Invejo aquelas pessoas que se sentam a escrever, todos os dias, cumprindo o seu horário perfeito, empurrando de forma constante os limites da sua criatividade, demonstrando todos os dias que têm em si a capacidade para desempenhar este trabalho, tal como fariam com qualquer outro.
Invejo-os! Confesso. Ou, melhor dizendo, invejo a fantasia que este tipo de compromisso evoca.
Admito. Invejo a força de vontade de alguém que sabe o que quer e, está disposto a fazer tudo o que está ao seu alcance, para o obter. Ou, invejo isso que, nada mais é do que uma fantasia, em que acreditamos ter qualquer controle sobre o resultado dos nossos esforços.
O Sucesso
Assim como um Murakami que determinou que ia ter sucesso na sua escrita, um Cohen que se dedicou de corpo e alma a perseguir a criatividade poética que almejava, um Picasso que criou as suas regras e não permitia que ninguém, nem ele próprio, as quebrasse.
Através de uma panóplia extensa de ideias, ritmos, projectos, gestão de tempo e desafios, em qualquer actividade a que nos dediquemos, precisamos encontrar o nosso próprio ritmo.
A inveja não nos serve para nada. É um empecilho. O que nos serve são os nossos hábitos e rotinas… as nossas escolhas.
Seja acordar às 6 ou às 11 da manhã. Seja escrever ou ir correr primeiro. Seja ler ou ouvir livros… São estas escolhas que determinam o ímpeto que colocamos nas actividades que desejamos executar. Temos opções. Podemos optar pelas que melhor nos sirvam.
E sobre parte deste tema sugiro o livro “The 5 AM Club: Own Your Morning. Elevate Your Life” de Robin Sharma, sobre formas diferentes de atingir a excelência nas nossas rotinas.
E, se as nossas opções são pouco convencionais?
NaNoWriMo a funcionar
Há 10 anos atrás cruzei-me com um evento virtual, uma plataforma que se dedica a organizar maratonas de escrita, um grupo de pessoas que incentiva a produção literária de forma livre: o National Novel Writing Month ou NaNoWriMo.
Há 10 anos, usei o ímpeto da descoberta deste projecto para arriscar escrever as 50 000 palavras, estipuladas como o mínimo do desafio, durante o mês de Novembro. Foi uma escolha pouco convencional.
E, assim nasceu “Amria“, com 63,472 palavras. Um título péssimo, eu sei mas, adiante!
Em 2012, “O Pária” viu a luz da página virtual. Mais 55,756 palavras, num projeto que serviu de semente a outros.
Em 2013, uma série de problemas pessoais atravessaram a minha existência e não fui capaz de arranjar a concentração necessária para concretizar “A Caminho de Lado Nenhum“, ficando com 20,714 palavras.
2018 viu nascer “Em risco“, uma suposta continuação de “Percepção” o meu único romance publicado. Mas, sofreu uma morte precoce, com 16,054 palavras. E, entretanto constatei que andei a olhar para o sítio errado quando pensava numa sequela para “Percepção”
2020 foi o momento de “Fogo e Gelo” ganhar uma segunda forma, porque uma primeira espécie de rascunho já levava uns anos de trabalho. 54,933 palavras e uma promessa de uma revisão mais intensa, que ainda não cumpri.
Agora, a 19.10.2021, preparo “Os Metamorfos“… outro título questionável. Enfim…
“Os Metamorfos” é um projecto, alimentado por pela ideia que havia feito nascer “O Pária”, alavancado pela concretização de “Fogo e Gelo” em 2020 (e, se houve coisa que 2020 não trouxe foi tranquilidade para concretizar grandes feitos que não fossem sobreviver), renascido das cinzas de esforços de anos passados…
Todos estes projectos, aquilo que o NaNoWriMo colocou em movimento, seria impensável de outra forma qualquer.
E, assim se fez uma década de ficção longa aqui por casa. Usando todos os meios que estiveram ao meu alcance. Orquestrando novos horários para a minha escrita. Usando os desafios criativos que me estimulassem a perseguir os meus objectivos de escrita.
Dito desta forma até parece que foi fácil, simples ou bonito de se ver. Não foi nada disso. Foi árduo, doloroso e muito sacrifício…
Um Futuro
Agora, concentro-me em organizar melhor a história em que ando a trabalhar há tantos meses. Esforço-me para planear o decorrer de mais este NaNoWriMo.
Mas, acima de tudo, quero incentivá-los a contemplar os benefícios do que um pouco de magia de desafios criativos paralelos pode fazer pela nossa produção literária/artística/criativa.
Adorava ter uma motivação inabalável. Correr a maratona. Voltar para casa e escrever boa literatura durante 5 ou 6 horas seguidas. Ler tudo o que achasse interessante, importante e conveniente…. e, ainda ter tempo para tudo o resto de que a vida é feita…
Mas, ao invés, procuro usar os meios que tenho, arranjar o tempo que preciso, buscar incentivo onde o encontro e, apoiar-me naqueles que, de facto, me querem bem… e, assim, encontrar as estratégias, os momentos e a motivação de que necessito para escrever só mais este parágrafo… apenas mais um capítulo… só um artigo… uma palavra, apenas…
“Bird by Bird” outro livro que aconselho sobre este tema (e outros)…
Quem sobrevive do mesmo que se acuse… por favor.
Até lá, pondera se o NaNoWriMo pode ser o ímpeto que precisas para começar, terminar ou retomar, aquele projecto escrito que vive contigo.
E, encontramo-nos no site oficial do NaNoWriMo (user: sara-farinha)