Opinião: ‘A Hora do Vampiro’ de Stephen King

a hora do vampiroNova nestas lides de Stephen King (porque a minha imaginação hiperactiva é tramada no departamento dos pesadelos), arrisquei comprar este livro, sem saber se tinha estômago para ele. Afinal, diz que King é mesmo brilhante.

Sei que não é a obra prima dele. Sei que há por aí umas quantas histórias que vou precisar de um pouco mais de… qualquer coisa (coragem?), para as degustar. Mas, depois de ler ‘On Writing’ e ter espreitado, ao longo dos anos, alguns dos filmes baseados nas suas obras, rendi-me ao original.

Medo é uma questão de perspectiva e as cenas mais chocantes são murros inesperados que nada têm a ver com a face reflectida no vidro da janela ou com o que jaz atrás daquela porta. ‘A hora do vampiro’ abre-nos a mente às possibilidades sobrenaturais, remexe os receios mais básicos, entrega de forma clara e consciente a noção de que a segurança não reside nos números.

Um livro publicado, pela primeira vez, em 1975 que nada tem a ver com as últimas modas vampíricas. Uma história em que os vampiros são criaturas terríveis e temíveis. Onde encontramos os monstros, não apenas o fruto da nossa imaginação, mas também uma versão dessas criaturas dentro de cada um de nós.

A realidade das vivências nas cidades pequenas formam a matéria-prima de eleição para que o mal prolifere. Cada personagem traz algo de si, da parte da mais negra da sua alma, à história. A visão turva entre Bem e Mal, a perda da Fé, o preconceito, a coscuvilhice, a corrupção, as mentiras e traições… é aquilo que alimenta a conversão de uma comunidade inteira nos monstros que percorrem a noite. As crianças têm um papel privilegiado entre aqueles que caiem primeiro, e entre os que lutam até ao fim provando, uma e outra vez, que coragem e determinação são características pessoais intrínsecas e não determinadas por idade ou educação.

Desde o início que sabemos que o Lote de Salem tornara-se numa cidade fantasma e, no final, dei comigo a reler o primeiro capítulo de novo (para enquadramento). Mas, nem esse conhecimento prévio nos afasta da história, pelo contrário, cria uma expectativa que é mantida ao longo de todo o livro. Num ritmo perfeito, do início ao fim, vamos conhecendo as personagens e os seus fins, cada uma delas contribuindo de forma distinta para toda a trama.

É um livro de horror, sim. Mas, e é aqui que me leva a atribuir as 5 estrelas, não é terror barato, artificial ou de cliché. É psicológico, são vivências cruzadas, são olhares que nos tiram o fôlego, é o choque embrenhado naquilo que é pacífico.

As personagens principais, os defensores do Bem são, cada um à sua maneira, enternecedores e dignos de torcer por eles. O Padre Callahan enfrenta um destino particularmente agonizante, que, de certa forma suplanta o dos restantes sobreviventes do Lote de Salém. Nem todos os que lutam sobrevivem. O Mal não sai derrotado. Não há certezas de nada, apenas um esforço humano em conter a praga, e o horror em que imergem após essa batalha.

Fiquei fã de Stephen King… acho que já o era (e era por isso que o evitava). Agora, vou só reforçar o estômago e ver se me atrevo a ler as histórias mais hard-core.

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