Não há momento mais difícil do que aquele em que somos obrigados a escolher entre duas opções desagradáveis.
Concordam?
Quando a escolha se resume a fazer algo que sabemos que nos vai “fazer mal” ou “fazer mal“, mas que não temos como negar o acto de escolher entre elas.
Se digo ‘Sim’ sei que:
- terei de dizer ‘não’ a outra coisa, ou várias;
- vou abdicar do tempo dedicado a outra actividade qualquer;
- altero a ordem que estabeleci como orientadora;
- sentir-me-ei frustrada por me sentir ‘obrigada’ a algo que não escolhi.
Se digo ‘Não’ sei que:
- continuarei a pensar o que poderia ter acontecido se tivesse respondido ‘sim’;
- terei dificuldades em superar a culpa pela escolha que fiz;
- preciso relembrar-me, repetidas vezes, os motivos da minha escolha;
- preciso confiar que sei escolher o melhor para mim o que, por vezes, não é fácil.
Quando o Universo nos coloca uma pergunta a responder, não é costume que consigamos dar uma resposta 100% convicta de que é o que desejamos fazer.
Em especial, se a auto-confiança estiver abalada por outras Universalidades anteriores.
Claro que esta escolha fica mais difícil quando se trata da nossa saúde.
Assim, quando sinto que a escolha à minha frente é má, em qualquer uma das suas possíveis respostas, fico meio zangada.
Quero continuar a fazer as coisas que preciso fazer?
Ou vou parar para ficar doente à vontade?
E, não quero sequer pensar nas nuances das coisas. Sim, estou doente, a sentir-me doente, a precisar de apoiar outros, que precisam que eu esteja menos doente do que eles… e, odeio esta escolha da treta que, se considerar bem, não é escolha nenhuma.
Se respondo ‘Sim’. Sim, vou parar para descansar. Sim, vou aceitar que me sinto doente. Sim, aceito que a pausa é necessária…
- Sim, sinto que devia estar a fazer o que me propus a fazer, no tempo que tinha planeado.
- Tenho de dizer ‘não’ às outras coisas que podia estar a fazer, como dormir, distrair-me, e outras coisas que tais.
- Vou alterar os planos das coisas que tinha para fazer e voltar a adiar o trabalho que tinha agendado.
- E, sentir-me massivamente frustrada por não conseguir fazer o que queria.
Sim, sou obrigada a parar e estar doente.
Se respondo ‘Não’. Não, não estou assim tão doente. Não, não aceito uma pausa completa nos meus trabalhos a decorrer. Não, não aceito pausas forçadas, até porque não posso parar de prestar apoio aos que precisam de mim…
- Não sinto que esteja a fazer o meu melhor nas coisas que decidi empreender.
- Não evito sentir que se calhar devia fazer uma pausa e permitir-me recuperar algumas das forças que preciso.
- Não quero pensar em trabalho acima de tudo. Eles precisam de mim e eu preciso deles.
- Não acredito que as minhas escolhas sejam isentas de motivos ou de respeito por mim.
Não. Recuso-me a parar, normalmente, até a paragem forçada ser inevitável…
Infelizmente, 2022 tem sido um ano de múltiplas maleitas, pelo que aprendi a tentar fazer a melhor escolha sobre qual o veneno que me fará menos mal. Era expectável que o Covid fosse uma delas, certo?!?
Há uns dias li um artigo que continha a seguinte frase:
Se queres ser produtivo, precisas perder tempo a fazer coisas que parecem ser, ridiculamente, pouco produtivas. – Peter Bregman
Apesar deste artigo avançar no sentido das actividades que sirvam o ‘eu’ do futuro. Distinguindo ‘ser produtivo’ de ‘estar ocupado’. Orientando para o planeamento e aquisição de experiência. Criar espaço para focar no trabalho que é importante. E, em fazer progressos reais nas tarefas que são fulcrais para o sucesso daquilo que desejamos fazer.
Retiro a frase do seu contexto inicial, para me relembrar que, é assim que a criatividade é possível.
É assim que nos tornamos criativos. É na brincadeira com coisas que parecem pouco sérias para serem produtivas, que encontramos as referências que nos formam como artistas, e como produtores das nossas artes… sejam estas quais forem.
Por isso, até apanhar Covid, e ser obrigada a dizer ‘Sim’ e ‘Não’ a várias coisas, são experiências que podem parecer pouco produtivas e que podem, de facto, não ser.
Ainda não consigo agradecer estar isolada, não ter olfacto ou paladar, estar ranhosa e com um certo nível de mal-estar constante…
Agradeço estarmos vacinados e não termos experienciado mais sintomas, ou mais graves, do que os que tenho/tiveram.
Sei que fiquei com um backlog monstruoso e, em muitos casos, irrecuperável com o qual lidar esta semana… em que ainda estou em isolamento, e em que não me sinto nem perto dos 100%.
Enfim, há que aceitar quem somos e o que temos (o que nos acomete) ao longo da nossa vida.
Espero que as vossas semanas sejam mais gentis para convosco e que estejam de boa saúde, porque sem ela é, de facto, difícil manter-nos bem-dispostos, com vontade de criar e produtivos.
Como diz Jay Shetty:
Traduzindo: A Criatividade emerge quando estamos calmos. Sê calmo.
Acrescento:
e saudáveis… ou tão saudáveis quanto nos for possível.
Obrigada e Até Breve!
***
Referências:
- Harvard Business Review, ‘You need to practice being your future self‘, Peter Bregman.
- Artigo: [pausa de domingo] Aceitar quem somos para que a nossa arte o reflicta
- Jay Shetty
- Calm – The #1 App for Meditation and Sleep