Olá a todos. Sejam bem-vindos [à minha Biblioteca].
Este é um artigo de opinião sobre o livro ‘O Senhor dos Anéis’ por j.R.R. Tolkien. Hesitei em escrevê-lo. Bom, se considerar bem o assunto vejo que ando a hesitar há décadas.
Para mim, esta história é Uma história, e refiro-me a ela como Um livro… mesmo sendo composto por três. Esta separação acontece em certas edições, mas de certa forma toda a obra é um conjunto de histórias que se integram.
Mas, porque é, para mim, tão difícil escrever uma opinião sobre um livro que adoro? Não sei.
Sei que procuro, sempre, passar a parte da experiência física de procurar/encontrar um livro. Sei que aprecio escrever sobre os sentimentos que me assolaram ao ler certo livro que adoro. Sei que não gosto de estragar a experiência para os outros e, daí, nunca saber bem quão vago deve o artigo ser…
No entanto, o que também sei é que, para os meus livros favoritos, guardo-me demasiado em silêncio.
Alguns dos meus livros mais adorados vêem, no máximo, um artigo, meio em tom de brincadeira e enquadramento, ou referências em múltiplos artigos, como a inspiração brilhante que são… e, nada mais.
E, sobre esta incapacidade de fazer algo que sei fazer, porque o tema é esquisito, e me deixa nervosa, ocorreu-me isto que me aconteceu:
Há largos anos, numa entrevista de emprego, e quando me pediram que passássemos à parte em que comunicávamos apenas em Inglês, fiquei de língua atada. Não sabia o que dizer. Eu sabia o que era esperado de mim e, tendo em conta a minha experiência prévia em recrutamento, também sabia o que um soluço destes causa numa entrevista.
O entrevistador, que tinha menos uma década do que eu, vendo que o resto da entrevista correra tão bem, incentivou-me a falar sobre algo que eu gostasse muito, para quebrar aquele impasse (uma falha idiota da minha parte, na minha opinião). Só me ocorreu o quanto gostava de ler, por isso, falei de livros… e a minha língua desatou.
Assim, quando me atrapalho a escrever sobre os meus livros favoritos, que estratégia posso usar para desatar esse nó — nos dedos? — na mente?
Explicar os motivos porque gosto de um certo texto.
Gostaria de convencê-los a ler a trilogia ‘O Senhor dos Anéis’. Bolas! Neste momento, gostaria de convencê-los a ouvir o audiobook versão disponível com banda sonora, e interpretação de texto, disponível em:
‘The Lord of the Rings — The Fellowship of the Ring’ audiobook com versão com banda sonora por Phil Dragash (em domínio público).
‘The Lord of the Tings: The Two Towers’ audiobook versão Phil Dragash (em domínio público)
The Lord of the Rings – The Return of the King | audiobook versão Phil Dragash (em domínio público)
Está fenomenal!
Gostaria de vos oferecer um motivo à prova de balas para que fossem ler esta obra. Mas, não o tenho.
Pensei no argumento emocional, mas sei que, o facto de eu chorar, quando me encontro com partes comoventes de uma história não abona a meu favor, — vá! Admito que, há uns anos que chorar passou a ser a forma de lidar com o excesso emocional, por isso, não será um barómetro lá muito fiável para medir a emoção que algo me provoca. Mas eu podia não vos confessar isto! — Tolkien escreve de uma forma tão bonita que, em certas partes, derramei umas lágrimas sentidas e acredito que, comover-nos é inevitável.
A guerra, as fraquezas dos Homens, a maldade, a ganância, a sede de poder incontrolável, a felicidade, o sacrifício, a abnegação, a rectitude, a bondade, a amizade, o amor, a coragem… e, muito mais, todos estes temas compõem esta obra que é uma expressão interpretativa de tanto da natureza humana que assusta e deslumbra em simultâneo.
A forma como o poder da escuridão, como símbolo do mal, vai crescendo e apanhando na sua sombra todos os que estão desavisados, e não apenas aqueles que já seriam mais inclinados a serem simpatizantes dele… alguma semelhança com a actualidade, não é por acaso.
Esta é a história de Frodo, um Hobbit que, num mundo em que se desconhece por completo a sua existência, e em que se atribui pouco valor aos Hobbits, é encarregue — ou oferece-se para o fazer, após constatar a dificuldade que esta demanda exige de todos os outros — de levar o Um Anel até aos fogos que ardem dentro de Mount Doom, para que possa ser destruído pelo mesmo fogo que o criou.
