A Inacção Consola de Tudo

A inacção consola de tudo. Não agir dá-nos tudo. Imaginar é tudo, desde que não tenda para agir. Ninguém pode ser rei do mundo senão em sonho. E cada um de nós, se deveras se conhece, quer ser rei do mundo.
Não ser, pensando, é o trono. Não querer, desejando, é a coroa. Temos o que abdicamos, porque o conservamos sonhado, intacto, eternamente à luz do sol que não há, ou da lua que não pode haver.
  Fernando Pessoa, in ‘O Livro do Desassossego’

Fotos

Adoro fotos! Adoro os momentos que as fotos captam… Aquele sentimento que cada foto desperta em quem vê… Alegria, indiferença, saudade… Momentos que quem deseja lê.   São recordações guardadas em papel, tangíveis, que se podem agarrar com os dedos e segurá-las junto ao coração. Como se as levasse para dentro de mim, sensíveis, A todo o sentir da minha ilusão.   São mensagens de Amor, Amizade, Calor ou Saudade… É recordar aquela brisa que batia na cara… Aquele sol que fazia doer a vista, ou aquela água fria a gelar os pés…   Adoro fotos… mesmo quando odeio a foto, o momento odiado fica ali, estagnado no tempo. À espera de ser visto de outra forma… São mensagens enviadas pelo sentimento. É verdade! Adoro fotos e a própria palavra “foto”… Mensagens subliminares, são talvez… São só momentos sem “porquês”   Adoro fotos…

O Amor

 O amor, quando se revela, Não se sabe revelar. Sabe bem olhar p’ra ela, Mas não lhe sabe falar.   Quem quer dizer o que sente Não sabe o que há de dizer. Fala: parece que mente Cala: parece esquecer   Ah, mas se ela adivinhasse, Se pudesse ouvir o olhar, E se um olhar lhe bastasse P’ra saber que a estão a amar!   Mas quem sente muito, cala; Quem quer dizer quanto sente Fica sem alma nem fala, Fica só, inteiramente!   Mas se isto puder contar-lhe O que não lhe ouso contar, Já não terei que falar-lhe Porque lhe estou a falar…   Poesias Inéditas – Fernando Pessoa

Nevoeiro

Nem rei nem lei, nem paz nem guerra, Define com perfil e ser Este fulgor baço da terra Que é Portugal a entristecer- Brilho sem luz e sem arder, Como o que o fogo-fátuo encerra.   Ninguém sabe que coisa quer. Ninguém conhece que alma tem, Nem o que é mal nem o que é bem. (Que ânsia distante perto chora?) Tudo é incerto e derradeiro. Tudo é disperso, nada é inteiro. Ó Portugal, hoje és nevoeiro…   É a Hora!   Valete, Frates   "Mensagem" Fernando Pessoa