Sempre adorei manter cadernos de apontamentos. E, em simultâneo, sempre odiei escrever diários. Contudo, há uns anos, estas convicções sofreram um abalo valente.
Primeiro, porque o acumular de cadernos de apontamentos, sem qualquer índice ou ritmo, deixam-me perdida.
Segundo, porque comecei a experienciar a necessidade de “falar comigo mesma” e, para isso é que servem os diários, ou o formato de eleição aqui por estes lados: as páginas matinais.
Terceiro, porque com a necessidade de orientar a minha vida, compilando o que considero essencial manter sob controlo, é indispensável manter isto anotado algures… o que exige apontamentos escritos.
Quarto, porque a produção literária, pessoal (até as listas de compras) necessitam de ferramentas que me possibilitem mantê-las definidas, para poder executá-las.
Para conseguir progredir realmente, é preciso compreender os efeitos dos seus esforços. É necessário compreender não apenas o que não está a funcionar, mas também porquê. (…) Quanto mais sabemos, mais eficazes são as nossas acções, e mais progressos podemos fazer. – Ryder Carroll em “O Método Bullet Journal”
Antes dos bullet journals…
Comecei por manter uma série de ferramentas, agendas e cadernos, que me proporcionavam uma sensação de produtividade confusa (ou confusão produtiva).
Nunca me recordava onde tinha apontado aquela ideia que precisava no momento e, na maioria das vezes, quando procurava nos diferentes repositórios de informação, acabava por não conseguir localizá-la. Ocorrência cuja própria recordação me enche de ânsias.
Saltava do telemóvel, para o computador, para a agenda, para o bloco de notas, para o caderno de apontamentos, para a lista, até aos post-it’s soltos por aqui… e, na maioria das vezes, desistia sem conseguir encontrar o que procurava.
Há dois anos, iniciei um bullet journal por minha conta. Cruzei-me com uns daqueles designs dignos de Instagram e passei a tentar perceber para que serviam e como me podiam servir.
Confesso que, nesta fase, a ideia de cortar e colar imagens, pôr carimbos ou autocolantes, e montar verdadeiras capas de informação visual, era o que mais apreciava na actividade. Estava extasiada com a possibilidade de poder desenhar coisas bonitas mais do que interessada em apontar o que me fazia falta.
Foi quando necessitei de instituir outras práticas, como ‘gratitude’, consideração diária de ‘palavra anual’, tarefas a fazer e, uma das impulsionadoras definitivas, registo de Mind Tools (coisas que contribuem para me desenvolver e às minhas artes), que comecei a sentir que as coisas podiam evoluir para outras formas.
… um refúgio analógico que provou ser de inestimável valor ao ajudar-me a definir o que era realmente importante.” – Ryder Carroll em “O Método Bullet Journal”
Sou sincera, experimentei os registos de hábitos, de saúde, de comida e até de leituras. Abandonei todos. Afinal, eu sei que práticas me servem e, essas, estão presentes em cada um dos meus dias.
Não preciso registar o que faço, todo o santo dia, porque sei-o de cor. Não me esqueço da hora de acordar, do que posso comer, ou quantas vezes medito por semana…
Preciso, sim, de controlar as mudanças a instituir em cada dia.
Preciso saber, em detalhe, o que planeio, onde me inspirei, o que vi e me marcou pela positiva, o que construo com isto tudo. Preciso apontar tudo o que não posso esquecer… porque a memória é uma coisa curiosa.
… o próprio layout do Bullet Journal lembrava-a de que as tarefas diárias faziam parte de um objectivo maior.” – Ryder Carroll em “O Método Bullet Journal”
O reencontro com os bujos alheios…
Dois anos depois, cruzei-me com uns vídeos sobre bujo adaptado e, por coincidência, encontrei o livro que deu origem ao movimento Bujo ou Bullet Journal, com um mega desconto no preço.
Li-o devagar. Marquei páginas. Sublinhei informação preciosa. Fui pondo em prática o que lia. Substituí detalhes, que não serviam os meus intentos, por outros de mais utilidade.
