…neste microscópico cantinho do meu mundo, hoje és nevoeiro, citando o final daquele poema (de que tanto gosto) de Fernando Pessoa. E, sim,…
É a hora!
Tem sido a hora há vários meses. E, tem requerido várias horas, para ser mais precisa. Horas de intenso compromisso para com esta tarefa que aceitei como minha:
Escrever este livro.
Hoje é Domingo e, acordei com aquela sensação de que estava num sítio bom, dedicado à imaginação, e só penso em voltar para esse espaço de criação.
A minha pausa de Domingo será passada a fazer aquilo que gosto… assumindo que não há nenhum imprevisto a acontecer.
E, mesmo se comecei a dormir menos do que é a minha necessidade (de sexta para sábado, só lhe arranquei 4 horas e meia de descanso)… Mesmo se vi alterada a janela temporal em que escrevo (diz que o final da tarde, até ser quase o dia seguinte impera)… Mesmo se a desgraçada da minha vozinha interior comparece ao evento (gritando todo o tipo de obscenidades sobre mim, a minha história e a minha escrita)… Mesmo se tudo o resto parece, menos do que perfeito.
Hoje podes tentar ser nevoeiro, dificultares-me a visão, ensopares-me os ossos e frisares-me o cabelo (porque a humidade é um problema para quem tem o cabelo encaracolado). Mas, É a Hora!
E, sabe tão bem enrolar-me no calor de uma manta polar, aconchegada no sofá, com uns phones enfiados nos ouvidos, e o portátil ao colo, e aparecer para a minha escrita… (e ela, enroscada ao meu lado, durante o processo).
O denso nevoeiro serve como cortina. É o meu separador etéreo do resto do mundo. A cortina feita daquilo que não se recolhe, mas que embeleza e eterniza o sentimento e a vista. E, gosto de ver um bom nevoeiro.
Hoje és nevoeiro e, no entanto, vejo-te com clareza. Vejo-me com clareza.
Vejo que, venha o que vier, não há nada que possa mudar excepto aquilo que faço. Apenas sob os meus actos posso ter algum controlo e nada mais.
E, num Domingo de nevoeiro, não preciso ver nada mais para além dos poucos metros que a cortina me permite. Não preciso dominar o manuscrito de uma só vez. Não preciso enfrentar o mundo todo em simultâneo. Não preciso escrever todas as palavras hoje.
Só preciso aparecer, sentar-me a escrever, apreciar o pouco que consigo ver, confiar que, aquilo que está para lá do momento, não é meu para deter. Só preciso acreditar no momento que é agora.
Porque aquilo que não consigo ver é irrelevante, futuro, não existe.
Só posso ver aquilo que é, neste exacto momento. E agir, neste mesmo instante. Por mais planos que crie, ou que possam surgir, em todos eles há um casulo de nevoeiro, formado por aquilo que desconheço, pelo momento em que vivo e, apenas posso viver dentro dele.
Que o vosso Domingo possa ser Criativo. Que o vosso nevoeiro sirva de casulo protector. Que este dia seja conducente às coisas que geram boas obras… quaisquer que sejam as vossas escolhas criativas, necessidades e devoção.
Acompanham-me?
desejo-vos uma excelente pausa de Domingo!
Obrigada e Até Breve!
***
Referências:
- Poema ‘Nevoeiro‘ de Fernando Pessoa