Sobre ‘O Crime de Lorde Arthur Savile’…
Lorde Arthur Savile: Ingénuo? Ou a prova que todos nós somos capazes do acto mais hediondo?
Savile embarca numa das demandas mais perigosas e (vá!) idiotas do século. Um homem bem-nascido, bem-tratado, daqueles que nunca viu um dia de trabalho na vida, e cuja experiência é de uma existência de abundância e privilégio. Um crente, curioso e pouco informado que é influenciado por, Podgers, um dos ‘leões’ de Lady Windermere.
“Quão afortunados são os actores! Eles têm a possibilidade de escolher se aparecem numa tragédia ou numa comédia, se irão sofrer ou divertir-se, rir ou fazer chorar. Porém, na vida real, tudo é diferente. A maioria dos homens e mulheres são forçamos a representar papéis para os quais não têm qualquer preparação (…) O mundo é um palco mas a peça apresenta um medíocre elenco.” ‘O crime de Lorde Arthur Savile’ Oscar Wilde
Numa sociedade londrina feita de coloquialismos e trivialidades Podgers, o quiromante, despoleta angústia na vida perfeita de Lorde Arthur Savile.
O distinto Lorde que, rapidamente, se deixa influenciar pelos mistérios do oculto, sem pôr em causa a verosimilidade do que lhe é dito (e ocultado em igual medida), esquece-se de avaliar se o mistério que é criado em redor da sua pessoa existe para proteger a fina camada de verdade que detém.
Se Podgers previu, ou não, o final fica ao critério do leitor. Certo é, Lorde Savile cumpre o seu destino e é bafejado pela sorte (infortúnio, na sua perspectiva) em diversas ocasiões. Decidido a cumprir o seu destino, tudo fez para obter a recompensa desejada, na ilusão dum esforço que apenas ele próprio consideraria meritório.
Este conto é uma sátira à sociedade londrina da época. Uma paródia a todos aqueles que seguem as modas, por mais parvas que elas sejam. Uma crítica à inteligência dos homens, em circunstâncias de pressão de pares, e exercício de senso-comum. Uma visão deturpada feita de obediência cega a um destino que não se contesta, e que se persegue, sem razão ou moral.
No final, permanecem as questões… Como se sentiu Savile após descobrir a sua falta de senso-comum? Seria aí que começaria o seu infortúnio? Iriam recair sobre si as consequências daquilo que desejou evitar?
Um conto tonto, uma espécie de profecia auto-realizável, um texto deveras engraçado. Aconselho…
Sobre ‘A Esfinge Sem Segredos’
Mais um conto daqueles que deixa muito em que pensar…
Lorde Murchison , um obcecado pela verdade, encontra no mistério feminino a razão da sua decadência moral.
Um história curta, simples, mas tão carregada daquilo que gosto de chamar de ‘natureza humana’. Um conto sobre o orgulho masculino, o ego feminino, e as consequências de ambos no desenrolar duma relação amorosa.
Mais uma pérola de Oscar Wilde… mas, outra coisa, não seria de esperar.
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‘What we talk about when we talk about love’ de Raymond Carver
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Um comentário em “Opinião: ‘O Crime de Lorde Arthur Savile’ & ‘A Esfinge Sem Segredos’ de Oscar Wilde”