o dever de fazer melhor

o dever de fazer melhor

Olá! Sê bem-vindo a este [palavras soltas].

Reflectir sobre o que me apoquenta é complicado. Mais ainda, quando não encontro uma solução viável para remediar o que vejo acontecer.

Mas, continuo empenhada em olhar para mim própria, e tentar compreender os motivos, assim como, olhar em redor e fazer o mesmo. Também, não é que possa fazer qualquer outra coisa.

Compreendo que, por um lado, este individualismo que o ser humano possui, aconselha permanente cautela. Por outro lado, sei que, calarmo-nos é tomar o partido do opressor. E, não faltam bullies nesta vida (e, não apenas na escola). Calar-nos nunca é a melhor opção, se o que temos para dizer estiver do lado de quem procura Proteger.

Ocorreu-me o início deste poema de Fernando Pessoa.

sonhos do mundo

Ocorrem-me duas ideias: A primeira é: é assim que me sinto, na maioria do tempo. A segunda é, o que são ‘todos os sonhos do mundo’?

E, como diz aquela outra frase: “O problema do mundo de hoje é que as pessoas inteligentes estão cheias de dúvidas, e as pessoas idiotas estão cheias de certezas…” — Bertrand Russel

Os homens do mundo têm muitos sonhos, de tamanhos irreais, e consequências desastrosas. E, ciclicamente, vemos os idiotas tentarem tomar conta de tudo, como se apenas eles fossem importantes, e as suas ideologias distorcidas fossem o caminho para todos os que não lhes vêem qualquer outra característica excepto faltas (à escola e não só) e ego ferido.

O resto do poema ‘Tabacaria’ de Fernando Pessoa é, igualmente, revelador, e confuso, e inspirador, e desanimado, e tantas outras coisas, que não dão para explicar. Podem lê-lo aqui, se assim o desejarem.

Diz que os bullies matam sonhos: com palavras, com medo, com violência, com ganância, com insaciável fome, por tudo aquilo que, é demasiado para um homem só…

men kill all they love

[A poesia mostra-nos o mundo. Mostra-o de formas perfeitas, em toda a sua imperfeição.]

No texto acima, Oscar Wilde, participante da procissão de condenados, testemunhas, em direcção ao cadafalso, disse-o melhor. Podem ler o texto, na íntegra, aqui

A vergonha é a cama, onde se deita o homem miserável, quando mata tudo o que ama.

E, é na falta de amor, que encontramos motivos para tudo.

Esta semana, enquanto andei em buscas por novas formas de me ver e , por inerência, ver os outros, quando me deparei (de novo) com a visão de Alain De Botton. No vídeo Your Brain is Wired for Negative Thoughts — sendo que, o título não abrange as mensagens desta entrevista, — vi abrir a porta, para toda uma série de ideias, colocadas de uma forma que faz sentido para mim.

Como De Botton cita:

neglected thoughts

O que tem Alain De Botton a ver com os nossos pensamentos negligenciados? Podem ver, arriscaria dizer, qualquer um dos vídeos dele e descubram.

E, o que encontrei quando relacionei os diferentes temas?

  • Necessitamos repetir para guardar o Conhecimento.

Será essa a nossa necessidade em repetir a História? Em deixar que certas comoções históricas se repitam, mesmo se jurámos evitá-las no futuro?

Ontem, cruzei-me com este texto, uma versão anotada da Carta das Nações Unidas.

charter of the united nations

Deixo a ligação para a versão em Português aqui… e transcrevo apenas o início:

NÓS, OS POVOS DAS NAÇÕES UNIDAS, DECIDIDOS: A preservar as gerações vindouras do flagelo da guerra que por duas vezes, no espaço de uma vida humana, trouxe sofrimentos indizíveis à humanidade; A reafirmar a nossa fé nos direitos fundamentais do homem, na dignidade e no valor da pessoa humana, na igualdade de direitos dos homens e das mulheres, assim como das nações, grandes e pequenas; A estabelecer as condições necessárias à manutenção da justiça e do respeito das obrigações decorrentes de tratados e de outras fontes do direito internacional; A promover o progresso social e melhores condições de vida dentro de um conceito mais amplo de liberdade;

É preciso repetir os conhecimentos para podermos reter o seu significado e relembrar a sua importância. É este o princípio do Ensino, da Religião, e de toda a passagem de Conhecimento. Repetir para compreender e memorizar.

Como alguém que tem dificuldades em reter muita informação, e uma espécie de dislexia chata, que a faz esquecer dados essenciais em momentos cruciais,  e trocar os nomes às coisas, aponto tudo o que posso, e que desejo reter… por vezes, aponto várias vezes, e em vários meios diferentes, para garantir que não desaparecem da minha vida.

