Tal como anunciado, e no âmbito dos artigos “Recursos do Escritor” aqui vos deixo um pequeno texto escrito por Diego Schutt, o administrador do site Ficção em Tópicos. Um site que se dedica a analisar o processo de criação literária, enquanto nos inspira com as suas dicas.
Obrigada Diego, pela tua participação neste meu cantinho virtual 😉
Aos meus leitores: participem, comentem, perguntem, cá vos espero e definitivamente aprecio a vossa participação.
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Formas simples de abrir portas na sua carreira de escritor.
Desde criança, minha curiosidade sempre falou mais alto do que minha educação. Em situações onde tive que decidir entre uma e outra, a opção que eu escolhia com mais frequência era a primeira. É um aspecto da minha personalidade que nunca consegui controlar e, para falar a verdade, há muito tempo desisti de tentar. Fui julgado muitas vezes como intrometido, mas prefiro ser acusado com esse adjetivo e satisfazer minha curiosidade, do que ser aplaudido por seguir fazendo xixi na caixa de areia.
Há algumas semanas atrás, enquanto caminhava pelo corredor de um hotel na Austrália, vi uma porta entreaberta. Imaginei que algum hóspede tinha saído às pressas e não reparou que a porta não se fechou completamente. Deixando de lado todas as lições sobre privacidade e boas maneiras dos meus pais, me aproximei entusiasmado e empurrei a porta discretamente.
Em poucos segundos de observação, reparei em uma série de objetos espalhados pelo quarto.
Uma peruca despenteada. Uma seringa usada. Uma maleta de maquiagem quase vazia. Um espelho de mão quebrado. E antes que as pessoas me assistindo pela câmera de segurança resolvessem interromper minha investigação descompromissada, voltei para meu quarto. Com aqueles objetos em mente, fiquei imaginando a história da pessoa que estava hospedada ali, e o que ela estava fazendo pouco antes de deixar o quarto.
Seria uma senhora diabética que socou o espelho para simbolizar o fim da sua escravatura à indústria da beleza?
Seria uma drag queen alcoólatra que bateu de cabeça no espelho enquanto aplicava botox na sua testa?
Seria a Lady Gaga se inspirando para escrever seu próximo álbum?
Era uma história sem narrador esperando para ser contada.
Melhor eu esclarecer agora que meu objetivo não é convencer você a sair bisbilhotando a vida alheia (recomendo isso apenas como diversão ocasional). O ponto que quero ressaltar aqui é que uma porta entreaberta tem um apelo quase irresistível à nossa curiosidade. Acredito que mesmo aqueles que se deixam guiar pelas normas e bons costumes, desejam secretamente colher as pistas e desvendar os mistérios de uma possível história interessante que cruza o seu caminho.
Aquela frestinha das portas entreabertas são convites à curiosidade. É uma oportunidade de, temporariamente, fugir da previsibilidade do nosso dia e descobrir um universo diferente.
Eu acredito que todo texto que você escreve também é um convite.
As primeiras palavras e frases são como a fresta de uma porta entreaberta, que deixa o leitor ver apenas alguns aspectos da sua narrativa e dão pistas da história que você vai contar. E dependendo das escolhas que você faz no início dos seus textos, você tem o poder de instigar curiosidade e criar um desejo quase irresistível de explorar esse universo criado por você.
O Ficção em tópicos, meu site sobre a arte de escrever e de contar histórias, é composto por uma série desses convites para você praticar formas simples de criar essa vontade incontrolável de explorar o que está por trás das portas que você abre com seus textos.
Entre, observe, vasculhe e, se tiver um tempinho, me escreva para contar se você também não consegue resistir a uma porta entreaberta.
Diego Schutt
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