Escrever é solitário. Não apenas o acto em si, mas tudo o que a escrita envolve. Por tradição, e definição, todas as actividades inerentes à escrita são (melhor) feitas quando estamos sozinhos.
Escrevemos sozinhos. Lemos sozinhos. Tiramos notas sozinhos. Aprendemos sozinhos.
Não deixamos muito espaço para que o Mundo exterior entre na nossa vida… excepto quando a isso somos obrigados.
“Escrever é a mais solitária das artes. O próprio acto de nos afastarmos do mundo a fim de criar um contramundo «fictício» – «metafórico» – revela-se de tal maneira curioso que escapa à nossa compreensão. Porque escrevemos? Porque lemos? Qual o possível motivo para a metáfora? Por que razão alguns de nós, escritores como leitores, fizeram do «contramundo» uma cultura predominante, por vezes até mesmo à exclusão do actual mundo, na qual podemos viver?” Joyce Carol Oates, ‘A Fé de um Escritor’
Quando desejamos, e nos habituamos, a viver desta forma nunca queremos, e raramente permitimos, que os outros entrem e ocupem espaço na nossa rica vida interior… felizmente, a maioria dos outros também não o quer.
Odiamos que venham perturbar a desejada solidão. Que perturbem a paz tão necessária às actividades da mente. Que nos impeçam de continuar o nosso processo criativo. Que nos afastem do (tão escasso) tempo para a escrita. Que o nosso instinto os veja como a ameaça a eliminar.
Durante aquelas horas, fechamo-nos ao Mundo. Isolamo-nos. Dedicamo-nos com ardor, dor e amargura, ao que acreditamos ser A Vocação.
E, quando a fonte de inspiração se esgota, perguntamo-nos ‘Porquê?’ Ficamos confusos porque o processo criativo, tal como nos habituáramos, já não funciona como devia… Como acreditamos que devia funcionar.
Fechamos a porta e deixamos o mundo lá fora.
Mas, para que criamos nós senão para o mundo lá fora? Não criamos, apenas, para nós mesmos. Criamos para aqueles de quem nos protegemos. Criamos para aqueles de quem procuramos nos isolar. Criamos para aqueles que nos empurraram para a vida solitária de escritor.
Refugiamo-nos na nossa realidade, desejando deixar o Mundo lá fora. E, os que nos são próximos, passam a fazer parte desse outro Mundo lá fora, ao invés do nosso.
Como em tudo, é difícil encontrar a medida certa. Saber quanto de cada coisa queremos que faça parte de nós, e do nosso mundo interior, e quanto deixar de fora.
É difícil saber quando regressar à realidade que tanto se opõe ao que gostamos de fazer. Saber quando isolarmo-nos e quanto partilhar do que somos com o mundo exterior.
É difícil aceitar que o nosso mundo interior faz parte desse grande mundo exterior. E, que os outros são imprescindíveis a essa nossa outra vida. Que são aqueles que fazem parte da nossa lida, que nos mantêm saudáveis, e gloriosamente vivos.
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