Superar o Bloqueio Criativo

superar o bloqueio criativo

Olá! Sê bem-vindo a este [recursos do escritor].

Para começar, quero agradecer os comentários simpáticos que recebo, amiúde, neste espaço. Este é o verdadeiro retorno que sinto deste blog, o vosso apoio através dos comentários, da leitura e da subscrição por email.. Por isso, repito: Muito Obrigada, a esta Comunidade de Construtores Criativos.

Relembro que, no fim de cada artigo há uma caixinha onde podem deixar os vossos comentários e que, conexão, perguntas e pensamentos positivos são, sempre, bem-vindos.

Neste artigo, quero escrever (-vos) sobre o bloqueio criativo e, como o caminho de superação pode ser longo e árduo mas, de sucesso.

Não é a primeira vez que publico algo sobre o bloqueio do escritor aqui no blog. O que mudou? Tempo e a experiência que ele trouxe. Por isso, vou listar algumas descobertas, as pequenas verdades, que me serviram no pico mais dramático da minha experiência.

paradox series
Paradoxos… e, esta é a série Paradoxos da Skullpanda.

Reconhecer o problema

O que é um bloqueio criativo? (Seja de escritor, ou de qualquer outra actividade criativa.) O bloqueio criativo acontece quando chegamos a um ponto de exaustão, em que não conseguimos continuar a exercer o trabalho criativo, com regularidade.

Sejamos profissionais de uma qualquer área, ou curiosos que se dedicam nos seus tempos livres a uma actividade criativa, podemos — mais que certo! — viver momentos em que já não conseguimos exercer as tarefas com facilidade. E, mesmo, chegarmos a vários meses, ou anos, em que não conseguimos, de todo, regressar à prática da actividade.

Bloqueio de escritor ou bloqueio criativo… há quem acredite, quem duvide, quem sofra com ele, quem não consiga conceber a sua existência. Neste [recursos do escritor], quis partilhar o que sei sobre o assunto, o que experienciei, o que penso sobre ele, e como luto para sair dele, todos os dias da minha vida adulta.

Não duvidem que este bloqueio existe. E, normalmente, os motivos que o regulam são difíceis de identificar e gerir.

Acreditemos, ou não, nesta incapacidade de criar algo, — de fazer o trabalho, onde achamos que o nosso coração está, — acho que todos nós reconhecemos momentos, em que não conseguimos avançar com normalidade, e não sabemos bem porquê.

Superar um bloqueio criativo é um feito hercúleo. E, estejamos empenhados em ir descobrir, porque o nosso subconsciente se tornou tão barulhento, que não nos deixa regressar ao trabalho criativo, ou acreditemos que é algo temporário, que só precisa de um espaço para respirar, não há como ignorar que existe uma situação que precisa ser atendida pelo pensamento consciente.

Reconhecer que se passa algo é, sempre, a única forma de tentar solucionar o que não está a correr como desejávamos. Esconder só piora a situação.

café
Café é sempre uma opção.

Atender às necessidades especiais

Depois de, mais ou menos, identificados os motivos de tamanha montanha estacionada no nosso caminho criativo, é tempo de lidar com eles.

E, durante uns tempos, dependendo de cada pessoa, e do que lhe aconteceu, acho que o melhor que alguns de nós conseguem, é ir saindo do bloqueio, e voltando aos poucos.

Um bloqueio aparece quando decidimos ignorar certas partes de nós, como indivíduos, ou quando colocamos expectativas irreais no nosso desempenho, ou quando existem traumas com os quais não lidámos de forma construtiva, que voltam para nos assoberbar.

Cada uma destas ou, habitualmente, uma conjuntura de várias, atiram-nos para um sítio em que sentimos que não conseguimos criar algo novo, bom, útil.

Sentimo-nos bloqueados, sem acesso ao ritmo, que antes nos animava os actos criativos.

É preciso desconstruir o que se sente, e aquilo que se pensa, evitando o excesso de racionalização, mas colocando uma boa dose de introspecção no assunto. E, os benefícios de encontrar ajuda externa, apoio de saúde profissional, e apoio pessoal, são inequívocos. Procurar ajuda é essencial para haver alguma resolução de aflições.

Quando era miúda não sentia qualquer dificuldade em inventar coisas novas. Não lhes atribuía grande valor ou importância. Simplesmente, existiam porque eu usava os minutos necessários para as criar. Era simples. Também, não pensava muito no propósito delas. Existiam porque sim, e o porque sim bastava para que existissem. Não havia nenhum grande objectivo a alcançar, de acordo com a qualidade percebida na obra. Era descomplicado. Não havia qualquer motivo, receio, uso ou propósito. Existiam, e nada mais. E, é a isto que, estou empenhada, em voltar.

colagens
Fazer colagens ainda soa a: paraíso descontraído.

