Como dizia um antigo professor e, perdoem-me por vos expôr a isto, ou se o vão reconhecer por estas palavras mas, uma vez que ele gritava isto para auditórios cheios de gente, não era segredo:
Ao contrário do que circula aí pelos corredores, a memória faz parte da inteligência. Se não sabem memorizar as definições correctas das coisas…
Esta é a ideia geral porque, CLARO, que eu não consegui memorizar as SUAS palavras exactas, apenas a ideia, e o que me fez sentir quando o disse.
Este foi um raspanete que me marcou. Pela negativa. Esta reprimenda a um colega, em público, numa das primeiras aulas, perante um auditório cheio, após ele perguntar o que era uma cena qualquer que já não me recordo o quê (Ahhh, a ironia não se perde em mim!) uma coisa do tipo:
O que são as Ciências Sociais?
E, o senhor professor catedrático ofende-se porque o meu colega não soube recitar a definição exacta do livro…
E, na altura, ainda não havia Wikipédia (felizmente!) ou ele nunca mais se iria calar. Porque parece que arrasar quem consulta a Wikipédia é a moda agora (isto vindo de outro professor universitário).
Mas voltando ao início, ele disse isto há… esperem! Susto! Vinte anos?! Podem ser vinte anos?? Pois parece que sim.
Marcou-me pela negativa porque me fez sentir inferior, burra, incapaz de aprender. Isto tudo porque era muito difícil para mim decorar conceitos, com todas as palavras exactas, nos sítios certos. E, caso ainda não tenham percebido, ainda é difícil fazê-lo.
Acho que tenho uma espécie de dislexia que, “notícia de última hora!” todos temos, de um tipo ou outro (letras e números) e, em variados graus de dificuldade… Só passamos a vida a esconder e a negar… porque ninguém admite!
Ao longo da minha vida conheci pessoas que tinham uma capacidade fenomenal para decorar coisas. Memorizavam até à ínfima vírgula. Uns eram muito criativos. Faziam outras coisas, adaptavam esses conhecimentos interiorizados e usavam-nos para construir outras coisas.
Outros, tinham uma grande capacidade para memorizar e recitar. E, Ponto Final. Eram estes últimos que tinham as grandes notas e os méritos atribuídos por essas grandes notas.
Nunca achei que essas pessoas fossem mais inteligentes do que as outras. Quando havia um qualquer teste, essas crianças tinham melhores resultados em comparação. Quando era preciso adaptar, ou inventar algo novo, já não era esse o caso.
E, sim, há por aí uma série de cientistas sociais com estudos feitos nestes temas e que apresentam bons argumentos para comprovar e refutar qualquer uma das premissas. Não é este o meu ponto da questão aqui.
Sabem aquele ditado que diz:
Se avaliares a inteligência de um peixe pela sua capacidade de subir às árvores, então todos os peixes são pouco inteligentes.
Mas eu não conhecia este ditado. E, mesmo acreditando que aquela lógica era falhada (porque gosto pouco de me sentir menos do que os outros), não podemos generalizar uma coisa destas e aplicá-la a todos os seres humanos. Cada um domina os seus próprios conhecimentos e, na sua maioria, não derivam de definições de dicionário.
Apesar de eu ser uma defensora de usarem o dicionário quando precisam dele. Ou a enciclopédia. Ou, escândalo!, a Wikipédia… (vá! vão ler o que é preciso fazer para poderem contribuir para um artigo da Wikipédia)
Por isso, o que esse senhor professor me disse foi que eu era pouco inteligente, porque nunca dominei a arte de decorar ipsis verbis o que lia (mas olhe, com todo o respeito, sei o que é ipsis verbis num Latim que nunca estudei formalmente… mas, não me quero gabar).
Ainda não domino essa arte e, surpresa!!!, tenho por facto que nunca irei dominar… acho que a idade não perdoa ninguém.
Claro que a Disciplina que ele “ensinava” era um chorrilho de coisas para memorizar. Autores, atrás de autores. A totalidade da vida e obra desses autores. Todas as datas relevantes na vida de cada um desses autores, desde que nasciam até que morriam… Um Inferno que (Surpresa!!) não tem grandes aplicações práticas nas áreas de conhecimento que estávamos a treinar.
E, vamos ser sinceros, que Deus nos livre de sacar de uma cena dessas numa conversa de corredor empresarial. Ostracizada seria um passeio no parque em comparação com o que estas almas iriam fazer para punir a arrogância de saber quando nasceu o Saint-Simon.
Sim, há muitas circunstâncias atenuantes para o comportamento deste senhor. Eu sei que há, pois eu sou uma excelente advogada do diabo. Todos os meus melhores argumentos são trazidos a lume quando há alguma interacção deste tipo…
Coitado! Está velho e desactualizado. Está farto de aturar criancinhas desrespeitosas. É louco ou desenquadrado da realidade. Ou, tem alguma razão que nós não conseguimos compreender. Afinal, ele ensina alunos há séculos… Ou, é o peso de tudo aquilo que já viu que o faz dizer aquelas coisas. E, por aí fora…
Comigo, pessoalmente, foi mais dentro do género apresento-lhe o meu cartão de eleitor, porque não tinha o BI comigo durante uma frequência, e ele olha para aquilo, dá uma risada de quem nem pode acreditar no que os seus olhos vêm e murmura “Cartão de eleitor”, com um revirar de olhos. E, devolve-mo como se tivesse a tocar em algo muito mal-cheiroso.
Sim, eu voto. Provavelmente não no mesmo partido que ele, mas voto desde os 18. Faz parte do meu poder de escolha pessoal que não abdico por ninguém.
