Andava eu a perscrutar a última ‘Bang’ (N.º 18, Julho 2015) quando me deparei com uma pergunta deveras pertinente:
“Escreves livros sobre o quê?”
Aquilo trouxe-me algumas recordações interessantes e outras deveras embaraçosas. Quem está à altura para responder a uma coisa destas? Não sei. Umas vezes acho que estou. Outras, falho redondamente. (Será ilusão nas que estou?)
Enfim… Esta é a pergunta fatídica. Aquela de que todos fugimos. Que provoca confusão, consternação e, mesmo, puro embaraço. E, quando damos resposta, ela é muitas vezes uma não-resposta… A única possível, em prol do resumindo e concluindo, para quem não tem noção de géneros, subgéneros, inspirações, cruzamentos e complicações.
Foi com um enorme interesse que li o artigo “A dificuldade de se vender o próprio peixe” de Eric Novello. E este era o tema deste texto: como responder à pergunta “Escreves livros sobre o quê?”
Somos autores… Mas, de quê?
Escrevemos histórias… Mas, sobre o quê?
Criamos obras… Mas, elas são o quê?
Eric responde a estas questões com a mesma autoconsciência demagógica que eu costumo usar quando respondo ao ‘sobre o quê?” A conversa, normalmente, costuma decorrer dentro destas linhas:
“Ah! Escreves livros? Que giro! Sobre quê?”
Normalmente, eu respondo, “Fantasia, Ficção Científica, e assim…”
“Ah…” (o tom de decepção na voz) ou “Que giro!” (e depois avançam com alguma pergunta daquelas típicas de leigos)… Por vezes, também continua com um “Eu também escrevo. Ando a pensar escrever um livro… (há décadas, diga-se de passagem…)
E, se avançam, também acontece com frequência dizerem “Eu não gosto de Fantasia… é mais, romance… ou banda desenhada… ou, é mais bolos” ou algo do género. E eu respondo um “Pois.” E fico a rezar para que o assunto morra ali.
Mas há também aqueles que dizem “Gosto de Fantasia…” E lá fico eu a desejar que o assunto tivesse morrido ali, porque tudo é Fantasia… tudo o que passa na televisão e no cinema, tudo, em todo o lado, excepto o último livro semi-lido, que data de 1989… quando ainda eram obrigados a ler alguma coisa que não fossem legendas.
E, no entretanto, só peço para eu própria saber “sobre o quê”, “para quê” e “o quê”. É que todas as outras perguntas se importantes, empalidecem se eu não sei “o quê”, “para quê”, “porquê” e “o quê”.
Escrevo? Sim. Escrevo cenas.
Muitas vezes lamento o que não tive oportunidade de escrever. Lamento aquilo que não tenho tempo de elaborar. Aquilo que não tenho paciência para criar. Tudo o que deixo fugir por entre os acontecimentos dos dias compridos.
Outra coisa que li, num destes dias (num dos artigos do Jeff Goins): vai para casa todos os dias e dedica o teu tempo livre a aprender/praticar uma coisa. Torna-te bom nessa coisa. Sê o melhor. E, mesmo que tenhas de a abandonar, por qualquer motivo, sabe que não faz mal. Importante é fazer alguma coisa. É ser o melhor em alguma coisa.
É desejar ser realmente bom em alguma coisa… e fazer os esforços para que isso aconteça.
Escrevo? Sim. Um dia, conseguirei definir sobre o quê. Um dia, não necessitarei de dar qualquer resposta.
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Um comentário em “Palavras Soltas: “Escrevo sobre o quê?””