Todos sabemos que a cada primeira vez que colocamos palavras num papel estamos condenados a reescrevê-las.
Isto acontece quer estejamos a escrever uma carta, reclamação, aviso, e-mail ou livro. A primeira versão é sempre má. Não adianta espremer os miolos e forçar-nos a escrever algo perfeito à primeira tentativa. Lamento informar mas a perfeição à primeira não existe e, para ser sincera, esforçarem-se para isso não vale o tempo desperdiçado.
A maioria daqueles que publicam com alguma regularidade, sejam artigos num blogue, livros, contos ou qualquer outro género de texto ou formato, sabe que mesmo depois de reler o texto cinquenta vezes há sempre algo a corrigir.
A forma de colmatar estas falhas, para além da revisão cuidada que o autor deve sempre fazer, é pedir a um par de almas caridosas que nos ajudem nesta tarefa. Não há muitas pessoas dispostas a prestar este tipo de assistência (e há algumas que prestam este serviço mediante pagamento) mas, para dizer a verdade, não há muitas que mesmo dispostas contribuam para a melhoria do trabalho em si.
Mas os benefícios de encontrar quem leia os nossos rascunhos, e contribua com sugestões úteis e construtivas, suplantam os problemas desta demanda. O alfa/beta-leitor (uma dupla cuja definição exigiria um artigo exclusivo) é alguém em quem confiamos, respeitamos os seus pontos de vista e sugestões, e acreditamos na sinceridade das suas palavras. Encontrar mais do que um é quase um milagre!
Esse alguém, que lê os nossos textos em fase embrionária, é uma pessoa que não tem respostas para o que falta. Que pode não saber porque determinado conjunto de palavras não funciona. Mas é ele que nos pode dizer se encontrámos, ou não, a melhor forma de contar a história. É ele que nos brinda com uma crítica honesta, que nos informa sobre o que funciona e o que está a anos-luz de funcionar, que nos sugere formas de melhorar, coisas a retirar e aspectos a desenvolver.
Este retorno é o compasso temporal que nos permite melhorar, que nos ajuda a ganhar confiança, que nos dá uma nova perspectiva sobre um tema ou história.
Aceitar críticas é muito difícil. Mas quando esse retorno vem de alguém em quem confiamos, que admiramos e que sabemos que nos diz a verdade da forma como a vê, temos a noção do efeito que a nossa escrita tem nas pessoas, e da forma como devemos trabalhar no rascunho final.
Essa(s) pessoa(s) deve ser capaz de nos dar a sua opinião com respeito e delicadeza, duma forma que não seja paternalista, mas que não destrua aquilo que tentamos construir. Não temos tempo a perder com alguém que não nos trata com respeito. Ela nunca deverá desencorajar-nos de continuar a escrever, para isso bastam as nossas próprias inseguranças.
Escrever é cometer erros e aprender com eles, sentir-se perdido e não desistir, preencher o vazio e criar. Um leitor que nos ajude nesta demanda é um amigo precioso que nos devemos esforçar por encontrar e manter.
Numa nota mais pessoal, tenho a sorte de ter alguns (poucos) assim, aos quais quero mesmo agradecer… Obrigada!!!!
Têm alguns leitores assíduos? Como lidam com as críticas fornecidas? Contribuem para melhorar? Ou para desiludir?
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Ainda procurando alguém assim.
Seria com certeza o diferencial para 2013. (Ainda não escrevi nada esse ano.rsrs)
Encontrar alguém disposto a ajudar é difícil. Mas nunca se sabe quem estará disposto a ajudar se souberem que estamos à procura deles. Talvez possas pedir ajuda através do teu blogue?
Mantenho o blogue a menos de 3 meses. Ainda em busca de leitores de ocasião.
Ainda me sinto na fase de muito estudo, tanto q ando em falta com novos posts. Isso não eh mto bom, certo?
Tenho passado mais tempo lendo de outros que criando o meu.
Mas vou me dedicar a fundo esse ano, logo terei alguém disposto a fazer esse trabalho “sujo”. Logo menos.
