CHAT GPT: Roubar? Usurpar? Criar? Usar? Inspirar?

chat gpt

Olá a todos! Sejam bem-vindos a este blog.

Há umas semanas, escrevi este artigo sobre CHAT GPT e Nova Moda e, músicas dos Roupa Nova à parte, não pretendo fingir que entendo mais sobre este protótipo de inteligência artificial do que aquilo que entendo.

E, por isso, embarquei numa viagem rumo a descobrir o que significa o CHAT GPT para a minha arte.

O que eu pretendo, de facto, é ficar a conhecer melhor como o CHAT GPT funciona e, acima de tudo, testar de que forma ele nos pode ajudar a alimentar a nossa criatividade.

Assim, decidi colocar-lhe algumas perguntas.

Serão todas as respostas do CHAT GPT coerentes?

Nesta altura, eu já lhe coloquei algumas perguntas e, confesso-vos que esperava algo bem pior. As respostas são coerentes e, arrisco dizer, até interessantes.

Temos substância por trás desta inteligência artificial.

Sim, já sei! É o demo reencarnado! Ou não. Quem o usa, pode ser…

Como em tudo o que criamos/fazemos, é o nosso uso, o discernimento pessoal, os nossos valores morais, as nossas acções que transformam o potencial em acção. Usá-lo para o bem, ou para o mal, só depende de quem o usa.

Como em tudo.

Assim, perguntei:

questionar chat gpt

Num primeiro impacto surpreendeu-me:

  • o detalhe de cada opção;
  • a quantidade de opções apresentadas;
  • a coerência das ideias em si.

As sugestões, como traços gerais de uma possível história, não estavam nada más. Havendo um bocadinho de tudo para todos.

Em realidade, não me surpreende:

  • ideias são ideias. Sem acção são apenas ideias. Listas de ideias encontram-se sem dificuldade;
  • qualquer uma das opções requer muito trabalho para transformar a ideia num bom resultado. Mesmo usando uma destas ideias, é preciso construir muito mais;
  • escolheu alguns dos géneros mais conhecidos para apresentar uma resposta. Nada de ideias rebuscadas ou fora da caixa. Todas elas são reconhecíveis;
  • criar uma obra a partir de uma destas ideias, requer conhecimentos sobre a arte da escrita, não nos isenta de saber as bases e os pormenores. Um ideia inicial é apenas isso. O nosso contributo para o acto é criação é individual.

Entretanto, decidi ir no sentido de uma criação literária específica: Ficção Literária.

Então, coloquei outra pergunta:

Tal como nas respostas à 1ª pergunta, o CHAT GPT apresenta uma resposta coerente, e abrangente, mas que não dispensa conhecimentos específicos para poder ser usada de forma válida.

Por exemplo, esta é uma definição de Realismo Mágico que não reúne o básico que há a saber sobre este estilo. E, enquanto eu achei que estava a perguntar sobre ideias para construir uma história em ficção literária, semelhante à pergunta anterior, ele respondeu-me em género e estilo… e, em deficiência.

No entanto, estas são duas respostas que penso que podem ajudar-nos a olhar para as possibilidades em criação literária. Não apenas como aquilo que existe, e sobre o qual podemos escolher, mas como ideias que nos façam investigar sobre os temas que nos interessam.

Entretanto, mudei de direcção…

Porquê? Porque, uma das coisas que “ouvi” dizer foi que “os blogues, e a escrita como arte, passa a estar ao alcance de todos”… ou da IA.

[Assim como a ilustração, o desenho, o vídeo e a fotografia, em capacidades de reimaginação e reiteração fácil ou de pura reinvenção da realidade.]

E, necessito compreender como chegaram a essa conclusão, e que acções o comprovam. Porque, em realidade, o que isto significa seria a obsolescência do criador, que passa a entregar o produto do que cria à reiteração por IA.

Assim, perguntei:

blog posts writing

Mais uma vez, o CHAT GPT lista os tipos de formatos que existem, os mais utilizados em produção recorrente de artigos, o género de conteúdos que alguém cujo intuito seja descompactar informação, e publicá-la de forma inteligível pode fornecer.

… para uma audiência que poderia beneficiar de ler um livro detalhado sobre um determinado assunto, ao invés de consumir um resumo publicado num blogue.

