Recursos do Escritor: De que são feitas as histórias

Uma história é feita de cenas, pequenos retratos que captam uma situação e passam uma mensagem. Em cada uma dessas fotografias observamos um evento ou situação que impulsiona a história para a frente ou que conta algo do que ficou para trás. Ao juntar todas essas fotografias obtemos uma continuidade, um decorrer de cenas que formam um conjunto.

Um exemplo gráfico disto são as ilustrações que compõem os desenhos animados. Em cada uma das folhas há um quase imperceptível movimento da personagem. Ao folhear todos os desenhos, de uma só vez, todos esses ínfimos movimentos fazem a personagem ganhar vida. Cada imagem fá-la mover-se e contar a sua história.

Cada cena deve responder ao: quem, onde, como e porquê. Deve também contribuir para revelar o objectivo global da história. Em textos de formato curto cada cena deve condensar, de forma propositada, a resposta a todas estas perguntas. Devido ao seu formato, cada cena sofre o peso da responsabilidade acrescida. Cada frase importa, cada palavra é determinante.

Em textos de maiores dimensões, cada capítulo é composto por várias cenas. A articulação dessas cenas num todo deve responder às mesmas questões mencionadas acima, mas possibilita-nos a latitude necessária para convergir mensagens diferentes, mais complexas ou abrangentes.

(Em poesia condensamos cada mensagem numa estrofe em que, cada palavra, quando posicionada com mestria, é o mundo).

Se no formato curto a capacidade de síntese é lei, nos mais longos aprofundar significâncias é chave-mestra. Assim, cada cena deve ser criada com atenção e intenção de concretizar todas as suas potencialidades individuais. Cada conjunto de cenas, com consciência da inter-relação. Cada capítulo, com o intuito de progressão da narrativa. Cada texto completo, como um conjunto inteligente de cenas que atinge o seu objectivo.

O miúdo determinado em passear o Chihuahua, todos os dias à mesma hora, é uma cena relevante se convergir a importância da personagem, do local, do acto em si e do estabelecimento de significância. Mais tarde, o adulto responsável que abomina atrasos e age como se sofresse de um distúrbio obsessivo-compulsivo, terá sido enquadrado convenientemente.

É da responsabilidade do autor identificar e construir as cenas mais indicadas para cada história, com a certeza que, a mesma história contada por duas pessoas diferentes incluiria cenas diferentes, pois cada cena é a perspectiva única e individual do autor sobre aquilo que deseja contar.

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