Olá! Sê bem-vindo a esta [vida criativa].
Há uns tempos, que esta citação me tem acompanhado:
Reconheço-lhe uma certa beleza… mas, tento sempre começar pelo significado da palavra mais importante do contexto, no caso é: Melancolia.
No Merriam-Webster diz:
Melancolia, como substantivo, é uma depressão do espírito, desânimo ou tristeza. Ou, é uma contemplação, estar envolto em pensamentos tristes.
Neste dicionário online, encontram citações que explicam o conceito pesquisado, de uma forma mais literária, na forma como a palavra é utilizada num contexto literário e/ou social, o que acho importante quando tento compreender um conceito.
Melancolia como adjectivo, utiliza-se para exprimir tristeza, causadora de sombras espirituais.
Etimológicamente, palavra Grega, assimilada pelo Latim Medieval, assimilada pelo Anglo-Francês que, no Inglês Medieval significava excesso de bílis preta. Com o primeiro uso conhecido — de acordo com o Merriam-Webster, pelo que suponho que seja na língua inglesa, — no séc. XIV.
O excesso de bílis preta, que causava irascibilidade e depressão, um dos quatro humores conhecidos na fisiologia medieval, que se acreditava ser frio, seco e causador de melancolia e covardia.
Não há muito tempo, escrevi Criar e Sofrimento Não Combinam, e mantenho. E, no entanto, quando leio esta frase de Frederico Garcia Lorca (que, por um motivo qualquer, decido sempre re-baptizar o primeiro nome por Gabriel, vá-se lá saber porquê!), compreendo demasiado bem sobre o que ela fala.
Deveria ser um guia? Um mote para os temas e as dificuldades na prática criativa?
Bom, não é toxicidade positiva. Não é, sequer um mantra a repetir. E, de facto, não é uma afirmação positiva, capaz de incentivar a autoflagelar-me em proveito do acto criativo. Por isso, não acho que possa ser considerado um guia.
Mas, o que a frase é, para mim, é uma espécie de pedido de aceitação da realidade. É um: por favor, aceita que a criação é feita da vida tal como ela é, cheia de ambiguidades e sofrimento, a par das coisas boas que vivemos. E, acho que preciso mais disto do que da atitude anterior.
Os nossos sentimentos não são quem somos. Existem e passam. Mas, escrever sobre eles, ajuda a colocá-los no seu lugar. E, para o contador de histórias ficcionais, é uma necessidade.
Por isso, sim, a melancolia pode ser encontrada em muitos sítios, incluindo na génese de importantes obras de arte. No coração, daquelas manifestações artísticas que nos tocam, de formas que até temos dificuldades em explicar. Para mim, isto ocorre com a obra de Jane Austen (sobre isto, convido a ler o artigo Lebowitz explica a minha fixação por Austen… em 6 minutos).
Não posso, em boa consciência, aconselhar o uso de melancolia seja para o que for. Afinal, acredito que, apesar de ser um sentimento, de ser inseparável do ser humano, e de não podermos manipulá-lo a nosso belo-prazer, não há sítio interior onde queiramos ir, de propósito, apenas para tentarmos idear uma obra melhor baseada num qualquer sentimento destruidor de alma.
E, agora, ocorre-me a minha filha a perguntar: “Mãe, o que é a alma?” E, deixar-me a patinar, em gelo fino, feito de referência religiosas e crenças metafísicas. Perguntas difíceis!!!
No meu journal, nas minhas notas sobre este artigo, e o tema Melancolia, escrevi:
“Esta semana, os temas rondam a melancolia que é necessária para o acto de criar. Porque, aquela ideia que, temos de estar bem para Criar, é verdade. Mas, há coisas que não sabemos escrever se não passarmos por elas e que, todos os passos neste Caminho, nem sempre são feitos de equilíbrio. Acho que adorava que assim fosse. Um Caminho de saúde, e luz pessoal, sem negatividade, ou maus sentimentos e, sem o azedo da tristeza melancólica, da qual é muito difícil regressar.”
Por isso, não posso aconselhar a romantização da melancolia. Sublimar dificuldades não pode ser o Caminho a trilhar, por mais que, a princípio, pareça apelativo, pode ser destruidor.
Como em muitas realidades da actualidade, é perigoso sublimar objectos, ideias, sentimentos, quando não conseguimos compreender qual a sua dimensão e impacto.
Assim, aos que conhecem o sentimento melancólico, a minha compreensão vai para vocês. Aos que não conhecem, não procurem. Deixem lá.
No coração de uma grande obra de arte está o nosso Coração. O que sentimos, o que defendemos, os nossos valores, a mudança que queremos exercer no mundo, ou a ajuda que pretendemos dar (mesmo na forma de entretenimento).
No coração de uma grande obra de arte, não estão maus fígados… ou, bílis preta.