerimos em nós, com a forma como produzimos o nosso trabalho criativo. O crescimento pessoal na busca por contemplações e respostas.

A aproximação que fazemos a um projecto de criação literária (ou outro), e como o fruto desse trabalho advém da forma como fazemos o trabalho.

As fórmulas funcionam, até um certo ponto. A compreensão do que vivemos é material essencial. Conhecer o que veio antes de nós e as suas realidades históricas particulares é inspiração curiosa.

Mas, como relegamos a influência dos Outros, seja mercado, leitores ou circunstâncias, para a posição que devem ter? Como encontramos o nosso próprio processo criativo que, por vezes, muda de obra para obra, consoante o tipo de construção literária? Como combatemos a tendência para abreviar e não aprofundar?

Como aparecemos para o nosso trabalho, sem qualquer garantia de sucesso na sua construção?

Pois, é o que fazemos, certo?

Aqueles que compreendem, e dominam, o sistema instituído de produção literária continuam a ter de aparecer para o processo criativo e, podem sair da obscuridade, porque produzem quantidade de qualidade relativa, mas serão reconhecidos e analisados dentro de um século?

E, o que penso sobre a tomada de posição da IA? Quanto do trabalho fabril uma IA produz? Como é que isso afecta quem escreve nos diferentes contextos? Quanto produzimos sem retorno de qualquer espécie? (Olá, algoritmos e social media?!)

Ainda não sei… e, é algo a contemplar com seriedade e alguma relatividade.

Respostas. As vossas.

Isto é o que proponho para esta [pausa de domingo] à segunda-feira, que pensem no processo criativo que funciona para vós. Que funciona para este projecto criativo. Aquele que é o vosso processo de criação literária mais natural para o processo a decorrer.

Obrigada e Até Breve!

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2 comentários em “Escrever e Publicar. O processo criativo de escrever um livro.”

  1. A criatividade barra sempre com um medo, que é o de de escrever, porque surgem sempre duvidas na comunicação escrita, em respeito, especialmente, à estrutura gramatical da própria frase.

    1. Olá, António. Como arte que é, e ao fim de uns anos, suponho que conseguimos ignorar esse medo. Sim, não desejamos errar de uma forma que possa soar a falta de conhecimento gramatical. No entanto, acabamos por desenvolver o nosso estilo (para cada tipo de formato em que escrevemos) e esses medos desvanecem-se na certeza de que estamos a escrever “como somos”, e não para o teste de Português. É continuar, e ignorar o resto. Não será isso que nos impede de escrever, certo? 🙂

      Obrigada pelas suas palavras, António. Deram-me no que pensar sobre o tema…

      Até Breve!

      Sara

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