Aviso: Este artigo contém uma história trágica, uma obra fenomenal e uma forma mais adequada de ver a criação artística… acho.
O que seria da vida se não tivéssemos a coragem de tentar ir mais longe? – Vincent Van Gogh
O que seria, de facto?
Sim, faço parte daqueles que se apegaram à imagem/obra de Van Gogh como um símbolo de muitas coisas. Um ídolo das massas. Um apego da cultura popular à sua imagem de artista alienado, que fez avançar a arte, mas vendeu apenas um só quadro enquanto vivo.
Mas o que seria de nós se Van Gogh não tivesse tido a coragem de inventar o correspondente ao amarelo enxofre pálido ou ouro limão pálido? (entre outras)
Encontra o belo em tudo o que puderes; a maioria das pessoas nada encontra suficientemente belo. Vincent Van Gogh
Nada encontra de suficientemente belo… parece que já se vivia os tempos modernos em que nunca, nada, qualquer que seja a quantidade ou qualidade, é suficiente para os humanos.
Van Gogh viveu por 37 anos e foram nos últimos 10 que produziu o legado que nos deixou na pintura. Contudo, a correspondência que pediu para ser guardada, demonstra que era um excelente escritor, testemunhamos o que foram os seus pensamentos, vemos o seu elevado conhecimento cultural.
Pela sua mão, testemunhamos o que ele pensava sobre a vida, a arte, a pintura, os que o rodeavam, a sua rejeição dos cânones académicos e dos círculos artísticos mais intelectuais. Mostra-nos qual a situação dos pintores europeus. Comunica temas pessoais e os temas que o subjugam. Prova que tinha uma memória visual fora do comum.
Van Gogh é o exemplo vivo de uma vida dedicada à arte, ao impulso extremo, o relâmpago interminável, a necessidade de criar acima de tudo e contra todos. – Em Super Interessante Arte
Os sacrifícios físicos, pessoais e emocionais, a aprendizagem orientada para aprofundar as técnicas da sua arte, as leituras que fez, os mestres que copiou, as ideias que tinha sobre a importância de se dedicar à pintura, a luta constante pela vida e pela concepção da obra, pela resistência física até à delapidação da saúde.
Para se chegar à verdade, é preciso trabalhar muito tempo e arduamente. – Van Gogh
Uma ideia que sempre me provoca aquela sensação de nunca, tempo algum, será suficiente. (E, lá está! Aquela ideia dos tempos modernos que nunca nada é suficiente.) Mas Van Gogh era inteligente, um auto-didacta que procurou aprender com os seus mentores (vivos e mortos), alguém que procurou saber mais, para fazer o que queria com a sua obra.
Compreender as origens de Van Gogh é iluminar os nossos piores receios. É dar razão a todas as vozes que nos alertam para não perseguir uma via artística. É ter medo do que o mundo nos fará se ousarmos desafiá-lo.
Mas, também para isso, Van Gogh tem uma resposta perfeita:
… quem quer chegar às profundidades tem de passar por um período de tormentos e pelos de Caim. Começamos por pescar poucos peixes ou nenhum, mas aprendemos a conhecer os pesqueiros e a guiar o nosso barco; essa ciência é indispensável. (…) Homens, consagremos a nossa alma à nossa causa, trabalhemos com o coração e amemos o que amamos. Amar o que se ama parece uma recomendação supérflua, embora tenha muitas razões de ser. Muitas pessoas usam o melhor da sua força em algo que não vale a sua melhor força e trata ‘como madrasta’ o que aprecia em vez de se render abertamente ao impulso irresistível do seu coração.” – Van Gogh (carta a Van Rappard, 1881)
São menos loucos os cuja vida se resume a perseguir confortos? Os que só vêm dinheiro? Os que defendem as suas noções de território? Os que vivem de guerra?
Ou será o oposto?
Como se vê, sem deixar de aprofundar a arte, tento aprofundar a vida. As duas coisas juntas. – Van Gogh
Van Gogh que procurou o amor de uma mulher por diversas vezes e que viveu a rejeição em quase todas. Que, afirmando-se só, sempre teve o irmão e a esposa deste, amigos e mentores, conhecidos em todas as cidades onde viveu.
Van Gogh que ajudou a forjar o velho mito do pintor louco, só e melancólico, incompreendido pelos seus pares, mas exultado após a sua morte.
Um mito que nos persegue (eu sei que o oiço desde criança!) deixando-nos tingidos por uma perspectiva errada, e danificadora, do que pode ser a realidade.
Nem louco, nem só, nem melancólico. Incompreendido? Sim, talvez. Mas é o que acontece a todos os que vêm algo diferente da maioria das pessoas que os rodeiam.
Claro que nem todos seremos versões de um Van Gogh, mas podemos (e devemos) ser a melhor versão de nós próprios. Com uma Prática Deliberada e Escrevendo com o Coração, aprendemos a usar as técnicas e a descobrir as receitas criativas que nos ajudam a Criar a nossa Arte.
Obrigada e Até Breve!
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Referências:
- Super Interessante Arte – Van Gogh – A Febre de Criar
- “Big Magic” Elizabeth Gilbert (ISBN 9781408881682)
- Vincent Van Gogh – Wikipédia
Perfeito, amei tudo que aqui li, não tem como não se vê mergulhar na vida de Van Gogh e em sua histórias… Como queria ter vivido na mesma época, ter dividido os mesmos espaços e histórias. Recentemente estive no shopping Rio Mar onde pude apreciar as obras e histórias do Vincent Van Gogh… Como queria que ele tivesse encontrado uma grande mulher que o amasse e que ele pudesse amá-la também, fico imaginando os inúmeros quadros que faria sobre o amor!!