Ler em Quantidade é Essencial…

ler em quantidade

Ler em quantidade é consistente com conectar-mo-nos com o material de leitura?Esta ´e uma das perguntas que me tenho colocado, e sobre a qual quero reflectir.

Mas, primeiro, o que é ler em quantidade? E, segundo, o que significa conectar-me com o material de leitura?

Ler em Quantidade

Ler um elevado número de livros durante, um longo período de tempo, mantendo uma prática de leitura bem acima da média… ou, desproporcionalmente, acima da média.

No site da Marketeer encontrei o seguinte: Os jovens portugueses lêem livros?Este é um artigo com uma amostra e metodologias que não se aplicariam a um estudo de toda a população, e no entanto dá-nos um número de total de 5 livros num ano, que parece coincidir com as restantes informações pesquisadas.

Recomendo o artigo Leitores de livros em Portugal. Uma prática cultural em transformação por Miguel Ângelo Lopes, José Soares Neves e Patrícia Ávila.

No portal do Instituto Nacional de Estatística encontrei o seguinte,  os dados precisam de maior enquadramento, e referem-se a 2007.

Concluo, então que os Portugueses não lêem livros em quantidade. Mas, exposta que estou aos criadores de conteúdos online, e aos seus hábitos de leitura, há por aí muitas pessoas a ler em quantidade e que não fazem disso um segredo.

Para mim, ler em quantidade significa consumir livros, uns atrás dos outros, sem grandes pausas pelo meio, acumulando totais de três dígitos, e mantendo o ritmo, e quantidade de leituras ao longo de vários meses.

Pessoalmente, acho que não me enquadro. Raramente chego aos três dígitos, escolho as minhas leituras com cuidado, em diversos géneros literários, mantendo a prática de ler vários livros em simultâneo e não leio só para obter o número. Ou gosto ou não termino de ler.

E, de vez em quando, passo vários dias em que não leio. Sem contar que o conceito de Ler em Quantidade, numa cultura que desvaloriza a leitura, me incomoda.

Conexão com o Material de Leitura

Para mim, conexão com o que lemos implica ler, anotar, ilustrar, ler obras escritas sobre essa obra por outros autores e estudiosos, procurar imagens e dados sobre a obra, esse mundo e as personagens.

Significa criar uma relação pessoal com o material que lemos, e que nos ajuda a assimilar a obra, de uma forma mais completa.

Conectar-me com os livros que leio é importante para mim e, no entanto, nem todos os livros exigem essa necessidade de investimento pessoal. Alguns tomam-me de assalto e torna-se imperativo reler, anotar, escrever sobre, reunir outro material relacionado, investigar mais sobre os temas, recolher imagens ilustrativas, ou qualquer outro modo de conexão com a obra, o autor, a obra produzida por outros que amaram o livro original. Outros, nem por isso.

Adiante…

Claro que, muitas perguntas há que se relacionam, directamente, com a acima.

Como, por exemplo: Porque estamos a ler? Qual o objectivo pessoal, que nos leva à leitura, como uma prática consistente e persistente? Ou, o que significa ler em quantidade e em Qualidade? Ou, devemos traduzir em números (contabilidade), aquilo que se quer que seja em relevância temática? Ou, o que conta como leitura nos domínios do seu formato e do género literário (ou não literário)?

Como estou em modo “Interagir com o material” (…)

“Interagir com o material significa ir mais fundo, investigar, descobrir, brincar…” — como escrevi no artigo ‘Porque não pude parar de investigar — Conexão com o material de leitura’

Porque não pude parar de investigar — Conexão com o material de leitura

(…) estas são perguntas que carecem de uma resposta.

Há uns anos, e após descobrir o desafio de leitura do Goodreads, em que no início de cada ano estimava um objectivo para a quantidade de livros que desejava ler, que a consciência, e a preocupação, com o atingir desse alvo, era algo que me acompanhava durante todo o ano.

