Depois de escrever três contos em três semanas parece que passei mais tempo a rever do que a criar. No final fiquei com a sensação de que é impossível fazer uma sem a outra e com a certeza de que aprendi inúmeras coisas novas.
Sei que já escrevi aqui alguns artigos sobre a revisão de texto mas quero deixar-vos um resumo dos pontos que considero serem a chave para rever um conto ou qualquer outro formato de texto.
1. Dividir a história em blocos passíveis de serem revistos isoladamente
Dividir o texto em cenas, verdadeiros bocados de história que contêm descrição e/ou diálogo e cujos objectivos específicos contribuem para o desenrolar do enredo.
Se soubermos o objectivo de cada uma dessas partes e qual será o seu contributo para a história, temos a tarefa de revisão facilitada.
2. Evitar grandes revisões no período da criação
É preferível guardar as revisões substanciais como a correcção de erros ortográficos ou de construção frásica para o período após a conclusão criativa da história.
Podemos (e, por aqui, é frequente acontecer) alterar algumas inconsistências ou introduzir referências à medida que vamos escrevendo o texto. Uma reviravolta no meio de uma cena depende dum pormenor introduzido no início, e esse é o tipo de revisão que não convém adiar, para não esquecer.
3. Concentrar na tarefa que temos em mãos
Rever implica eliminarmos distracções sejam internas ou externas. É importante dirigirmos a nossa total e indivisa atenção para a análise cuidada do texto, para que a nossa peneira seja feita de uma rede microscópica.
Isto implica desligar das redes sociais, do email e dos barulhos exteriores. Mas também significa dar férias ao nosso crítico interior, impedindo que a confusão que por vezes se instala na nossa mente influencie a revisão do texto.
Escrever é demasiado trabalhoso para ser feito de ânimo leve, por isso é melhor dar férias ao pessimista que há em cada um de nós, e acreditar que quando começámos estávamos conscientes do que nos esperava.
4. Compartimentar a busca de erros ou reler à procura de erros específicos
Não adianta tentar corrigir todas as falhas numa só passagem de olhos pelo texto. Todos nós sabemos onde erramos com maior frequência e, essa correcção, é o início das restantes.
Procurar erros ortográficos e de construção frásica numa passagem, repetição de palavras, alterar frases e/ou blocos inteiros de texto, confirmar as referências que usámos noutra leitura, confirmar se atingimos os objectivos de cada cena…
A cada leitura o texto ganha forma e os erros, dos mais variados tipos, são minimizados.
5. Tirar notas
Uma mudança no final do texto pode implicar a correcção de uma palavra num outro qualquer capítulo. Relembrar um traço de personalidade de uma personagem ao longo da história é mais fácil se este se encontrar num sítio de destaque e de apoio.
Tirar notas implica apontar os nossos pensamentos, conclusões e ideias para que estes possam vir a ser incorporados, ou oportunamente mencionados, no decorrer da história.
Também podem recorrer a uma folha de revisão (Ver beat-sheet ou checklist).
6. Mudanças de última hora implicam nova revisão da totalidade do texto
Num exemplo: mudar a hora de partida do comboio pode influenciar todo o enredo, pelo que é preciso procurar todas as referências temporais e verificar se elas permitem a mudança introduzida.
7. Controla os progressos da revisão
Quando começamos a brincar com o limite temporal da nossa capacidade de atenção é tempo de fazer uma curta pausa para podermos voltar ao trabalho totalmente concentrados.
É preciso muito cuidado com os blocos de tempo em que não estamos totalmente focados na tarefa em mãos, para que nada escape à nossa peneira.
8. Formatar o texto no final
O tipo e tamanho de letra, o espaçamento de linhas e de parágrafos, assim como uma série de outros pormenores devem ser revistos no final das revisões já efectuadas.
É preciso um cuidado especial caso pretendam submeter o texto a alguma entidade, uma vez que, ela pode ter critérios pré-definidos de submissão.
Existem algumas directrizes sobre este tema mas no fundo tudo se resume às preferências do destinatário da obra. (Ver artigo: How to Format a Manuscript by Holly Lisle)
Por fim…
Só depois de cumprir estas fases do processo de revisão é que posso dizer que me sinto pronta para colocar o texto à disposição de alguns (muito poucos) alfa-leitores.
Garanto-vos que, após eles passarem os olhos e o seu sentido crítico pelo texto, ainda tenho várias horas de revisão à minha frente… É aqui que entra aquela parte de rir às gargalhadas com as baboseiras que passaram através da peneira.
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