Sim, sou daquelas que escrevem nos livros. São meus e constituem verdadeiras bíblias das coisas que não desejo esquecer.
Durante esta leitura, cruzei-me com outras histórias, outras realidades de vida, outros propósitos para a utilização de um bullet journal.
Por vezes, tive a sensação de que este não era um livro sobre como começar, e manter, um bullet journal, mas uma obra que procura ensinar-nos a lidar com certas discrepâncias da vida. Um porto seguro aonde regressar a cada dia desta existência tão difícil.
A missão do Bullet Journal é ajudar-nos a tomar consciência da forma como gastamos os dois recursos mais preciosos da vida: o nosso tempo e a nossa energia. – Ryder Carroll em “O Método Bullet Journal”
Dei-lhe cinco estrelas. Mantenho a opinião de que vale muito mais.
Durante muito tempo acreditei que não tinha paciência para manter estes rituais de bullet journal, que não sabia desenhar, que a minha letra não era bonita, que era chato apontar todos os dias as mesmas coisas (porque eu tendo a ser aborrecida desta forma…).
Porque iria ler um livro sobre bullet journaling se tudo isto me parecia sem um grande propósito e cheio de práticas vazias?
Ahhh! tantas vezes me engano que algum dia hei-de acertar à primeira (insiro um revirar de olhos aqui).
Se a viagem é o verdadeiro destino, então temos de perceber como podemos ser viajantes melhores. – Ryder Carroll em “O Método Bullet Journal”
Afinal, parece que as minhas práticas criativas beneficiam tanto disto que até arrepia.
Preciso manter a minha bússola a funcionar, a vida activa, o propósito em primeiro lugar. Preciso de me focar no que importa e, para tudo isto acontecer, preciso saber o que faço a seguir, sem ter de perder tempo a tomar cada micro-decisão no momento seguinte.
… os nossos pensamentos não estão bem organizados. Num bom dia podem ser vagamente coerentes. (…) Inevitavelmente, damos connosco envoltos num esforço para lidar com muita coisa ao mesmo tempo, dispersando a nossa atenção de tal forma que nenhuma tarefa recebe a atenção que merece. Chamamos a isto normalmente “estar ocupado”. Mas estar ocupado não é o mesmo que ser produtivo.” – Ryder Carroll em “O Método Bullet Journal”
É extenuante manter tudo em constante perspectiva, apreciação e validação. É um processo que usa demasiados recursos que não possuo. É mais fácil decidir o que fazer, apontar, e recorrer ao que apontei quantas vezes forem necessárias.
Escrever o que preciso, mantendo critérios simples e definidos, ajuda na prossecução das prioridades diárias.
Assim, vou apontando a cada dia. Vou ponderando o que foi, é, e desejo que seja. Faço planos. Construo as minhas práticas… E, ‘O Método Bullet Journal” de Ryder Carroll possibilitou que descobrisse as ferramentas que tornam esta organização possível.
Temos, sim, a obrigação de lidarmos com as nossas fraquezas e de reforçarmos as nossas mais-valias porque não estamos sozinhos no mundo. Alimentar o nosso potencial torna-nos mais valiosos para nós mesmos e para os outros, especialmente para quem está mais perto de nós. – Ryder Carroll em “O Método Bullet Journal”
Se andam às turras com a miríade de ferramentas de (des)organização de todos os dias, experimentem o que este livro ensina.
E, vou mais longe, sugiro que combinem o que retirarem d”O Método Bullet Journal” com o que absorveram de “The Artist’s Way” (já leram? Encontram a minha opinião completa aqui…).
É certo que dará uma mistura criativa!
Resumindo, aconselho este livro e estas práticas. Acho-as muito úteis na organização dos meus dias deixando o espaço suficiente para dar asas à minha criatividade.
Deixo-vos com mais uma citação…
Foque-se nas prioridades (…) Viver com intencionalidade passa por nos focarmos no que é mais importante agora. Lembre-se disso quando estiver a escolher os seus objectivos: o que quer trazer para a sua vida neste momento – e mais importante, porquê? – Ryder Carroll em “O Método Bullet Journal”