Um bom início não significa um bom final. Mas é o início que cativa o leitor.
A qualidade dos primeiros parágrafos determina o sucesso da história. Por um lado, ajuda a vender o livro, naqueles casos em que baseamos a decisão de compra na leitura das primeiras páginas. Por outro, um bom início incentiva-nos a continuar a ler.
Preparar um primeiro capítulo notável deve ser um objectivo e por isso decidi reunir algumas ideias sobre este tema.
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Apresentar a personagem principal
Os leitores querem conhecer a personagem principal assim que começam a ler o livro, no primeiro parágrafo e se possível na primeira frase. O que não implica uma obrigatoriedade em fazê-lo, apenas a constatação de que os leitores preferem assim e que apresenta vantagens óbvio no despoletar do seu interesse.
É preferível iniciar a história com o nosso herói do que com uma personagem secundária. O objectivo é fazer com que o leitor se relacione com a personagem principal e fomentar o interesse pela história.
Ao apresentar a personagem principal é aconselhável colocá-lo em acção, em vez de descrevê-lo exaustivamente. Descrever a sua aparência física, o que ele gosta de comer ou o que gosta de fazer nos tempos livres, é aborrecido e não irá cativar o leitor. Mas se o colocarmos em plena acção, a discutir com alguém, a fugir de algo, a lutar… incentiva o leitor a continuar a ler.
Iniciar a história com um evento intrigante, com ritmo suficiente que faça com que o leitor não seja capaz de largar o livro enquanto não descobrir o que se passa com a personagem, é um bom “isco”.
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Acção desde o primeiro momento
É preciso deslumbrar o leitor no primeiro parágrafo, na primeira página e no primeiro capítulo. Se não prendermos a sua atenção, o livro será fechado para nunca mais voltar a ser folheado. Para concretizar este objectivo é necessário dar-lhe uma acção a desempenhar ou um problema para resolver. Como por exemplo: o início do “Código Da Vinci” cuja história tem início com um telefonema e lança um isco para um homicídio brutal e intrigante.
Iniciar o livro com a voz interior do personagem, ou com um bom diálogo, ajuda a cativar o público preparando-o para a história e para o personagem principal. Especialmente se o colocarmos numa situação delicada que ajude o leitor a conhecer um pouco a personagem.
Dar um problema ao herói para ele resolver, assim que a história se inicia é uma estratégia interessante para manter o leitor agarrado ao livro. Este problema poderá ser um dilema no qual o herói se encontra. Algo que nos faça relacionar com a personagem, que nos faça preocupar o suficiente para continuarmos a ler, que coloque o personagem perante um problema de difícil resolução e que nos faça sentir empatia pelo herói e desprezo pelo vilão.
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Introduzir a história subjacente
Outro ponto a considerar é, no início do livro introduzir a história subjacente. Esta refere-se àquilo que faz com que o herói seja o que é. É o seu passado, a sua história de vida, que influencia a sua personalidade e as suas acções.
É este contexto do personagem que permite que o leitor se relacione ou compreenda as acções do herói e que lhe fornece as informações mais fundamentais sobre a personagem. É este contexto, esta história subjacente, que serve de plataforma para o crescimento da personagem à medida que a história avança.
Contudo, não devemos iniciar o primeiro capítulo com esta história subjacente nem descrevê-la exaustivamente. Fazê-lo irá aborrecer o leitor e levá-lo fechar o livro.
Este contexto deverá ser fornecido ao leitor após o início do primeiro capítulo, a seguir à colocação do problema. Só após iniciar esta introdução ao problema do personagem é que devemos incluir uma curta introdução da história subjacente do personagem, do seu passado. Uma ou duas páginas para contextualizar as acções do herói, mas apenas se se enquadrar na história principal, no enredo global do livro. Se esse enquadramento não existir, é preferível guardar essa exposição para um outro capítulo posterior.
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Usar a Voz Activa
Outro aspecto importante é escrever na voz activa. Fazê-lo ajuda-nos a captar a atenção do leitor e a mantê-la. A voz activa não deve ser exclusiva dos diálogos, mas ser usada mesmo nas partes mais descritivas da história.