Quando somos crianças queremos repetir tudo aquilo de que gostamos. Assistimos ao mesmo episódio de desenhos animados cinquenta vezes, e nunca são vezes suficientes, para findar o prazer que temos em repetir. A seguir, vem a idade em que não queremos repetir nada. Tudo é engraçado, mas só por uma vez, recaindo sempre no argumento que repetir é uma chatice. Permanecemos nesta fase durante algum tempo. E, cada vez que somos obrigados a repetir algo, seja estudar para a escola ou reler um livro, é tudo uma chatice infindável. Depois vem a fase em que queremos repetir, mas só algumas coisas, só aquilo de que gostamos. Esta é a fase em que, muitos de nós, decoram as músicas de um álbum do início ao fim e, trinta anos depois, ainda sabemos 98% do que memorizámos nessa altura.

Mas, no entanto, tudo o que existe e que consideramos chato, difícil ou qualquer outra ideia preconcebida, não merece o esforço adicional de repetir e memorizar.

Esta realidade presente, aconteceu nessa altura, quando éramos jovens e estudar História e Política era chato. Agora, estar à mercê dos que pouco sabem que existiu, e só lutam pelo que querem que seja, à custa seja de quem for, é MUITO CHATO para todos os outros.

Deixo uma alusão, porque me recuso a inserir imagens que me dão náuseas neste blog:

espaço

Com a recusa em repetir até memorizar, em ter curiosidade para investigar, perdemos oportunidades, e relegamos conhecimentos para o esquecimento infinito… e mais além. Entregamos o nosso poder de escolha, a nossa liberdade, aos que arranjaram um ângulo para nos manipular. Esquecemos a necessidade de compreender, e interiorizar, a informação com que nos cruzamos. E, sem informação, não há poder combinatório, ou análise crítica, que resista.

Para não fazermos/sabermos…

excuses

Quando não queremos fazer algo, seja por que motivo for, qualquer desculpa serve para nos isentar da responsabilidade da actividade.

E, esta é uma característica muito humana. Mesmo se, no fundo, sabemos que nenhuma desculpa é, suficientemente, boa para nos isentar da responsabilidade da inacção.

Para o conhecimento que existe, se desejamos retê-lo, ou não, é da nossa exclusiva responsabilidade. Quando escolhemos não procurar, não reter, não integrar no que sabemos porque é difícil, moroso, chato (!), escolhemos abandonar a possibilidade de integração do saber na nossa estrutura individual.

Consideramos irrelevante algo que é importante. Ignoramos algo que faz parte do poder combinatório das ideias, do pensamento crítico relevante, e suportado por factos… não ficção e, decerto, não por mentiras.

know things

  • Necessitamos do Poder Combinatório das Ideias

Recorrer a diferentes fontes, expor-nos a ideias diferentes das nossas, a outras realidades, encontrar novos mundos na informação a que acedemos. Necessitamos de variadas fontes para podermos, de facto, combinar ideias.

Aceder ao Conhecimento para formar opiniões, baseadas em factos, e para re-imaginar situações com criatividade. E, é esta diversidade que alimenta a vida.

Quando vamos à procura de uma solução para um problema, devemos ter em conta que, não há nenhuma fonte única que contenha a solução milagrosa para o que nos aflige, ou precisamos ver resolvido. Pessoalmente, adorava que existisse, mas sei que não há.

Não é a religião que responde, ou a ciência, ou a filosofia, ou a poesia, ou a psicologia, ou este livro, ou aquele. É a miscelânea de conhecimentos combinados que nos poderá ajudar a vislumbrar uma saída, uma ajuda ou, pelo menos, uma ligeira melhoria.

Dizer que “mudamos de médico, e descobrimos o milagre para resolver o problema que desconhecemos”, por exemplo, é só um pensamento enganador. É falsa esperança, baseada em mentiras.

Existem diferentes ideias que podemos investigar e integrar, por forma a colocar em perspectiva e, quiçá, ajudar a esclarecer os pontos que fazem parte da solução que desejamos.

Olhando para a situação presente a nível mundial, sejamos francos, percebemos a fundo sobre temas políticos, funcionamento sociológico, finanças, sistemas financeiros, sistemas bancários, e tudo o que existe nos intermédios, para podermos dizer que este, ou aquele, é melhor e vai, por milagre, solucionar tudo aquilo em que, todos os outros, falharam?

Em especial se, quando falam, só ouvimos o desconhecimento das bases da cultura geral em certos temas?!? Não me parece.

Percebemos alguma coisa de off-shores, cripto-moedas, lobbies ou tráfico de influências, para sabermos qual é a realidade? Não vos dou a minha resposta, mas convido-vos a pensar sobre qual seria a vossa.

Como estratégia, combinamos conhecimentos, que outros investiram os seus recursos em busca de respostas e, por vezes, dão-nos clareza sobre perguntas que desconhecíamos que tínhamos.

E, há sempre alguém que já se debruçou sobre um qualquer assunto… incluindo a forma certa de brincar com pequenas lâminas na infância (como no livro mencionado em baixo).

expert book

Podemos — devemos — sempre, ir em busca do conhecimento anterior, e do contemporâneo, à nossa própria existência. E, mesmo assim, sei que fico sempre aquém de o saber.