Claro que, nos anos em que a vida se mostrou mais complexa, como no ano em que nasceu a minha miúda, que foi impossível cumprir qualquer estipulação feita antes de ter noção das possibilidades do ano corrente.

Mas, usar este desafio como forma de estipular um objectivo — público — para o que desejo ler também teve a sua curva de aprendizagem.

Antes de ter esta preocupação estatística, não fazia a mínima ideia de quanto (ou mesmo o quê) lia durante um ano. Precisei de uns anos para perceber qual é a minha média e para me libertar da noção de que a importância estava em atingir um total.

Em simultâneo, nunca fui amiga de batotas pelo que, também nisto, estipulei objectivos e tentei cumprir sem recorrer às artimanhas possíveis para atingir totais, ao invés de absorver o material que gostava, ao meu ritmo, qualquer que fosse o seu comprimento. Comprimento em cumprimento 😀

Depois inseri os audibooks nas minhas rotinas. Digo-vos que, para mim, muitos livros há que só são digeridos neste formato, enquanto outros não podem ser nunca consumidos via audio e, ainda, que há releituras que pedem audiobook como nunca, nada mais o fará. Este formato ajuda nos números, mas dificulta na apreciação dos pormenores do material, pelo que escolho-os com cuidado e troco para papel ou e-book quando considero que a leitura da obra o requer.

Este ano, cruzei-me com a informação de que certas pessoas estipularam o objectivo de um livro por ano, como forma de protesto sobre a noção que ler em quantidade é o objectivo.

Fazem muito bem em protestar, se é isso que sentem. Assim como, apoio a ideia de que lerem só por ler, e em quantidades que não permitem reter seja o que for do que leram, não é a actividade mais positiva ou sequer saudável.

Bom, é sempre melhor do que fazer qualquer outra coisa sem limites (como comer, beber, fumar ou algo parecido…). No entanto, o consumo do livro deve ter as nossas motivações pessoais. Devem ler porque apreciam a actividade e lhe encontram valor pessoal.

Entretanto, enquanto lia o ensaioSelf-Concept Change and Self-Presentation: The Looking Glass Self Is Also a Magnifying Glass’ por Dianne M. Tice, confirmei a ideia que os nossos comportamentos públicos têm maior impacto do que aqueles que permanecem em privado, e que reforçam a nossa vontade de persistir numa dita actividade. E, que nós aprendemos a ver-nos de uma determinada forma, em consistência com esses comportamentos e escolhas que exibimos de forma pública… entre outras ideias recolhidas dos estudos efectuados.

Ou seja, ao manter um objectivo de leitura que é público, no qual se falha ou se tem sucesso, incentivamos a nossa busca por esse objectivo.

Mas, há algo aqui que me tem feito hesitar.

Por um lado, exibir certos objectivos em público é algo que me incomoda. Acho que fomenta a mentira e o engano propositado. Porque, no fim, não queremos falhar e muitas pessoas há que acreditam no poder das pequenas mentiras. Depois, porque as pessoas que estabelecem objectivos irreais, que nunca saberemos se foram, de facto, cumpridos, influenciam os outros e difundem a sensação de que a maioria de nós está a ficar para trás, numa mentalidade de escassez e competição. E, não nos faltam frustrações reais, dispensamos as de mentira. E, por fim, porque os meus objectivos de leitura (ou quaisquer outros) são pessoais e desenhados por mim e para mim. Se o meu objectivo for um único livro de romance, livro lido seria objectivo cumprido. Eu defino, mais ninguém.

Pessoalmente, leio porque gosto, porque quero saber mais, porque encontro satisfação, valor, companhia, e todo um conjunto de sentimentos de que gosto de sentir e que os livros me proporcionam. Leio porque acho que aprenderei a escrever melhor quanto mais os livros me envolverem.

E, penso que isto aplica-se a tudo aquilo que fazemos nas nossas artes. Não é bom para nós, compararmos o nosso interior (aquilo que somos capazes de fazer de facto) com o exterior dos outros (a imagem que é passada sobre quem são e o que fazem).

