Lidar com os períodos festivos é sempre um desafio interessante. A proximidade familiar, o stress derivado da questão, a pausa prolongada das actividades literárias (pelo menos abastecemos a biblioteca durante o evento), as dezenas de pequenas coisas que não podemos esquecer, entre outras preocupações.
É também uma óptima época para estar atento ao que nos rodeia.
Alguma vez sentiram que no meio da confusão estavam a observar de fora, sem interagir realmente com aquilo que se passa à vossa volta? À parte? A língua inglesa tem uma boa palavra para designar este estado: detached (por vezes wayyyy detached)
Este é um estado que todos nós sentimos, em alguma(s) fase(s) da nossa vida, e que se pode comparar a uma espécie de meditação (deixo-vos aqui o caminho para um artigo interessante sobre o significado de Emotional Detachment). Mas, para os escritores, este é também um local na nossa mente para onde nos deslocamos para observar e reter aquilo que tem potencial para se transformar em material.
O Natal, ou os ajuntamentos em geral, provocam um acentuar de stress pelo que devemos aproveitar a oportunidade para praticar este estado de espírito. As emoções despoletadas por relações familiares complexas são ocasiões para saborear alguns momentos de “ausência” em que podemos escolher reflectir sobre o que (e quem) nos rodeia. Oportunidades excelentes para treinar a capacidade empática, observar sem interagir ou julgar e, quem sabe, recolher daí os fios que irão puxar a construção da próxima história.
Drama sempre foi bom material de escrita e drama familiar é uma inspiração poderosa. É nestas ocasiões que nos sentimos mais pressionados por aqueles que melhor nos conhecem e que sabem, exactamente, onde se situam todos os nossos botões… e não têm medo de lhes dar uso.
Afastarmo-nos conscientemente do drama e encará-lo como comida para a mente serve-nos na medida em que nos torna mais atentos ao que nos rodeia, às pessoas à nossa frente, às vivências distintas da nossa. Escutar activamente, controlar os nossos pensamentos e emoções, relegar a necessidade de controlar o que está à nossa volta e, sobretudo, aceitar que as coisas são como são, as pessoas são como são, transformam-se em práticas que beneficiam a nossa escrita. (Um prémio para aqueles que já o fazem sem esforço… Não é o meu caso.)
Por isso, no próximo ajuntamento familiar deixemos de lado a culpa que uma pausa deste género nos provoca (quem não sente que em vez de aturar as chatices do costume podia estar a escrever ou a ler qualquer coisa?) e aproveitemo-la por aquilo que é: a comunhão saudável entre o que somos e o que queremos ser.
Em caso de dificuldades, não esquecer, podemos sempre contar com o proverbial copo de espumante… e guardar as boas intenções para o próximo Natal.
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Olá Sara, muito interessante o seu post. Realmente os Natal é essa época de vestida de magia capaz de nos fazer ignorar todo o estresse que ela nos reserva. Tuas observações são mais do úteis, na forma de realmente aproveitarmos para afiar nosso caráter, na convivência com familiares e afins rsrs. Mesmo nas compras nas ruas e shopping, para tentarmos prever que vamos encontrá-los cheios de pessoas e vazias de paciência e consideração. Sim fim de ano é essa época ambígua… 🙂
Bjos e parabéns, Leo!
http://umlugarparaestar.blogspot.com.br/
Obrigada 😀