As coisas que fazemos de forma natural tendem a sair mais bem feitas. Mas, a princípio, não há nada que nos saia de forma natural. Ou quase nada.
Há uns largos meses escrevi sobre os nossos super-poderes, aqueles que podem ler aqui…, e que são tão naturais que desconhecemos que os temos de todo.
Continuo a manter a ideia de que aquilo que fazemos bem é, muitas vezes, aquilo que não conseguimos ver em nós. Pessoalmente, descobri que vou acrescentar mais uma coisa aqui… o que costumo fazer, sem achar que estou a fazer algo de importante, é ser criativa. Em que contexto? Vários. Depende do dia. Depende do humor. Depende da hora. Depende da vontade. Um superpoder que não acreditei ter.
Mas, aquilo que fazemos de forma natural, sem ser forçado, ou que nos exija uma quantidade de esforço e sacrifício difíceis de aceitar, é o que devemos fazer.
Por vezes ouvimos a história de alguém e parece que é tudo tão natural. Que se sentam a escrever ou a pintar e que tudo flui como se por magia…
Não é magia.
Há partes que podem, e devem, ser treinadas. Coisas que devemos dedicar-nos a aprender. Espaços que precisamos criar para que aquela actividade seja executada naturalmente. Circunstâncias que devemos incentivar para que fluam naturalmente.
Dou-vos um exemplo pessoal. Fui uma condutora tardia. Tirei a carta aos 28 anos e comecei a conduzir, regularmente, aos 35. Gostava de praticar, por piada, mas sem grande vontade de arcar com a responsabilidade que operar uma viatura ligeira com frequência exigia.
Recordo-me de ter uma conversa com o meu instrutor de condução em que eu bramia com insistência que aquilo (conduzir) não era natural e que devia ser. Que era complicado, porque não nos era natural controlar tudo o que se passava dentro do carro, e fora do carro. ao mesmo tempo. Ambos concordámos que as coisas que fazíamos de forma natural eram melhores.
Apesar de continuar convicta que assim é, agora sei que essa naturalidade vem com um preço. É natural porque já empregámos horas, a praticar e estudar uma actividade, e descobrimos como fazê-la ocorrer, de uma forma que nos parece funcionar, sem exercer grandes esforços.
Foi quando me vi obrigada a conduzir todos os dias, e com os meios disponíveis para o fazer, que comecei a empregar as horas para a prática que precisava. Foi quando escolhi praticar porque queria, e insistir que era o que precisava, que permiti que se transformasse em algo natural.
Sim. Irei sempre achar que o carro não cabe ali, ou que o camião devia ir noutra estrada qualquer que não a minha. Mas, permiti que aquilo que me assustava se transformasse em algo que gosto de fazer, e que aprecio todas as vezes que o faço… Qualquer que seja o carro, ou a circunstância.
Também vejo, ao cuidar da minha filha, que todos precisamos aprender até o mais básico. Impedir que outro o faça é que não é natural. Com ela aprendi que há tanto de conhecimento invisível por trás da execução das coisas mais simples. E, que é o nosso papel insistir em aceitar essas coisas e abraçá-las até se tornarem naturais.
Também é assim com a nossa escrita. Resistimos quando aprendemos. Quando vemos o tamanho do projecto e ficamos desencorajados. Quando damos ouvidos a outras vozes que não aquela que nos diz o que é natural em nós. Acreditamos que é por magia que tudo se transforma em natural.
Achamos que o segredo está num bom começo e que depois tudo será natural.
Sim. E, sim.
O segredo está num bom começo. No começar a aprender o que nos virá a servir.
E, sim, tudo será muito mais natural, depois de aprendermos o que necessitamos para que o façamos dessa forma.
E, nunca parar de aprender. Porque nunca se sabe tudo o que se precisa. E, é preciso uma grande humildade para admitir e fazer algo acerca disso.
Não. Não sou a maior. Pelo contrário. Tenho uma quantidade de falhas, e erros de julgamento, capazes de impressionar a maioria das pessoas. A mim, sei que me impressionam. Mas, também sei que dou sempre o meu melhor naquilo que considero importante. Sei que me sacrifico até me ser natural.
Sei que não quero parar de aprender e procurar, sempre, essa naturalidade que me faz acreditar que, se calhar, até consigo fazer (já faço) alguma coisa disto… e desta distopia pandémica em que vivemos.
Continuamos a Escrever. Continuamos a Criar. Continuamos a Viver.
Não desistimos só porque achamos que não sai de forma natural. Persistimos e procuramos a nossa versão de natural. E, choramos bastante quando temos de chorar… o que é mais do que natural.
Relembro que:
Está a decorrer o NaNoWriMo, e sobre o qual podem ler mais no artigo 8 Ideias a contemplar no início de um projecto
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