A AI pode ajudar a produzir o consumo rápido de informação. Afinal, um artigo pode ser cuspido num instante. Mas, onde estão as correlações? As piadas? As opiniões e racionalizações? Onde está o estilo pessoal que nos faz reconhecer este autor e distingui-lo daquele?

Mas, não podia ficar por aqui. Pelo que insisti.

Queria compreender qual o nível de detalhe possível para uma destas opções. Porque, se a ideia é fazer perguntas para minimizar os conhecimentos que detemos, e maximizar a quantidade de conteúdos que produzimos, eu gostaria de ver o que a AI tem.

Assim, peguei na ideia #10 da pergunta acima e particularizei:

genres

Confere. Com um mínimo de revisão e edição, é possível produzir conteúdos em barda… também lhe chamo encher chouriços. É possível criar artigos formato definido, e não nos preocuparmos com o factor humano de criatividade na concepção destes artigos.

Com alguns ajustes, como inserir algum exemplo, ou relacionar algo, é fácil escapar à maioria do trabalho de investigação e reprodução de um tema.

Claro que criar um texto é muito mais do que isso. E, criar um texto que acrescente algo positivo ao que já existe significa mais.

Procuramos relacionar diferentes temas, encontrar ideias novas que contribuam de forma positiva para quem lê. Providenciamos a expansão de horizontes pessoais, fornecemos subtexto. Entregamos entretenimento e conhecimento, enchendo o artigo de conteúdo, piada e, se tivermos alguma prática no que fazemos como criadores, imbuímos o texto daquele je ne sai quoi que cada blogger tem.

Pormenores que a ferramenta ainda não tem, e não terá, pois são capacidades cognoscentes, e muito humanas.

Podem dizer que não faz mal. Não importa, porque só desejam produzir conteúdos chapa 3, assim à laia de molde de fábrica, com o mínimo de esforço pessoal possível e, claro, encher a conta bancária ao máximo, à conta dos insuspeitos que acham que retiram valor daquilo que já lhes seria facultado de graça, se fossem eles a colocar as perguntas.

E, tem sido isto a impulsionar o uso da AI.

E, agora?

A automatização, desde que foi inventada, procurou colmatar as falhas e inconsistências humanas. Era a hipótese de produzir em maior quantidade e minimizar os defeitos que o erro humano introduz num processo produtivo.

Mas, o artesanato sobrevive.

Nós, como seres humanos a viver em sociedade, somos ensinados a escalar um negócio, a alimentar as necessidades (reais e imaginárias) na maior escala possível. Somos orientados a potenciar para o constante abuso de mais, maior, tudo.

Mas, o micro, o pequeno, o especial sobrevive.

… Mesmo se o conceito em si seja baseado numa ideia de escassez que temos vindo a divulgar, aprofundar, e usar como justificação para explorar todos os recursos que nos rodeiam.

Olá, Planeta Terra! Como vais de saúde?

Com este potencial todo, é óbvio que a tecnologia seria desenvolvida mais cedo ou mais tarde.

E, é óbvio que, os escrúpulos no seu desenvolvimento e utilização seriam os que sempre foram…  de imediato, ocorre-me o desenvolvimento da bomba atómica.

Pessoalmente, fiquei curiosa com o que esta ferramenta era capaz de fazer. Não há como negar que, até é agradavelmente bem educada para connosco 🤣

Não satisfeita, decidi perguntar-lhe algo de contornos mais criativos:

Assim, utilizando como mote da próxima pergunta o N.º1 da primeira:

Got any creative ideas for writing a fictional short story?

(1) can you write a short story about a character that wakes up with no memories of their past, but start receiving mysterious messages from someone who claims to know them. As they follow the clues, they start to uncover a dangerous conspiracy that threatens their life.

A resposta do CHAT GPT:

short story AI generated

🤣

Temos uma música que começa por “Deixa-me rir…” e, subtexto à parte, o sentimento inicial é este.

Ora, por onde começar…

O início não está mau. É interessante. A primeira frase capta a atenção, e fá-lo como de ser. A segunda frase é uma desgraça “não se lembrava de nada, nem do seu nome!!!” é um cliché horroroso. Depois, segue por ali fora, cheio de clichés, pouco desenvolvido, sem mostrar nada, um chorrilho de uma história contada, sem pormenores, sem vida, sem subtexto… em resumo, sem interesse.

