Opinião à parte, notei que tenho alguma dificuldade em escrever opiniões sobre livros que não despertam em mim aquela excitação de quem ama ou odeia demasiado. Sentir-me assim-assim ao ler uma obra é meio caminho andado para não escrever qualquer opinião sobre a dita. Tem sido o caso com ‘A mecânica da ficção‘ de James Wood.
Escrever uma opinião sobre uma opinião (a de James Wood) tem sido algo… laborioso. É um livro de leitura acessível. É um livro que reúne bons exemplos e citações interessantes. É um livro que aflora algumas questões pertinentes para quem gosta de escrever. Mas, acima de tudo, é um livro que se destaca pelas referências que faz a outras obras. São muitas. São relevantes. São… um desejo de colocá-las a todas na lista dos textos a ler em breve.
James Wood é o crítico literário da actualidade. Não sei se é o melhor, o pior, ou o assim-assim. Sei que defende alguns pontos válidos. Fundamenta opiniões com exemplos menos corriqueiros. Defende teorias baseadas naquilo em que acredita.
“Escrevem-se diariamente muitos disparates sobre personagens de ficção – do lado daqueles que acreditam demasiado nas personagens e do lado daqueles que acreditam pouco.”
Algo menos simpático: aborrecem-me notas de rodapé gigantescas. Se há necessidade de serem assim tão extensas não teriam sido enquadradas no texto de outra forma?
Agrada-me a forma simples e divertida com que alguns pontos de tensão literária são abordados. Cativou-me a adição de referências à minha lista de textos a ler. E foi uma leitura aprazível.
O que retive deste livro? Vi alguns aspectos da narrativa ficcional debatidos de forma directa e objectiva. Alguns preconceitos analisados à luz da experiência pessoal de Wood. Algumas perguntas colocadas e respondidas de forma directa e clara.
“À luz deste novo paradigma do público invisível, o romance transforma-se num poderoso analista de motivações inconscientes, uma vez que a personagem já não tem de dar voz às suas motivações: o leitor torna-se hermeneuta, procurando nas entrelinhas a motivação real.”
Somos guiados por diversos autores, obras sonantes, comparações, ilações e conclusões acerca de histórias, das suas personagens e das hipóteses testadas pelos seus autores. Wood guia-nos de forma prática mas, sempre, algo filosófica através dos meandros das significâncias ficcionais.
“… será a ficção capaz de produzir afirmações verdadeiras sobre o mundo? – é a questão errada, porque a ficção não nos pede para acreditarmos em coisas (num sentido filosófico), mas sim para imaginarmos coisas (num sentido artístico)…”
Tive alguma dificuldade em escrever uma opinião sobre este livro, talvez porque, a diversidade e abrangência de temas, e a profundidade debatida de opiniões formadas através da larga experiência em leitura e análise crítica ficcional, sejam difíceis de abarcar numa só passagem.
“O romancista mostra-nos a vida como ela é; mas também é uma feiticeira egípcia, sem problemas em admitir que está a conjurar a vida do nada à nossa frente (hypotyposis).#
Este é um livro para ser degustado. Analisado e, então, opinado. É um livro que gerou um número digno de notas e ao qual voltarei, ciente que muito me passou ao lado.
Podem ler mais sobre ‘A Mecânica da Ficção’ aqui…
Podem adquirir uma cópia aqui…
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