Há mais ou menos três anos que tenho vindo a acompanhar a série ‘Anita Blake, Vampire Hunter’. Já passei várias fases de apreciação dos livros da Laurell K. Hamilton, mas em nenhuma delas optei por escrever um artigo. E esta é uma grande falha!!! Ao fim de 3 anos, treze livros desta série, e algumas mudanças de opinião, acho que chegou a hora de olhar para estes livros tal como eles são: uma evolução.
O início deixava um pouco a desejar. Anita Blake, a personagem principal, era demasiado certinha para ser agradável. Irritava-se com pouco e explodia por menos ainda. Com o desenvolvimento da história fomos apresentados a uma quantidade considerável de opositores. Criaturas que tinham o poder de nos pôr a correr, a fugir pela nossa vida, sem olhar para trás nem considerar quem lá ficava para os combater. Hamilton criou, então, uma heroína involuntária. Alguém que não desejava ser nada mais do que era (e o que era já era demasiado complicado de gerir) cujos princípios e valores não a deixavam recuar ou fugir e que era obrigada a conviver com as consequências dessa sua maneira de ser.
Ao longo dos doze livros que li desta série vemos Anita Blake, uma caçadora de vampiros, ressuscitadora dos mortos e Marshal Federal, crescer de formas inesperadas. Acompanhamos cada escolha (muitas vezes entre o mal menor) com a consciência de que aquela seria a opção que tomaríamos ser estivéssemos nos sapatos da heroína e não tivéssemos medo de usar uma arma em defesa pessoal.
Um dos temas que gerou algum burburinho foi a transformação de uma personagem quase idiotamente casta, numa mulher que lida com a sua sexualidade de formas inesperadas. Tal como na história, Anita habituou-nos a apontar o dedo às injustiças, sejam elas sexistas, profissionais ou mesmo culturais (ela própria reflecte sobre as suas crenças e actos menos esclarecidos). Este é um dos pontos que mais controvérsia tem gerado e um dos motivos pelos quais acredito que é no reconhecimento das diferenças que nos transformamos.
Sem querer advogar isto ou aquilo, quero apenas frisar que o conceito de certo e errado prende-se com educação e cultura, com o meio em que crescemos e com as nossas experiências. E, também aqui, Anita passa por todas essas fases do debate interior. Ela terá de aceitar que a sua natureza não coincide com os moldes em que fora educada, que a Católica praticante de crenças fervorosamente imbuídas, não corresponde de todo àquilo que ela é e que por mais que deseje ser “normal”, esse estatuto está fora do seu alcance.
Acompanhamos monstros evoluírem para aquilo que realmente são, fugindo por vezes às conotações iniciais, assim como vemos personagens normais assumirem as suas qualidades de monstros, num constante rodopio de poder, magia e sentimentos que nos arrastam e prendem nos meandros desta história.
Há uns tempos escrevi isto sobre Anita Blake “Só faz m****, mas sempre convicta que os seus motivos são válidos e que faz o melhor com o que tem. E até faz, o problema é que às vezes não interessa o quanto desejamos (e acreditamos) fazer o correcto, a vida acaba sempre por nos levar por caminhos insuspeitos. Só podemos dar o nosso melhor, e rezar para que seja suficiente.” Continuo a subscrever cada palavra e não consigo deixar de ver os paralelismos com a realidade.
Uma série que aconselho. Mantenham a mente aberta e apreciem as aventuras e desventuras de uma heroína tão fora do normal.
Deixo-vos aqui algumas pérolas às quais não resisti:
“There comes a point when you either embrace who and what you are, or condemn yourself to be miserable all your days. Other people will try to make you miserable; don’t help them by doing the job yourself.”
“People are supposed to fear the unknown, but ignorance is bliss when knowledge is so damn frightening.” ‘The Laughing Corpse’
“He had this old southern idea of what a lady should be. A lady should not carry a gun and spend most of her time covered in blood and corpses. I had two words for that attitude.
Yeah, those are the words.” ‘Circus of the Damned’“If this is not love, then no one since time began has ever loved. You ask yourself What is love? Am I in love? When what you should be asking is What is not love? ma petite. What is it that this man does for you that is not done out of love?” ‘Incubus Dreams’
“Maybe they know what I know, that the true way to a man’s heart is six inches of metal between his ribs. Sometimes four inches will do the job, but to be really sure, I like to have six. Funny how phallic objects are always more useful the bigger they are. Anyone who tells you size doesn’t matter has been seeing too many small knives.” ‘Narcissus in Chains’
“The truth may not set you free, but used carefully, it can confuse the hell out of your enemies.” ‘Micah’
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