Quando decidi perseguir uma vida mais criativa, vieram as expectativas. As minhas e as alheias. E, pior, a condenação incrédula de outrem. Como ousava eu querer escolher algo diferente para mim? E, como com a maioria das pessoas, eu era permeável a deixar-me influenciar.

Mas voltando ao “quando eu era miúda”… Sem qualquer noção do que queria fazer quando fosse adulta, e com a convicção que trabalhar, para ganhar dinheiro, para viver, era exigência existencial, e sem orientação adequada a mim, como pessoa particular que sou, fiz escolhas que me aproximaram de uma realidade com a qual não consegui viver.

Quando, a primeira grande crise chegou, aquela em que percebi que não podia viver dos meus melhores esforços, quando a oposição vencia a viver de espertezas. Dei-lhes a bicicleta (se é que me entendem).

Mas, deste momento de crise, nasceu “Percepção”, o meu primeiro livro publicado. Com ele, veio a certeza que as hist´orias me enchem a alma e o coração.

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O meu livro ‘Percepção’

A segunda grande crise não tardou e, com ela, vieram anos de mudanças e de experiências valiosas. E, claro que, quando temos a cabeça cheia de impossibilidades, improbabilidades, e necessidades essenciais não atingidas, o bloqueio criativo é o destino final.

Outra coisa, que veio na segunda crise, foi uma dificuldade asfixiante em superar o que estava mal (?!?!) em mim, e curar o bloqueio criativo que se instalou, mesmo quando eu continuava a aparecer para a criatividade.

Passei muito tempo sem escrever algo que considerasse de jeito. Porque, para mim e, em mim, pouco havia que o consubstanciasse. Não importavam, todas as horas que passei a escrever, e a enfiar o que escrevia na gaveta. A minha voz interior adorava cuspir o veneno que havia sido deixado.

Passei muito tempo a reaprender sobre quem sou e o que quero. Procurei encaixar as peças e, no meio do meu puzzle pessoal, feito de tantas e pequenas partes, fui juntando as que me fazem pensar que, tudo isto tem um propósito, e um objectivo.

Não sei o que farei do que me fiz, ou do que me fizeram. Mas, sei que juntei pequenas verdades, através de incontáveis livros, ensaios, desafios criativos e experiências, e que estas me têm ajudado a perseguir as minhas histórias.

book covers
As capas imaginadas para cada projecto…

Permitir ajuda e magia

Por vezes, não sei onde quero ir com uma história, um artigo, ou um texto qualquer. Autorizo-me a parar e a ir dar uma volta. Autorizo-me a esquecer e deixar o subconsciente fazer o seu trabalho criativo, sem a minha interrupção consciente, de quem só quer que tudo flua de forma exemplar.

Por vezes, tenho de aceitar que, um projecto fica parado meses e, até anos, sem conseguir regressar a ele com algo que funcione. Por vezes, tenho de aceitar que há outro texto, que se impõe durante essa pausa, e que devo continuar a trabalhar naquilo que flui, até se fazer luz no projecto anterior.

Na última década, aprendi a autorizar-me a descansar, a encher o poço criativo, a considerar trabalho feito, mesmo se só consegui escrever um parágrafo numa página qualquer.

Trabalho para aceitar que a criatividade é feita de consistência, de método, de rotinas. Mas, acima de tudo, para acreditar que a criatividade ´é feita de magia, de ideias que parecem surgir do éter, de histórias que se manifestam quando estamos em descanso, ou a dar um passeio, ou a ver um filme ou, a fazer qualquer outra coisa que não um acto intencional de, sentar o fôfo na cadeira e, escrever.

E, para receber essa magia compreendi que, o espírito precisa estar aliviado.

black death project
Um mood board para uma história especial.

Compreendi, também, que ando há demasiado tempo focada nas dificuldades… e, pouco interessada em experienciar as partes boas da vida. Sim, cenas acontecem. E, algumas delas, vou carregar comigo (queira ou não). Mas, tenho a certeza que fiz o melhor que sabia, com a informação que dispunha, e o que trazia dentro de mim. Tudo isto podem ser temas mas, não vão incapacitar-me de aparecer para a minha escrita.

Procurei compreender e nas minhas pequenas verdades conto:

Como, escrever uma linha é bem melhor do que não escrever nada. Às vezes, até uma só palavra é essencial ao meu trabalho, e não deve ser ignorada, nem ficar por escrever. Todo o esforço é válido.

Ou, escrever no meu diário alivia-me. Não quero saber se devia estar a escrever livros de ficção porque, se for por aí, é garantido que não os escrevo. Cada momento de escrita tem o seu propósito, e todos os momentos servem um objectivo maior. A ficção vem, mesmo no meio dos artigos de blog ou dos registos diários. Ela flui quando quer e eu aceito-a.