E devemos limitar o uso de adjectivos. Os adjectivos devem ser colocados quando contribuam para a história, e eliminados quando a sua utilidade se resume a embelezamento do texto. A mensagem pode e deve ser transmitida de forma simples e o uso excessivo de adjectivos compromete essa passagem.
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Aplicar a gramática correctamente
Os melhores livros são aqueles agregam uma boa história e que são escrito correctamente. A gramática é tão importante como as personagens e o enredo, especialmente quando apresentamos o nosso trabalho a uma editora.
Erros gramaticais e ortográficos, retiram a credibilidade do escritor e da obra em questão. Claro que, a correcção gramatical não deve limitar-se ao primeiro capítulo, mas sim a toda a história.
Para evitar alguns destes erros é aconselhável ter um ou dois leitores capazes de testar a história, antes do seu envio para as editoras. Normalmente, consegue-se reduzir o número de erros existentes ao introduzir este “grupo de controle”. Eles são capazes de identificar mais facilmente aqueles erros que escapam ao escritor.
O capítulo inicial deve ser intrigante, cheio de energia e tensão, agarrando o leitor e mantendo-o viciado no que irá acontecer a seguir, sem revelar demasiado logo à partida.
O final deste primeiro capítulo, assim como dos outros, deverá acabar num clímax que convide o leitor a virar a página e a continuar a ler o capítulo seguinte.
Um primeiro capítulo excelente garante um leitor atento e interessado. Essa será a plataforma sob a qual podemos construir uma boa história. Claro que, um livro não é feito apenas do primeiro capítulo, mas de vários. Mas este é um tema para outro artigo.
Conhecem mais estratégias que tornem o 1º capítulo notável? Partilhem as vossas ideias sobre este tema.
ΦΦ
Como gostei…
Era exatamente o que necessitava.
Obrigado, rs.
Maravilhoso, ajudou de muitas maneiras. Obrigado!
Ainda bem que pude ajudar 🙂
Muito bom texto.será bastante útil
agradecida pela ajuda
Obrigada, Nádia. É muito bom saber que pude ajudar.
Obrigado pela por tirar minhas dúvidas. Bjs!
De nada. Obrigada pelo comentário 🙂
Ótimo artigo, muito feliz acho que estou no caminho certo.
Obrigado!!
Obrigada, ainda bem que pude ajudar 🙂
Dicas muito valiosas! Estou cheio de ideias, mas sempre fico perdido em relação ao primeiro capítulo, muito obrigado.
Sara me explique como fazer os diálogos,cenas,capítulos e sinopse?Primeiro eu faço o roteiro?
Bom dia, Luan. Infelizmente, e pela natureza da informação que pretende, não me é possível fornecer directrizes sobre esses temas (pela quantidade e complexidade dos mesmos) através deste campo de comentários. Mas, sugiro que leia tudo o que possa sobre esses temas em livros, sites e blogues da especialidade. Na série Recursos do Escritor, aqui no blog, também encontras a minha abordagem a muitos desses temas. Em dúvidas mais específicas e curtas, talvez consiga ajudar. Obrigada por comentares.
Para quem escreve, é de grande ajuda suas dicas.Que Deus abençoe. Obrigada.
Obrigada, Vera. É muito bom saber que ajudo quem lê o blog. Muitos sucessos para a sua escrita.
Eu devo começar a história com o personagem já transformando no herói, e no mesmo capítulo mostrar o motivo dele ter se tornado heroi? Preciso de ajuda.
Olá, Maurício. Referes-te à estrutura dramática de uma história. Sugiro que procures ler algumas coisas sobre o assunto (pesquisa estrutura dramática e vê o que te aparece) e podes começar por este artigo aqui no blog: https://blog.sarafarinha.com/2012/01/31/estrutura-dramatica-de-um-conto/
Espero ter-te orientado na direcção correcta.
Boa sorte com os teus escritos.
Muito bom, me ajudou bastante.
Obrigada, fico feliz com isso.