“À medida que o homem lhe deu mais pormenores, ela começou a lembrar-se?!!!”. Emoção: zero. Pormenores: zero. Imbuir a história de vida: zero.

O final, não é um final. São apontamentos, uma ideia desconjuntada, a precisar de mais trabalho, do que a ideia inicial para esta trama merece (opinião pessoal).

Um enredo utilizado centenas de vezes, ao qual falta tudo o que torna uma história especial, o cunho humano da decepção, da emoção, dos segredos, surpresas e descrições, que nos fazer perdermo-nos dentro de universo ficcional.

Mas, é o que é. Não está incoerente. Foi artificialmente regurgitado para uso comum, e é só nessa capacidade que pode ser considerado um produto de algo… não de alguém.

A produção literária artística vive de muito mais do que isto. Mas esta é a minha opinião.

Olhando para a minha conversa com o CHAT GPT no total:

Não acredito que o trabalho criativo possa ficar relegado à sua (chat gpt) responsabilidade. Criar envolve muito mais do que debitar manuais. Envolve muito mais do que regurgitar enredos usados até à exaustão. Envolve um cunho pessoal que, podendo ser imitado, nunca poderá ser substituído.

Nas interacções mais mediáticas com a tecnologia, desenhadas para chamar a atenção de um público mais generalizado, apostou-se em transformar as respostas em algo ridículo, de tão erróneo que algumas das suas informações eram. Desvalorizar a coisa, porque ninguém vai acreditar naquilo, não funciona como método de controlo da sua utilização.

Aprender não-ficção através do CHAT GPT  é um risco… só porque não quero chamar-lhe algo pior.

Assim como, não funciona deixar andar sem uma espécie de regulação dos órgãos que nos representam. É só olhar para o esforço que o RGPD exigiu após décadas a fecharem os olhos ao que acontecia. Por cá, vamos esperar que as greves nos EUA acabem, e nas suas regulamentações, para depois nos protegermos em conveniência.

Aquilo que sei é que, ao usarem a capacidade de crescimento exponencial da tecnologia, colocam-nos em intricados dilemas morais. E, logo nós, humanos, que somos tão bons a resolver dilemas morais…

Como em todos aqueles filmes de sci-fi que vimos, é claro que a AI tem um potencial destrutivo imenso. Não, não vai ganhar senciência e desatar a sentir-se ameaçado pelos humanos… acho eu, cujos conhecimentos técnicos são próximos a pouco ou nada.

Mas, parece-me claro que, o seu desenvolvimento só é possível com a utilização predatória daquilo que é criado por indivíduos, munidos do seu intelecto e esforço pessoal.

Desenvolveram a inteligência artificial com recurso à inteligência humana, sem pedir autorização para usar o que outros criaram. Não pagaram direitos por essas obras. Não existem como pessoas responsáveis pelas questões morais que as descobertas avivam.

Colocam-se grandes dilemas na questão dos direitos de autor de obras geradas através da AI. Afinal, o que é copiado para gerar uma obra nova, deve ser visto como uma peça de arte?

E, por muito que acreditemos naquela máxima de nos erguermos nos ombros dos gigantes que vieram antes de nós, é este um limite?

Nada disto é novo. E, no grande esquema das coisas, não provocará nenhuma alteração que mais tarde não se justifique pelos avanços que gerou.

[Ocorre-me a escravatura, o dizimar de populações autóctones, a energia atómica, o papel da electricidade no decréscimo do uso do carvão, fósforos e velas… apenas, alguns exemplos. Mas, este é o meu Velho do Restelo a falar, nada mais. Ninguém viu o filme Exterminador Implacável? ]

Neste momento, acho a tecnologia curiosa. Interessante o suficiente para lá ir perguntar umas coisas, no intuito de compreender melhor o que é, e como funciona nesta ponta do espectro tecnológico que é a IA. Mas, acho que é só.

E, fiquei curiosa sobre a parte da ilustração e desenho digital reproduzido pela AI. Mas, este é um assunto para outra altura.

Ficarei alerta aos novos desenvolvimentos, até porque sou parte interessada na questão.

A obra vale pouco para quem tem de pagar, mas é importante o suficiente para ser usurpada com facilidade.

Pois é!

Obrigada (pelo tempo dispensado a ler este artigo escrito por mim) e Até Breve!

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