Respondo… como continuar, sem me afastar da minha essência?

respondo essência

Olá a todos. Sejam bem-vindos a esta Vida Criativa.

Há umas semanas, escrevi um artigo em que coloquei um desafio aos construtores criativos que lêem este blog. Nele, escrevi “este blog é um caminho que é percorrido convosco” e, assim, pedi-vos que comentassem sobre os temas que gostariam de ver respondidos/analisados neste espaço virtual.

Muito agradeço aos que leram e responderam. O meu sincero Obrigada.

Neste momento, sinto-me inspirada para responder a uma destas questões:

“Como tem sido para você escrever e trabalhar sem se afastar da sua essência? Do ponto de vista de nosso mundo tão agitado ultimamente…” — Monique Vicente

Utilizando as palavras de Oscar Wilde em “The Picture of Dorian Gray” (podem ler a minha opinião sobre este livro aqui…):

Oscar Wilde

Ou seja, continuaria a ser malandro… ou, como o autor, de certa forma, explica…

“Mas ensinaria o homem a concentrar-se nos momentos de uma vida que é, ela própria, um momento apenas. – Oscar Wilde, ‘O Retrato de Dorian Gray’

Se tivesse a oportunidade de fazer tudo de novo, desde o início, com o que sei agora… não sei se teria hesitado tanto em tantas coisas.

Ter-me-ia aproximado do que queria. Feito mais exercício físico. Ocupado mais momentos com actividades que me descontraíssem. Dedicado mais tempo ao que gostava de fazer. Limitado o acesso que facilitei a outros. Aprendido a a dizer “não”, e exigido o respeito que me é devido como pessoa.

Teria ouvido mais o que me ia no coração e, muito menos, o que saía da boca dos outros. Teria estabelecido objectivos para mim, sem ouvir o que era suposto ser, e fazer.

Afinal, quando somos novos, e todos nos querem mostrar que o mundo é de uma certa maneira, e que temos de nos conformar, é muito difícil aceitar que a nossa essência pode ser diferente dos que nos rodeiam. É difícil confiar que, aquilo que sabemos chega para compensar o que não sabemos. Chama-se aprendizagem.

Também a minha essência mudou com as experiências que os anos me trouxeram.

Quando era miúda, apaixonei-me por música e por poesia. Meti-me em sarilhos com histórias que escrevi e, infelizmente, ouvi e deixei que certos comentários me marcassem. Mas, o que tenho mais presente na minha essência é odiar desistir quando, é mais do que óbvio que, a minha definição de sucesso pode não ser adequada.

Ou seja, não desisto. Mesmo quando o destino é um beco sem saída. E, para evoluir, é preciso desistir do que não funciona.

Como naquela frase:

insanidade é

A mistura, “pressão das opiniões alheias” em conjunto com “odiar desistir”, trouxe-me uma série de situações que mostraram como a saúde é delicada.

Num mundo, em que a sobrevivência do mais forte/apto é determinante, e a forma como reagimos ao que nos acontece, e como continuamos após o trauma acontecer, é o que nos caracteriza.

Não é se irá acontecer? Ou, se desistimos. Ou, se temos pensamento crítico… Mas, a forma como trabalhamos, para termos a vida que desejamos, tenha esta o aspecto, e consistência, que quisermos, sem interferências maiores.

Os problemas do nosso mundo agitado são variados. E, nós mudamos à medida que vivemos e sobrevivemos.

A minha essência mantém-se? Quem sou? No que acredito? O que defendo? Sim, mesmo se os contornos do que sou mudaram (e vão continuar a mudar) com o tempo.

Sei que as escolhas mais difíceis que fiz, mudaram até as partes mais intrínsecas à minha essência.

O que faço, o que aprendo todos os dias, o que desejo e sonho… continuo a procurar defendê-lo do “mundo exterior”, que se acha mais poderoso do que qualquer pessoa insignificante. E, pode ser… se deixarmos.

Mudar a minha realidade para fazer o que gosto, quando precisamos manter as aparências… a ideia que, se não nos sacrificamos da mesma forma que os outros, não temos valor… aceitar que não posso ter tudo, mas posso trabalhar para o milímetro de caminho que conquisto hoje… viver com o desconforto, sem me conformar com ele… aparecer, todos os dias, mesmo que não perceba porquê.

