[pausa de domingo] Aceitar quem somos para que a nossa arte o reflicta

aceitar

Nas artes visuais costuma-se dizer que, devemos praticar até que o nosso estilo pessoal possa emergir, nas obras que vamos criando.

Na arte da escrita, acontece algo semelhante, devemos escrever muito até que a Voz própria, possa emergir nos nossos escritos.

Se considerarmos a nossa existência, acontece o mesmo com no nosso crescimento. Vamos vivendo e a nossa personalidade, e formas de ser e estar, vão-se definindo e refinando com o tempo. E, desta grande aprendizagem de vida, dependem todas as outras.

Trazemos para a nossa vida aquilo que somos, o que nos ensinaram e que refinámos para ser. Dizer que, aquilo que escrevemos está intimamente ligado a quem somos, é correcto.

É necessário:

  • conhecer quem somos

  • saber quem somos

  • gostar (amar) de quem somos

Esta semana estive envolta num processo algo doloroso. Entrei em modo revisão de escritos dos últimos anos. E, enquanto me dedicava a esta actividade notei duas coisas:

  1. a minha expressão escrita havia mudado. Foi como se reconhecesse as minhas características pessoais nos textos que escrevo. Tudo aquilo que aprendi estava ali, e tudo aquilo que não devia estar, apaguei dos textos.
  2. um respeito pela pessoa que sou, que se esforçou para construir tantos outros textos antes daqueles, que lhe permitem agora reconhecer as partes da sua escrita que mudaram com a prática.

Sabendo que estou apenas a fazer o melhor que sei, quando se trata de… bem, da vida, para ser sincera. E, a fazer o melhor que posso quando se trata de praticar, e aparecer para as coisas que gosto de fazer, constatei que já me consigo ver de uma forma diferente, nos textos que escrevo. Reconheço-me, um bocadinho, naquilo que escrevo…

Apenas a apreciação da nossa verdade pessoal nos pode encaminhar para aceitar quem somos. E, não podemos esquecer que, a arte que criamos reflete-nos.

Reflecte quem somos, em que acreditamos, no que odiamos, traumas e felicidades. Só quando aceito que devo escrever assim é que me permito colocar quem sou (o meu cunho pessoal) numa página.

Não falo de escrever sobre o que nos aconteceu. Não falo de biografias, autobiografias ou memórias. Refiro-me a imbuir no que escrevo a verdadeira expressão da pessoa que sou, da pessoa que escreve, da pessoa que gosta do acto de criar.

Se estiver convicta que não tomo boas decisões, também não saberei que decisão tomar a cada ponto da história que estou a escrever. Ou que projecto devo encetar ou descartar. Ou que texto desejo construir a seguir.

Se não confiar em mim, não confiarei que, no fundo, poderei saber o que estou a fazer. Mesmo que os resultados não sejam perfeitos. E, nisto, uso esta palavra com toda a sua significância pejorativa.

Se não transpareço na minha página, se não confio em mim o suficiente para escrever uma página, qualquer que esta seja, como posso descobrir em mim onde, ou como, refino a minha escrita?

Se não aceito quem sou, sempre encontrarei falhas naquilo que sou e faço. Porque nunca nada será bom o suficiente, talvez não para os outros, mas para mim própria. Nunca serei boa em suficiência para mim própria, logo nunca me permitirei ser boa em suficiência para a minha arte.

Duvidar de nós próprios faz parte do ser humano. Ter esta característica exacerbada faz parte dos traumas que sofremos e que nos acompanham. Fazem parte daquelas situações, evitáveis ou inevitáveis, com que aprendo a viver, que me impulsionam os dias bons, seguidos pelos dias menos bons, seguidos por outros dias mais ou menos.

Como a nossa experiência pessoal é (o mais) importante para a vida que construímos, para a arte que criamos, para o que escolhemos ter à nossa volta, a única solução é viver com tudo isto. Bom e menos bom.

Procurar compreender, ter compaixão para connosco, tentar esquecer o que não conseguimos mudar, e deixar que a pessoa que somos se aproxime da sua obra com nada mais do que aquilo que é.

Os temas podem ser difíceis e, nesta semana que passou, tivemos uma perda no mundo das artes plásticas que fez muito do seu sucesso a trabalhar temas difíceis (Paula Rego). Mas são estes temas difíceis que fazem com que o trabalho artístico seja importante.

Mostramos quem somos e como os outros são, e esperamos construir um mundo mais atento, e informado e, se possível, um mundo melhor.

E, continuamos a desejar escrever muito, e refinar a nossa própria Voz, nascida com o ser humano digno que somos.

Desejo-vos uma excelente pausa de Domingo!

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