Arte, um sinal de Esperança

um sinal de esperança

A arte não deve ser sinónimo de sofrimento mas de Esperança. E, numa confluência de sincronismos, relativos a um tema ao qual sou sensível, dou início a Setembro com alguns pensamentos sobre literatura e a prevenção do suicídio.

Setembro marca a data de prevenção do suicídio. No dia 10 de Setembro celebra-se o Dia Mundial da Prevenção do Suicídio, uma data criada pela Associação Internacional para a Prevenção do Suicídio e pela Organização Mundial de Saúde, que propõe prevenir o suicídio usando os meios, de cada país, para combater esta realidade.

Setembro marca, também, o princípio do Outono e, por motivos que desconheço, costuma ser um mês em que pessoas que sofrem de depressão e ansiedade, costumam padecer de sintomas mais intensos durante a transição entre estações. Uma ocorrência que muito me incomoda, confesso.

O terceiro factor que marca este artigo é a relação íntima entre escritores e as experiências de saúde que levaram a este acto último.

a room of one's own

Virginia Woolf, Mário de Sá-Carneiro, David Foster Wallace, Camilo Castelo Branco, Ernest Hemingway, entre muitos outros, cometeram suicídio em diferentes alturas, e circunstâncias, das suas vidas.

Se, para alguns, a época em que viveram não permitiu um acompanhamento, e tratamento, adequado ao que experienciavam, levando-os a decidir terminar as suas existências, outros houveram que viveram em tempos mais modernos, em que a medicina já não era feita de serras, escopros e exsanguinações, e, mesmo tendo recursos, optaram por pôr fim à própria vida.

Não acredito em Saúde do Corpo diferenciada de Saúde Mental. Acredito que o homem é um todo e a sua saúde também. Não há corpo saudável se a mente não o for também… afinal, o cérebro é um órgão no corpo. Evoluímos porque nos adaptámos como um ser completo.

Separar Corpo e Mente parece-me inexacto e pouco concordante com a nossa existência.

Ao longo dos tempos, a ligação bem conhecida entre pobre saúde mental e os escritores, criativos, ou artistas tem sido irrefutável.

Considerados como as pessoas que contemplam angústias, que padecem de uma constante inadequação à vida, complacentes com estigmas, incapazes de ultrapassar mais uma crise seja qual for o motivo, são bons candidatos a esta prática… aqueles que pensam demais e que reconhecem o melhor, ou o pior, da humanidade e da natureza humana.

Mas esta é uma realidade possível para todos. A nossa vida actual é devastadora para a saúde, em todas as suas dimensões. Progredimos tanto, em tão poucas décadas, que nos tornámos incapazes de adaptar e evoluir. E, assim, adensámos esta maleita para todos, começando pelo decair da saúde emocional e mental…

Mas, como escritores, a pessoa que somos é a força de impacto na nossa escrita… questões mentais incluídas.

Quando o meio que nos rodeia não nos favorece, quando se torna difícil esquecer certas ocorrências, quando o que amamos fazer não nos mantém, quando não sabemos desmontar estas teias, quando vivemos isolados e em silêncio sobre o que nos acomete, a saúde decai.

Tudo o que aprendemos a ser, quando todos os resquícios do que vivemos de menos bom permanecem na nossa consciência, quando não pedimos a ajuda que precisamos… quando somos atacados pelos que eram suposto defender-nos… tudo isto ajuda a construir a nossa obra.

Também não acredito na romantização da ideia, do escritor que produz a sua melhor obra quando torturado, procurar a estabilidade saudável parece-me a melhor opção. Para nós, como escritores, e como pessoas.

Karma

 

Relembro algo que escrevi na sequência do artigo de opinião sobre o livro ‘Big Magic’ de Elizabeth Gilbert:

A maioria de nós, pessoas, não acredita que haja reciprocidade na nossa relação com a Natureza. Ou que o Mundo goste de nos ter cá. Ou que a nossa arte possa ter uma relação de reciprocidade connosco, o seu criador.

Acreditamos que a Arte nos odeia e nos destrói, que nos ignora e que é má para nós, enquanto seus criadores. Que é um tormento em todas as fases do processo criativo. Alguém (ou muitos alguéns) nos vendeu a noção de que arte é sinónimo de sofrimento. E, de lá para cá, tornámo-nos viciados nisso.

Chegamos mesmo a acreditar que, se a arte não nos traz angústia, é porque não estamos a ser tão profundos como podemos ser… e, não estamos a fazer alguma coisa bem. – SF em artigo de opinião sobre ‘Big Magic’ de Elizabeth Gilbert – Parte II

Produzir arte é uma ideia dissociada de viver bem. Temos preconceitos e, como escritores, abraçamo-los com imensa paixão. Share on X

A maioria de nós, nunca deixa de ser aspirante a escritor. Nunca se dedica com a mesma intensidade a esta profissão, como é obrigado a fazê-lo em qualquer outra.

E, lentamente, deixamo-nos tomar pelo que é suposto fazer, ao invés de fazermos o que é suposto: o que é melhor para nós.

Como escreve Rilke:

must I write Rilke

A arte não deve ser sinónimo de sofrimento mas de Esperança. Assim como, a vida não pode ser feita apenas de sofrimentos reais, imaginados ou imagináveis.

Faz parte da nossa composição, como pessoas criativas, usar os nossos recursos, muito próprios, para ajudar a aliviar o impacto daquilo que a manutenção da saúde nos traz.

Usar o que escrevemos para libertar o que sentimos.

Ensaios, histórias, diários, páginas matinais, blog… é escolher a forma e darmos-lhe forma.

Usar os projectos em que embarcamos para dar um propósito, e um sentido, às actividades que fazemos.

Escolher aqueles que nos agradam: um desafio de leitura, um concurso de fotografia, 50 000 palavras em Novembro…

Usar a nossa arte para redescobrir a felicidade e a esperança no próprio produto do que criamos.

Criar o que gostamos de criar. Cruzar as artes que gostamos de praticar. Relaxar enquanto criamos qualquer coisa… seja o que for. Criar e permitir que essa experiência alimente todas as nossas artes… que nos alimente como pessoa.

Usar o que gostamos de fazer, para gostarmos de o fazer, e de andar por cá.

Um tipo de ouroboros de actividade criativa.

E, nunca esquecer, que há ajuda. Há ajuda. Mesmo se, por vezes, não vemos nenhuma. Sejamos a nossa própria ajuda quando escolhemos pedir ajuda a outros.

Sempre manter o foco na Esperança, nas pessoas que amamos, nos projectos que gostamos de empreender, no momento presente, sem esperar nada mais do Futuro que não seja aquilo que possamos, nós próprios, providenciar.

Em Portugal:

Campanha Nacional de Prevenção do Suicídio

ManifestaMente

SNS – Linhas de Atendimento Gerais

SOS Voz Amiga

Sociedade Portuguesa de Suicidologia

Outros Recursos interessantes:

Calendário da Saúde Mental (UK)

Uma organização feita de Cartas

pergunta

Obrigada e Até Breve!

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Um comentário em “Arte, um sinal de Esperança”

  1. É uma dadiva dado por Deus, para fazer qualquer explanação do conte´ udo. As emergências são para levar as pessoas a pensar muito sobre todas as regras habituais.
    A necessidade de vida é a expectativa ensinada. Transmitindo de indelével os primórdios do conceito de sua validade na futura dedicação aos ensinamentos cooptados.

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