Mas, como alguns de nós (os génios?!) têm o poder de colocar as palavras certas, sustentando as ideias que gostaríamos de saber verbalizar correctamente, devemos ir em busca desse conhecimento, e reconhecê-lo pela importância que ele tem.

Encontrar a informação, repeti-la para a reter e combiná-la da nossa forma individual. Imbuir o que sabemos com emoção, é algo que aprendemos a fazer, sejam quais forem os seus propósitos.

  • As palavras seduzem através dos sentidos

Para o bem… e para o mal. Na nossa sociedade, muitas outras áreas de conhecimento aprenderam a usar isto contra nós… ou, melhor dizendo, a favor dos interesses económicos.

Mas, o nosso papel como construtores criativos, é proporcionar uma viagem emocional, algo satisfatório, que seja digno de ser relembrado. Ocorre-me uma professora de História, que me ensinava com verdadeiras narrativas sobre lutas e perseguições emocionantes. Na sua sala de aula, dava gosto aprender História.

Seduzir e ‘fazer acreditar’. Quando isto não acontece, a obra não permanece. Não é relembrada. Usar o que sentimos, o que conhecemos sobre um qualquer sentimento, para provocar o mesmo sentimento nos outros. Usar o que compreendemos bem, para fazer a mensagem passar para quem lê. Usar a informação combinada, e ir em busca da nossa própria versão dos pensamentos, que negligenciámos e que, afinal, eram os mais importantes.

Comunicar um sentimento que nunca experienciámos é complicado e, por vezes, falhamos em fazer o outro senti-lo. Soa a mecânico, a planeado e irreal. E, também aqui, entra a necessidade de nos conhecermos a nós próprios.

  • Colocar no mundo o nosso contributo (positivo) pessoal

Fundamentar opiniões em factos. Conhecermo-nos, e aos nossos mecanismos de defesa, que nos fazem incorrer em certas deturpações dos factos. Reconhecer as nossas falhas. Procurar o que, consideramos, ter valor real para nós próprios e para os que nos rodeiam. Procurar a empatia para connosco e para com os outros. Procurar saber mais sobre nós para compreendermos melhor os outros.

Há muitas circunstâncias, em que o reconhecimento de Bem e Mal é relativo. Mas, muitas mais há, em que nos querem fazer crer na sua relatividade, quando pouco há para ter dúvidas. Saber a diferença, depende dos valores pessoais que nos são ensinados, ou que deslindamos, e nos quais aprendemos a acreditar.

Contribuir para um mundo melhor, com mais respeito, acreditando sempre na necessidade de esforços para o auto-conhecimento, empatia e valores morais. Acreditando que, as nossas palavras — verdades — têm um papel a desempenhar e um poder próprio. E, é nas artes que a mudança começa e, é por onde se começa a cortar, para se impedir certar liberdades.

voice of writers

Tenho sempre a sensação que desejo, e preciso, saber muito mais, para poder escrever aquilo que, de facto, faz parte desta conversa.

  • Aceitar a natureza humana, tão falhada como ela é

Escondem o que são, quem são e não desejam ser. Colocam imposições e expectativas irreais. Têm medo e não o assumem. Depositam esperanças irreais em bens materiais. Suprimem a própria evolução, porque dá trabalho ir em busca das respostas aos seus problemas pessoais… é mais fácil distribuir miséria, dor e irracionalidade.

É difícil aceitar as próprias falhas. Reconhecê-las exige um trabalho devastador, mas necessário. Diz que só podemos trabalhar naquilo que conseguimos ver, certo? Por isso, o trabalho de olhar para nós próprios é necessário.

Na semana passada, fui ao Pavilhão do Conhecimento — Centro Ciência Viva. Uma das obras, no cantinho para observar a realidade, continha as seguintes frases:

pensar requer tempo

Ali no meio, vê-se a porta por onde avançávamos para o cantinho de contemplação com uma cadeira e vários vidros especiais (em ângulo).

Se colocamos toda a nossa energia em sobreviver, como podemos viver? Como podemos contribuir de forma positiva? Como sobrevivemos, ao que nos foi feito, e não o passamos para os outros? Como aceitamos o que é, e trabalhamos para sermos melhores?

Reter conhecimento, repetir, combinar, usar os sentimentos, reconhecer os nossos, contribuir com valor real e positivo, aceitar a natureza humana, procurar sempre soluções e fazer parte da conversa universal. Tentar, sempre.

have faith

Porque no fim e, ao contrário da referência ao poder divino, não temos como compreender a maior parte do que acontece, mas temos o dever de procurar as respostas e de fazer melhor do que os que nos precederam.

Com as nossas artes vêm responsabilidades acrescidas: compreender, reter, transpor, simplificar, combinar, comunicar, relacionar e melhorar.

Temos o poder de ilustrar e combater todas as ideias que não nos parecem (de) bem…

Nittis

… mesmo que, estejamos desconfiados que, apenas podemos sacudir a neve, com uma vassoura demasiado pequena para o efeito.

Obrigada e Até Breve!

subscreve

 

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