O Um Anel é o reforço que Sauron, um homem que quer dominar a Terra Média, criou, mas perdeu, no último confronto com os povos. Mas a busca de Sauron pelo objecto é incessante e, quando o mesmo consome todos aqueles que lhe tocam e possuem, o reaparecer do mesmo é inevitável.
Coloco-me sempre perguntas sobre as histórias que mais me tocam e gosto sempre de partilhá-las convosco. Assim, matuto em:
São os Hobbits o povo mais resistente ao poder do Anel? Ou, o objecto tem vontade própria e sabe aguardar pelo momento em que se revelará ao seu verdadeiro dono, e criador, Sauron?
É a magia e o poder de absorver e transformar os outros seres que o rodeiam algo surpreendente? Inesperado?
E, aqueles que não lhe resistem e agem, impotentes no seu auto-controle, são intrinsecamente maus? Ou apenas guiados pelas vontades e circunstâncias?
É a destruição da natureza evitável? O mal só floresce de uma natureza que se destrói e de seres que se transformam?
Como se corrompem os seres racionais? Quanto é preciso para que os valores que deveriam ser guia desapareçam?
Há um grupo de seres que acompanham Frodo nesta demanda e, cada um deles, luta na sua própria viagem de heroísmo, que os confronta com os seus piores receios e desafios, individuais e colectivos.
Cada personagem tem um demónio a conquistar. Cada um deles é confrontado com as escolhas próprias do seu caminho. Nem todos vingam, ou quando confrontados com A Escolha, — a sua escolha pessoal — optam pelo melhor.
E, mesmo Frodo falha, no final. Perante a enormidade da empreitada, a impossibilidade de viver qualquer outra realidade e, no fim, a incapacidade de viver com o que restou do que lhe aconteceu, Frodo falha.
E, tudo estaria perdido se, nas dificuldades, não existisse alguém que se sacrifica por ele, e pela compleição da empreitada.
Assim como, tudo estaria perdido se não houvesse alguém que estivesse pior do que ele (Frodo) e que agisse sob essa influência. E, em quem reconhecemos os efeitos continuados da exposição ao objecto maléfico.
Esta foi a terceira vez que li esta história. Aos filmes, perdi a conta do número de vezes que vi. E, mesmo assim, a cada leitura, e com o passar dos meus anos, descubro significados que, antes, não vi.
Tenho a certeza que, com o tempo, esta história continuará a modificar-se. Aquilo que ela nos conta, e o que infere, com algumas outras histórias escritas no mesmo universo ficcional, continuará a acompanhar-nos.
Há uns anos, o filme Tolkien mostrou-me outra versão da forma como a obra da sua vida nasceu.
E, não foi a primeira vez que recolhi informação sobre o autor e a obra, incluindo para apresentar a outros… a minha Autoscopia final, para o curso de formação de formadores, foi sobre “O Senhor dos Anéis”.
Sabendo que, aqueles há que viram os filmes e nunca irão ler os livros… e, aqueles que nunca viram sequer os filmes, quanto mais pedir-lhes para lerem os livros… e, ainda, os que afirmam com convicção que nunca irão ler ou ver qualquer um dos meios… deixo-vos o desafio: oiçam um pouco do primeiro audiobook (é em Inglês, lamento pela falta de recurso semelhante em português).
Mas, provavelmente, as pessoas que não gostam d”O Senhor dos Anéis” não lêem este blog, pelo que este pedido cai no vazio.
A cada releitura e, à medida que a vida avança, descubro outros sentidos, outras perguntas, novas comparações e metáforas para o que existe.
No início, a questão imaginativa foi determinante para o meu gosto por esta obra. A criação de um idioma é sempre motivo de deslumbre. Assim como, os diferentes povos, com as suas características próprias e magia de uma beleza incomparável. E, tantas referências a outras histórias, outras vivências, outros tempos e outros destinos, muito parecia esconder-se por entre as páginas deste mesmo livro. Muitas outras histórias passíveis de serem contadas e de se cruzarem com esta, num mesmo universo.
Hoje, o que vejo, para além disto tudo é a noção de repetição, de lições não apreendidas, de sentimentos indomináveis, de acções e vontades que fazem com que o mundo se curve aos caprichos de uns.
Esta é uma das minhas histórias favoritas. Um monumento à fantasia. Incomparável na sua construção, abrangência e alcance através dos tempos.
Adoro e recomendo.