Li-o na escola, na versão original, tinha 15 anos. Há três dias atrás, não me recordava de um único pormenor sobre ele à excepção de ser aborrecido. 17 Anos depois, ao descobri-lo numa das minhas estantes, decidi relê-lo.
Obviamente que, aos 15 anos, este livro foi uma comprovação daquela expressão pérolas a porcos. Relê-lo fez-me aceitar duas coisas: A primeira foi a imaturidade pessoal na época; A segunda, a qualidade deste texto de Le Guin.
Esta é a história de um jovem norte-americano durante um dos períodos mais conturbados da sua adolescência. Narrada pela personagem principal, ela marca o leitor pelo cunho emocional, relembrando-nos uma época em que todas as decisões aparentam ser definitivas e em que todas as emoções nos abalam profundamente.
Owen é o típico jovem mas não é o típico adolescente americano, relutante em aceitar as imposições sociais dos colegas e da família, ele deseja perseguir uma formação num dos melhores institutos tecnológicos do país (MIT). Atormentado pelos problemas típicos da juventude, uma família que não o compreende, poucos amigos e uma rotina dominada pela sua personalidade introvertida, Owen descobre a sua primeira amizade significante onde menos esperara.
Natalie, uma rapariga para quem a música significa tudo, torna-se na sua melhor amiga. São as consequências dessa amizade que despoletam o amadurecimento pessoal de Owen e é esta história que nos permite reflectir de forma um pouco melancólica sobre as consequências de actos e vontades, num período que é por inerência evolutiva o mais conturbado da existência humana.
Numa época da tomada de decisões académicas e de vida, confrontamo-nos com a escolha de Owen, entre aquilo que quer ser e aquilo que a sociedade espera que ele seja, assim como com a previsibilidade e facilidade que algumas dessas escolhas implicam.
Mais uma vez Le Guin guia-nos, de forma inteligente, pelos significados da vida humana e pelos efeitos da vivência em comunidade. Mais uma vez comprovo que determinadas leituras são aproveitadas de formas diferentes em épocas de vida distintas. E, mais uma vez, agradeço não permanecer agarrada a preconceitos pois poderia ter recusado a leitura de um livro que é uma pequena pérola.
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Li o livro aproximadamente com a mesma idade, há cerca de 25 anos. Sei que me marcou mas não me recordo porquê. Não me recordo de nada, nem do título! Hoje de férias lembrei-me dele (do título), nem sei a que propósito. Fiz um esforço para não me esquecer. Tomei nota. Pesquisei online. Sei que já não o tenho. Irei reler assim que o conseguir adquirir novamente. Veremos o impacto que terá desta vez… Se me convencer novamente, tentarei outros da autora.
Olá Nuno, vale a pena reler 🙂