Ando aqui a pensar… se não consigo comprometer-me a escrever, pelo menos, 500 palavras por dia como posso pensar em produzir algum texto de jeito?
Tenho participado numa série de desafios artísticos mas pouco voltados para a escrita. Claro que, mesmo nestes em que a fotografia impera, acabo sempre por complementar com algo escrito. Contudo, para mim, não é suficiente.
Ajudam a inspirar? Sim.
Ajudam a reunir ideias? Sim.
Ajudam a sentir que faço parte de algo comum, mesmo à distância de continentes entre os participantes? Sim.
Com isto em mente, atirei para dentro do saco uma pitada de leitura sobre a construção de uma plataforma de autor, e a formação de tribos, e percebi que não ando a fazer as coisas bem.
Há uns tempos participei num desafio literário chamado My 500 Words (sobre o qual podem ler aqui…). O objectivo era durante um mês, todos os dias, escrever pelo menos 500 palavras por dia.
Encarei o desafio como algo possível e fi-lo. Não segui motes, completei projectos em andamento, e só falhei 2 vezes a quota diária.
Há pouco tempo dei-me conta que, curiosamente, uma boa parte dos que se inscreveram no My 500 words continua a participar. Quase três anos depois, continuam a produzir conteúdos com consistência. O grupo privado de facebook atesta-o e os seus blogues/websites/diários/obras pessoais também.
Eu parei. No final dos 30 dias, parei.
Claro que não deixei de escrever. Mas, deixei de me sentir responsabilizada por produzir e, especialmente, contabilizar uma quantidade mínima definida.
GRANDE ERRO O MEU.
Dei-me permissão para desistir. Não vou mentir e dizer que nunca penso em desistir. Todos os dias penso nisso. Pior, todos os dias penso que se, ao continuar assim, meio aqui, meio ali, não será a forma mais cómoda de desistência.
Eu não quero desistir.
Quero perceber porque resisto tanto na altura de começar a escrever. Quero sentir que a ficção que produzo faz sentido para mim. Não apenas os escritos do blogue ou a não ficção.
Porque eu acredito, mesmo, que não precisamos de validação pública para produzirmos a nossa arte. Aliás, na maioria dos casos, ela mete-se no caminho e confunde aquilo que fazemos por Amor.
Mas era simpático poder viver um pouco mais despreocupada com manter dois trabalhos. Sem sentir que o segundo apenas me suga os tempos livres e pouco acrescenta ao mundo real que me rodeia.
Mas, voltando ao tema em questão…
Eles não desistiram. Não chegaram ao fim dos 30 dias e disseram “Bom, acabei!”
Continuam a ir buscar ao grupo, e à força da partilha entre todos, aquilo que precisam para continuar a produzir, pelo menos, 500 palavras por dia. Usam essa plataforma de sustentação e de responsabilização para serem consistentes na produção da sua arte.
Engraçado é que Jeff Goins, o organizador do My 500 Words, assumiu outro papel. Ele é agora, arriscaria dizer, quase irrelevante para a continuidade do movimento que criou.
Eu continuo à procura do desafio que, por fim, exerça esse mesmo apelo sobre a minha escritora ficcional interior. A gaja que produz duas mil, três mil palavras por dia, sem olhar para trás. HA HA!
Para já, estou na recta final do #augustbreak2016, com algumas descobertas pessoais fenomenais que, espero ter coragem, para partilhar convosco num próximo artigo.
E, encontro-me a considerar, seriamente, voltar ao My 500 words em Setembro.
Talvez seguir os motes dados pelo administrador… Não sei… Talvez experimentar lançar um pequeno desafio em Português… que isto de andar sempre a escrever em Inglês, para estas coisas, tem os seus inconvenientes.
E tu? Já pensaste em desistir? O que te faz continuar?
Deixa a tua resposta nos comentários. Será muito bem-vinda.
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Sara, comecei a escrever o primeiro romance. Fiz o primeiro capitulo, mas não consigo seguir adiante mesmo já tendo esboçado o segundo e até iniciado um texto. Ás vezes, penso de esquecer tudo e toca a vida como se não tivesse essa necessidade de escrever. Ainda mais num país em crise e que poucos tem acesso aos livros. Mas me propus uma nova meta, três páginas por semana. Tenho essas dificuldades porque possuo outro emprego. E ainda é o primeiro livro. Mas a vontade de largar tudo é grande. Mas desejo ir tentando esse meu novo objetivo modesto, na verdade, três páginas por semana.
Olá, Mauro. Infelizmente, somos muitos que sentem as mesmas dificuldades que tu. As metas são sempre uma boa ideia. Eu estou na mesma luta mas defini 500 palavras de ficção por dia. Vamos ver como corre… Boa sorte para os teus escritos e muita força!
“Sem sentir que o segundo apenas me suga os tempos livres e pouco acrescenta ao mundo real que me rodeia.” Eu ainda não sinto isso, talvez porque só esteja a começar. Desde sempre sinto uma necessidade enorme de escrever, penso nisso constantemente, até que cheguei à conclusão que não interessa escrever um livro que talvez ninguém vá ler, se calhar não interessa até escrever um livro, mas interessa-me escrever, escrever algo, a minha história, a história dos outros e muitas outras histórias que tenho na minha cabeça, algumas, por não as escrever, tenho pena de as ter esquecido. Tenho 40 anos, mas não sinto o peso da minha idade… mas sinto o peso do tempo que perdi não escrevendo, por isso, tarde é melhor que nunca para começar e digo-te, Sara, podes não ver agora, mas tarde ou cedo irá acrescentar MUITO ao mundo real que NOS rodeia. Persevera. Muita gente morre sem nunca descobrir o que gosta de fazer. Tu descobriste até um dom.
Olá, Sandra. Obrigada pelas tuas palavras. No dia em que publiquei este texto, curiosamente, voltei a escrever ficção. Um começo…