Tem sido fácil? Bolachas*! Não.

*ref. em Bluey

Em especial, aceitar que o meu valor não advém das actividades que os outros insistem em manter. Ou dos sentimentos que me absorvem, quando deixo que o mindset instituído me toque. E, é impossível, como mãe e mulher, que não me toque.

Somos manipulados e gostamos. Na constante necessidade de querer mais, seja do que for. De querer esforçar-se o menos possível, seja qual for a actividade. De ir e vir, da mesma forma, todos os dias, com tanto de que discordamos, e não compreender porque temos tanta dificuldade em viver assim. Como a porcaria que nos alimenta e, em simultâneo, nos põe doentes… seja alimento para o corpo ou para a alma. Porque, endividar-nos até à medula, é o que sustenta este sistema. E, guerrear com os outros, é a manutenção do poder. Porque o ódio garante que explorar os outros, nesta escravatura moderna, é aceitável. Porque ser-se politicamente incorrecto é estar-se do lado errado da cerca… ahh! filosofias e negação. Pessimismo, como lhe chamam.

É a compreensão da nossa luta pessoal, individual e intransmissível, que encontramos motivos e força para continuar. Construímos o que desejamos, e conseguimos, com trabalho que ninguém vê, e criatividade que é a nossa.

São as nossas escolhas que nos trazem aqui, ao sítio onde desejamos estar: a criar.

Tenho um quadro que diz:

“Faz o que amas. Ama o que fazes.” E, isto aplica-se a tudo o que fazemos. Mesmo quando é difícil amar o que se está a fazer… o Universo sabe que eu odeio limpar a casa de banho! E, no entanto, é uma necessidade.

Talvez desejemos ter estabilidade financeira, ou trocos para comprar as férias, os sapatos e a maquiagem. E, esses objectivos têm o valor que lhes damos.

Ou, talvez, só desejamos escrever… seja o que for.

E, não será nesse momento que somos bem-sucedidos?

Temos sucesso quando vivemos o que desejamos viver.

Quando estamos a desenhar, porque era o que queríamos fazer. Quando estamos a construir um website, porque era o sonho que tínhamos. Quando estamos a modelar uma taça em barro, porque é o que criamos com as nossas mãos.

O sonho não é vender o objecto. É criá-lo.

O sucesso, que se quer sempre associado ao valor monetário do que se cria, é uma concepção do processo. Mas, não é a definição de sucesso, excepto se o objectivo for fazer um milhão de euros. E, aí o sucesso é medido pelo milhão de euros na conta bancária. Seja lá o processo através do qual se amontoa esse dinheiro.

A felicidade está no processo de construir criativamente. De criar. De ajudar outros a criar. Está no processo em si. No trabalho que é feito. Na satisfação que temos quando entramos em Flow.

Acho que respondi à questão… numa imensidão de pontos que, mal começaram a explicar tudo o que penso sobre cada um destes assuntos. E, não tenho uma solução para o equilíbrio que é necessário para manter várias actividades em simultâneo, sem nos magoarmos, corpo, mente e alma, no processo.

Só posso dizer para fazerem o que vos traz satisfação. O trabalho que não vos custa fazer. E, vejam-no como um passatempo, se for isso que é preciso.

Como escreve Oscar Wilde, concentrar-nos nos momentos de uma vida que é breve, e passa num instante.

Concentrar-nos no Algo que nos dá esperança, nos momentos em que não sabemos o que/como/se fazer.

Obrigada e Até Breve!

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2 comentários em “Respondo… como continuar, sem me afastar da minha essência?”

  1. Obrigada, Sara! Com certeza você respondeu à questão. Você tocou na essência de “criar”, no objetivo que preenche a alma do artista, ainda que o mundo grite tantas outras necessidades (materiais ou comportamentais, por exemplo) que teimam em ser misturadas e confundidas com a arte, a beleza, a imaginação… Não nos afastarmos da nossa essência é dar o devido lugar à ela: no alto, acima das atribulações do mundo, brilhando como uma estrela que aponta o caminho.

    1. Olá, Monique. Exactamente, obrigada pela oportunidade que me deu de escrever sobre este tema.

      Obrigada,

      Até Breve!

      Sara

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