Ou, não faz mal fazer colagens e escrever poemas por cima… ou frases… ou ideias. E, se preciso de trinta minutos de colagens, para continuar a escrever, pois que venham elas. Colo primeiro, e escrevo ao mesmo tempo, ou depois. Todas as actividades contam para a criatividade.

journal e vídeos
Muitas histórias diferentes em cima de uma secretária.

Ou, posso trabalhar num projecto a qualquer hora do dia, desde que o faça. Não é o horário que faz a prática, mas aparecer. Parar de me obrigar a cumprir um horário, irrealista e danoso, porque se passa a manhã, em que é suposto eu me sentir mais alerta, e eu não tive tempo para me sentar a escrever, já não tento escrever noutro horário. E, isto não pode acontecer.

Ou, rotinas são boas, mas o peso de falhar o horário, e já não escrever de todo, é um peso que dispenso. As rotinas devem incluir a minha vida por completo e ajeitá-las às necessidades de cada dia faz a diferença. Não posso valorizar umas e dispensar outras. Por isso, é viver e fazer, seja por que ordem for.

Ou, não quero ouvir o que os outros pensam sobre o assunto. Quem não aparece para criar, não deve ser ouvido quanto à criatividade alheia. Porque opiniões e críticas todos têm. E, cada um só pode viver a própria existência. Por isso, não importa o que os outros pensam, qualquer que seja a sua proximidade connosco porque, quando chega a hora, o “Valete Fratres” é o que tenho de certo.

Ou, encontrar a minha voz, em qualquer dimensão da minha existência, e não apenas na escrita, é algo que levo muito a sério. Fui desprezada e, em simultâneo, chamada a ser responsável (como todos nós, somos produto da realidade em que crescemos). Por isso, impor limites, é difícil e necessário. A minha voz é minha, e só posso ser eu a descobri-la. E, concorde com o que ela me diz, ou discorde, é a minha voz.

E, doenças à parte — se é que podemos, alguma vez, colocá-las de parte — é difícil encontrar um equilíbrio que me permita criar de forma regrada. E, não é preciso um equilíbrio imaginário qualquer. Apesar de considerar que, é preciso sermos consistentes, na aproximação que fazemos ao acto criativo, acho que o excesso de domínio que procuramos exercer, quando a criatividade se quer liberta, e com entusiasmo quase infantil, é danosa.

Por isso, perseguir aquilo de que gostamos, aceitando o volume de trabalho, e com a alegria infantil de quem vê algo pela primeira vez, são acções essenciais à criatividade.

A brincar num museu.
A brincar num museu.

Ter paciência com os revés, e com o que não conseguimos acabar mas, ser persistente com o que desejamos atingir, porque cada momento pode trazer aquilo que precisamos para criar algo especial.

A dúvida, o medo, a desconfiança, a estagnação, são o outro lado da nossa Força Criativa. Prefiro acreditar na esperança, em aparecer, em confiar que tudo se resolve. Porque o lado positivo da Força Criativa, mesmo em exposição do lado negativo, produz um trabalho melhor.

Peço desculpa, se as referências ao Star Wars não passam despercebidas. Sempre fui fã, e continuo (já viram a segunda temporada de Andor? Recomendo… incluo o Nemik’s Manifesto da primeira temporada).

Bee
O luto de Bee, no último episódio de Andor, valeu-lhe um lugar no meu coração.

O que proponho eu? Estão a sentir um bloqueio criativo? Óptimo (quer dizer… não o desejo a ninguém). Agora, vão procurar outras experiências. Esqueçam expectativas. Tirem férias do projecto que vos atormenta. Mudem de vida, mudem a forma de pensar na vida. Procurem ajuda. Libertem a pressão que sentem, porque ela está a mentir-vos. Brinquem. Sonhem. Imaginem. Encham o poço criativo. Falem convosco próprios. Conversem com alguém neutro/isento.  Procurem perceber o vosso “porquê”.

Do outro lado da introspecção, e da brincadeira, encontra-se a inspiração. Só temos de aparecer para brincar e sem preconceitos.

Aviso: diz que partilhar demasiado é um trauma. Mas, o que eu digo é, primeiro, não revelo factos ou ocorrências, nomes ou danos. Segundo, aprendo imenso com a experiência de vida de outras pessoas que, por vezes, partilham “demasiado“… ou, partilham pequenos pormenores que não me passam despercebidos. Se aquilo que vivi ajudar alguém, a ter uma outra perspectiva sobre as dificuldades, fico feliz.

Obrigada e Até Breve!

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