Por outro lado, e de uma forma puramente pessoal, expor-nos publicamente incentiva-nos a continuar a perseguir certos objectivos. Pode ser uma forma de auto-motivação (não de auto-punição), que nos impele a perseguir um dado objectivo.

Ocorre-me o malfadado NaNoWriMo. Estou a viver um momento difícil com este tema. Ainda não apaguei a minha conta, mas estou solidária com as vítimas deste website e destas pessoas, que trabalham no dito, e que merecem castigo.

Falharam-nos a todos nós, que contavam com o NaNo para os seus propósitos decentes e genuínos.

E, na verdade, eu contava com este desafio para, de uma forma mais pública, me incentivar a escrever as 50 000 (ou as que eu conseguisse encaixar) palavras num rascunho zero do livro que estava a escrever no momento. Agora, sinto-me um bocado perdida…

Em 2024, após considerar o que vou fazer com o que transpirou, preciso arranjar uma alternativa que me sirva e aos meus esforços de escrita.

Alguém tem sugestões? O que vão fazer os membros do NaNo nos servidores de Discord portugueses?

Fazer algo em quantidade é uma forma de nos conectarmos com o material? Seja em escrita, em leitura, ou em qualquer outra actividade?

A execução repetitiva, e continuada, é uma forma de não imaginarmos como viver sem a rotina e fomentar a prática constante. Por isso suponho que a quantidade pode ser uma forma de nos conectarmos com o material. E, conhecer o meio em que nos movimentamos, os livros, os autores, a História, as épocas e os costumes que lhes são associados, proporciona-nos um tipo de conexão que só a quantidade torna possível.

Mas, sabendo que existem certas memórias (musculares e mentais) que, ou se formam jovens ou já não se formam de forma comparativa (em The Role of Deliberate Practice in the Acquisition of Expert Performance), parece-me irreal acreditar que a ligação que formamos com uma actividade pode ser aprimorada pela execução em quantidade. Pelo menos, se não envolvermos os recursos mentais necessários para que ela seja, no seu excesso, proveitosa.

E, a conexão com o material em si, depende de várias coisas, e algumas delas não são facilmente identificáveis. A preferência pessoal — o gosto — é uma delas e tem um grande papel nas nossas escolhas, e não é regrada é… pessoal. Uma escolha que se quer despreocupada e que é, na sua essência, livre.

Assim como, o que retiramos do material que lemos é produto da nossa lente pessoal, daquilo que vemos, da forma como somos, ou da influência de quem somos naquilo que vemos. Também isto é pessoal e específico a quem somos.

Por isso, pessoas haverá que lêem ao quilo, e que absorvem, e conectam-se, e relacionam o material de formas diferentes daqueles que precisam de mais tempo, e de outras formas para entenderem, e criarem relações pessoais com o material que estão a consumir.

E, cada obra convidará a uma atenção especial, de acordo com a pessoa, e a fase da vida em que esta se encontra.

Estabelecer metas de fábrica automóvel, nos inícios dos 1900, para aquilo que desejamos ser um meio de transporte customizado para nós, é esquisito e pouco intuitivo e, mesmo, contra-producente.

E, no entanto, os escritores precisam de largos blocos de tempo para praticarem a sua arte, e alimentarem as suas inspirações, e adquirirem conhecimentos. Mas, é este tempo que nos conecta com o material de escrita e de leitura de formas, por vezes, imprevisíveis.

A Quantidade é, assim importante. Possibilita que encontremos a parte fundamental que nos escapa se não investirmos em maiores esforços. Expõe-nos a um maior manancial de experiências. Faz-nos encontrar pontos de conexão que, se nos mantivéssemos no superficial, nunca surgiriam.

Já a Qualidade dessa Quantidade, e o que trazemos dela, só depende de nós, construtores criativos, leitores, criadores, observadores.

Qualidade, Quantidade, Conexão e Interagir com o material. E, é o conceito perfeito!

O que fazem para se conectarem com o material que consomem? Comentem, em baixo…

Obrigada e Até Breve!

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