Louis de Pointe du Lac é um homem atormentado pelas suas escolhas, subjugado por sentimentos, rígido em princípios. Um homem que não sabe lidar com a culpa, a perda, ou as expectativas que tem de si mesmo, e cuja morte do irmão mais novo o marca de formas irreparáveis.
“I lived like a man who wanted to die but who had no courage to do it himself.” ‘Interview with the vampire’
Desejando abraçar a morte, mas sem coragem para tirar a própria vida, Louis vê-se preso a uma existência imortal onde os seus demónios não desaparecem, perdendo de forma definitiva a possibilidade de redenção, e transformando-se num monstro que ceifa vidas.
“I had seen my becoming a vampire in two lights: The first light was simply enchantment; Lestat had overwhelmed me on my deathbed. But the other light was my wish for self-destruction. My desire to be thoroughly damned.” ‘Interview with the vampire’
Louis leva para a “morte” as amarras morais que o perseguiam em vida. Subsiste aos dias corroído por tudo o que nunca fora, e que nunca seria, em busca de uma qualquer explicação divina que justificasse a sua existência imortal.
“And my heart beat faster (…) for the one hope that somewhere we might find in that primitive countryside the answer to why under God this suffering was allowed to exist why under God it was allowed to begin, and how under God it might be ended. I had not the courage to end it, I knew, without that answer.” ‘Interview with the vampire’
É no aniquilar da sua inocência que consegue ver as suas circunstâncias com clareza. Ao perder tudo o que amava, ao ver esmagada a réstia de humanidade que o fazia acreditar na preciosidade da vida e, por fim, compreender que não existe um plano divino ou maléfico que justifique a sua existência, Louis perde a esperança.
“What has died in this room tonight is the last vestige is me of what was human.” ‘Interview with the vampire’
Um sonhador, cujo destino é aquele dos que desejam demais e que são esmagados pelos que nada querem de verdade, Louis transforma-se num cínico que já não se deslumbra com a essência humana. Alguém que existe, incapaz de amar, desistindo de procurar aquilo que o fizera continuar através do tempo, abandonando tudo o que de mais fundamental possuía, com um coração endurecido e um desencanto profundo.
“It is conceivable your own sensitivity might become the instrument of madness.” ‘Interview with the vampire’
A essência de Louis é alterada para sempre por aqueles que melhor o conhecem e que se transformam nos carrascos da sua ingenuidade. São eles que ajudam a matar aos poucos a luz interior de Louis e são eles que mais sofrem quando isso, por fim, acontece.
“You showed me the only thing that I could really hope to become, what depth of evil, what degree of coldness I would have to attain to end my pain. And I accepted that. And so that passion, that love you saw in me, was extinguished. And you see now simply a mirror of yourself.’” ‘Interview with the vampire’
Um livro cujo tema toca a fragilidade da mente humana, a dor a que um homem se expõe na incapacidade de se transformar no cínico que os outros acham que ele deveria ser, que acompanha o sofrimento dos que amam demais apenas para serem fundamentalmente corrompidos por esses actos. A história de Louis é o relato de uma vivência sobrenatural, um vampiro que, apesar de depender daquilo que absorve dos outros, termina perfeitamente sugado pelos que o rodeiam. Um ser que, através da dor e decepção, acaba por alcançar o estado de inércia e desprendimento daqueles que apenas sabem existir.
Uma história de amor, sobre vários tipos pouco convencionais de amor, de abnegação e dedicação, de convivências insanas e, fundamentalmente, das consequências do desencanto pela vida e da perda de esperança.
Cinco estrelas e merece-as todas.
“Who knew that better than I, who had presided over the death of my own body, seeing all I called human wither and die only to form an unbreakable chain which held me fast to this world yet made me forever its exile, a specter with a beating heart?” ‘Interview with the vampire’
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