Tudo isso requer persistência e muito trabalho. Força para 2013 e para todos os teus projectos 😉
Sem dúvida que os alfa/beta-readers são essenciais pois, como disseste, não importa quantas vezes olhemos para um texto, há sempre algo que nos falha. Agora não concordo quando dizes que a primeira versão é “sempre” má, porque não é. Precisa sempre de revisões, isso sim, mas não é necessariamente má. E mesmo quando é má, serve sempre como alicerce para uma segunda versão melhorada. A primeira versão é sempre essencial e, de vez em quando, pode até precisar de muito poucas alterações. Agora o que nunca podemos dizer é que fica impecável à primeira. Isso é difícil.
Concordo contigo Ana. Usei “Má” porque não está pronto para publicar, porque precisa de revisão, porque ainda não é Bom. Pode tornar-se bom com a revisão correcta e com o feedback e correcções adequadas. Mas há quem tente o “impecável” à primeira, e desista quando isso não acontece. É por isso que os alfa/beta-leitores são tão importantes.
Fantástico artigo Sara.
Não importa quantas vezes a gente lê e revisa nosso próprio texto. Aqueles que têm a mente livre do apego autoral, e possuem as habilidades para articular críticas honestas e construtivas, podem nos dar uma ideia do impacto que as palavras que escrevemos têm fora da nossa cabeça. E isso é imprescindível para refinar nossas histórias.
Obrigada. Sim, é a minha perspectiva do assunto. Só os leitores nos ajudam a crescer 😉
É realmente dificil encontrar alguém, qualificado e disposto para o cargo. Tentei vários amigos, apenas uma deu certo. Os outros pareceram não querer criticar ou ter medo de serem sinceros. Não dar uma resposta é pior do que dar uma reposta negativa. Desconversar sobre o assunto só faz aumentar as inseguranças do escritor.
Olá Leonardo,
Optar por amigos pode ser, de facto, uma situação complicada. Às vezes temos a sorte de encontrar desconhecidos que se tornam nos melhores beta-leitores que podíamos ter.
Mas como saber se a pessoa é qualificada e confiável sem ao menos conhecê-la?
Olá Leonardo,
A resposta a isto é experimentando. Trocando opiniões e procurando conhecer a pessoa apesar da distância. Eu sou bastante céptica neste tipo de coisas mas descobri que há muitas pessoas, que tal como eu, procuram alguém que entenda este meio e todos nós ganhamos algo em trocar ideias com os nossos pares. Não aconselho apressar este tipo de trocas (como enviando logo o nosso material, sem conhecer um pouco da pessoa por trás do ecrã) mas aconselho não bloquear os outros sem motivos válidos. É possível conhecer a pessoa do outro lado, se nos mantivermos de mente aberta e dispostos a ajudar tanto como seremos ajudados. É uma troca em que ambas as partes crescem com ela.
Se souber de alguém interessado em troca ideia com um escritor iniciante de ficção científica, me avise.
Sim. Experimentou procurar nas redes sociais?
Já.
tenho a sorte de ter amigos que amam ler e que leem meus rascunhos. O primeiro, primeirissimo rascunho do meu livro, que escrevo desde o segundo ano do ensino medio (to no segundo da faculdade agora) foi uma amiga muito chegada que leu. Admito que estava muito tosco, e ja reescrevi pelo menos tres vezes, mas a ajuda e o apoio que ele me deu nesse periodo, sempre perguntando onde tava o proximo capitulo, e ficando animada ou indignada as vezes com o curso da estoria foi uma das coisas que mais me encorajou a persistir. Tenho pelo menos mais tres amigas muito proximas a quem sempre posso pedir ajuda quando estou “encafifada” com algo no livro e elas sempre tem dicas super valiosas para me dar quando me sinto encurralada com algo no enredo e não sei como me sair… Realmente, a ajuda de amigos proximos no processo da escrita é de uma importância imprescindível, não sei o que seria de mim ^
Esse apoio é mesmo muito importante. Ajuda-nos a crescer como escritores. Tens sorte em ter tantas pessoas interessadas nos teus escritos. Usa-o bem 🙂