Olá a todos. Sejam bem-vindos a esta [pausa de Domingo].
Costumam anotar nos livros que lêem? Sublinhar? Rabiscar notas nas margens? São daquelas pessoas que acham que apontar nas margens de um livro é um sacrilégio? Ou não vêem qualquer problema em rabiscar o que vos vai na mente?
Sei que retirar citações de uma obra, escrevê-las noutro sítio qualquer e partilhá-las com outros, é uma actividade em si mesma. E, para retirarmos citações do que lemos, temos de estar dispostos a: sublinhar ou colorir a parte em causa, transcrevê-la para outro sítio, ou tirar uma fotografia e nela fazer a parte do sublinhar por vias de edição de imagem.
Mas, mais do que retirar excertos de um livro, o que acontece quando desejamos analisar uma obra mais a fundo? Onde anotamos aquilo que precisamos retirar da obra e introduzir na nossa cabeça?
Pessoalmente, tenho experimentado, e variado, nos meios de recolha. Primeiro, venci a barreira do “não se escrevem nos livros!” há umas décadas atrás. Foi difícil, mas consegui.
Costumo pensar que se comprei a cópia, qualquer coisa que lhe acrescente é para servir a minha biblioteca pessoal. Costumo pensar nos livros que anoto como extensões daquilo que desejo saber, e preciso ter à mão, quando o releio.
Depois, leio muitos livros que servem de blocos construtivos para outras ideias, e que não são alvo de estudo muito profundo. Por isso, retiro deles, para um caderno ou na aplicação das notas, as ideias que desejo reter e/ou aprofundar com outros meios.
Por vezes, de obras inteiras encontram apenas uma frase sublinhada. Porque integrei o resto ou porque nada mais precisou ser integrado.
Mas, outras há que estão carregadas de tinta extra. Sublinhadas, anotadas, marcadas com etiquetas e afins…
O termo que significa o anotar nas margens dos livros dos nossos pensamentos, ideias, construções e referências, chama-se Marginália.
Samuel Taylor Coleridge, o ensaísta, entre outras coisas, inglês cunhou este termo, sendo um grande utilizador de Marginália. Segundo consta, Coleridge anotou de forma extensa quase todos os livros que leu.
Curiosidade: Esta é a primeira cópia de Principia anotada por Isaac Newton, através do website da Universidade de Cambridge, é um tesouro junto ao espólio guardado deste antigo aluno.
Parece existir uma grande tradição de marginália em textos cujo formato é designado por Ensaios. O que faz sentido, uma vez que os Ensaios propõem-se a estabelecer princípios, organizar pensamentos, e articular ideias sobre certos temas. O pioneiro do género Ensaio é Michel de Montaigne, filósofo francês é considerado o percursor deste estilo ensaístico, que tanto oferece à prática de marginália.
É, de facto, um elogio que oferecemos a um autor quando consideramos que os seus escritos favorecem os nossos? Que as suas ideias alimentam as que temos? Que a sua compreensão dos assuntos nos ajuda a alinhar a nossa própria compreensão?
Acredito que sim. E, a par da ideia de abrir espaço no nosso dia para ler, também acredito que devemos resguardar o espaço mental para a prática da nossa marginália.
Usar o momento de leitura, também, para tirar notas, escrever os nossos pensamentos, recordar referências, relacionar temas e assuntos, mesmo se em diferentes meios, e não apenas em livros.
Ir para o acto de leitura prevenida com a convicção que: se houver algo de útil/bom/transcendente, irei anotar sobre isso.
Como o fazer?
Recomendo que espreitem o vídeo How to Journal on Great Literature (My Marginalia & Rereading Process) de Benjamin McEvoy, que inspirou este artigo, e um olhar mais introspectivo sobre a minha prática de marginália.
Esta é a minha sugestão para hoje: Nesta pausa de domingo, espreitem o vídeo de Benjamin McEvoy e pensem sobre a vossa prática de marginália.
Existe? Não existe? “Raios! se vamos estragar a margem de um livro com isto?!” ou, se o formato ebook veio resolver esta questão “Olá! Kindle Notes!”
Mas, acima de tudo, autorizem-se a escrever nas margens (ou numa folha de papel) aquilo que pensam sobre os assuntos.
Aquilo que vai para a margem é, muitas vezes, o essencial ao invés de acessório.
Desejo-vos uma excelente [pausa de domingo]
Obrigada e Até Breve!
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Referências & Recursos:
- Definição de Marginália na Wikipédia
- Samuel Taylor Coleridge na Wikipédia
- Cambridge: Newton’s Papers
- Cópia anotada de Philosophiæ naturalis principia mathematica
- Michel de Montaigne
- Recursos online no website Internet Archive
- Definição breve de Ensaio na Wikipédia
- vídeo How to Journal on Great Literature (My Marginalia & Rereading Process) de Benjamin McEvoy
SACRILÉGIO!!!
Mas vá, também já mudei um pouco o pensamento…
“Primeiro, venci a barreira do “não se escrevem nos livros!” há umas décadas atrás. ” – eu não foi há décadas, mas sim há uns 4 anos. MESMO ASSIM, não o faço (fotografo e adiciono ao meu scrivener), mas já não vejo a coisa como algum tipo de sacrilégio. Agora, há uma coisa que me dói e sempre irá doer na alma: pessoas que em vez de usar um marcador, dobram o canto da folha. Isso sim, é sacrilégio com direito a morrer na fogueira.
Não conhecia o termo “marginália”. Obrigado.
Olá, Cláudio. Não costumo dobrar páginas, e odeio quando acontece sem querer… sou um bocado trapalhona com as mãos.
Mas, tudo o resto, funciona para mim: fotografar, print screens, escrever nas margens, sublinhar… vejo o assunto desta forma: o livro é meu, e nunca deixará de ser meu, por isso, deve reflectir o que eu penso. São os meus recursos pessoais 😀
Mas, peço desculpas a quem não gosta de marcar um livro.
Pessoalmente, se não encontro nada num livro digno de ser sublinhado, posso passar o livro a outros que o apreciem.
Obrigada e Até Breve!
Sara