Ou seja, o que eu quero dizer é que, ele lá teve as razões dele para gritar aquilo em pleno auditório… mas, o que tem isto a ver com a Shit List? E, porque devemos ter uma coisa destas?
Aquela cena da inteligência e da memória, foi um comentário que foi direitinho para a minha Shit List. Passo a explicar.
A minha Shit List faz parte de um exercício Criativo-Artístico que ando a experimentar. Se vir resultados com ela e as outras coisas a que ela vem agarrada, entrego-vos o total do que aprendi. Para já, vou deixando estas pérolas para que possam pensar na vossa própria lista de mer** ou Shit List. Porque em Inglês tudo soa melhor… ou menos mau.
A Shit List é uma lista de comentários perniciosos que ficam retidos na nossa memória. São coisas que vivemos, experiências que passamos, frases que algumas pessoas têm a infelicidade de pronunciar sobre nós, a nossa forma de ser ou as nossas actividades e que, por algum motivo, voltam para nos assombrar cada vez que alguma coisa não corre como esperamos.
É a vozinha irritante do teu companheiro, ou da tua mãe. O comentário da professora ou da empregada de loja que te faltaram ao respeito. O sorrisinho comentado e desprezível do teu colega. Ou a voz do teu chefe quando as coisas não lhe correm de feição. São aqueles comentários que se tornam no nosso crítico interior. Aquelas coisas que nos magoam, e que ficam ali a torcer a lâmina da faca dentro da ferida, muito após esta ter sarado.
Porque é importante apontar estas experiências traumatizantes?
Para contrariar o trabalhinho que o nosso crítico interior levou anos a construir. O gajo alimenta-se destas coisas e vai buscar todas. Quando uma não serve, lembra-se de outra. Quando nos sentamos e até conseguimos escrever o que queremos, ele saca da faca do talho e corta-nos os dedos metafísicos (claro!).
Porque todas estas “conversas” são traumas que acumulamos e que, chegando a um certo ponto, bloqueiam-nos o caminho para aquilo que queremos Ser. É o blá blá incessante da nossa mente que nunca conseguimos desligar (mas conseguimos modificá-lo e atenuá-lo com diversas estratégias).
Porque nunca chegamos a ser suficientes para aquilo que queremos ter. Porque quem queremos nós enganar? “Escrever? O que vais fazer com o que escreves?” Cospe ele num acesso de mau génio…
Todos nós padecemos disto. As mulheres sofrem-no de outras formas mais peculiares. Porque somos mulheres e porque acumulamos tudo. Tudo e de todos os tipos.
E, deixem-me dizer-vos, para alguém que tem sérias dificuldades em decorar definições de dicionário, tenho uma memória fenomenal para coleccionar as trampas que os outros me dizem e me fazem sentir.
Não tem tudo mau. É muito material de escrita. Mas, tanto material, tende a entupir o sítio por onde é suposto as coisas fluírem. Mas, também aqui, nós somos as nossas próprias soluções. Afinal, somos mulheres de limpeza em tudo. Limpamos casa, vida, folhas de excel, sapatos, imagem corporal, estigmas…
Limpamos tudo mas, por vezes, algumas dessas pérolas agarram-se aos cantos da nossa consciência. Desenvolvem raízes e ficam ali a germinar. Depois vem outra frase. E, outra. No fim, temos uma pilha de cenas impiedosas (e mentirosas) que nos impedem de suplantar.
Não. Não precisamos de ajuda a desobstruir a passagem. Homens ou mulheres, todos temos os nossos mecanismos para lidar e, quando não temos é bom que nos inclinemos a aprendê-los.
Precisamos que haja respeito. Respeito suficiente por nós próprios para nos recusarmos a fazer o mesmo aos outros. Porque todos nós dizemos coisas de que nos arrependemos. E, todos nós somos, ou podemos ser, a vozinha crítica na mente de alguém.
E, depois, temos filhos. E, assim se perpetua o ciclo das merd*** ditas sem pensar que vão pesar na consciência de alguém.
Como podemos mudar isto?
Escrevam a vossa listinha de merd**. Ponham lá todas aquelas coisas ofensivas que dizem a vocês próprios. Oiçam-nas na voz própria de quem as disse.
Vão construindo a vossa lista e, cada vez que apareça uma pérola nova, apontem. Entretanto, revertam-nas a todas para o seu contrário. Transformem-na em Afirmações Positivas e recitem-nas todos os dias (e, esta é uma forma de domar ou mesmo eliminar o vosso crítico interior). Depois das vossas páginas matinais… Ahhh, outra coisa que espero comentar em breve e que faz parte desta Criatividade como Mindset de que falo aqui…
Eu, ainda ando a compilar a minha Shit List. Não sei se algum dia deixarei de a compilar… Mas, tenho já uma excelente lista de coisas positivas para me repetir todos os dias. E, este é um exercício criativo a manter.
Precisam de mais instruções? Ou saberem a fonte de onde retirei o exercício? Mandem-me um e-mail, ou deixem um comentário aqui em baixo, e terei muito gosto em responder às vossas perguntas.
Experimentem e partilhem connosco como correu.
CONTINUEM A SUBSCREVER; COMENTAR; GOSTAR; PARTILHAR; E, SE PUDEREM CONTRIBUIR EM BAIXO, ERA ESPECTACULAR.
Espero os vossos comentários com alegria e antecipação.
[cryptothanks]
Olá. Encontrei seu blog por acaso na imensidão “das internets”. Nas horas vagas (que infelizmente são poucas), gosto de escrever contos de ficção científica, e acabei encontrando ótimas dicas por aqui. Meus parabéns por manter um blog por tanto tempo! É um grande desafio. Continue o bom trabalho.
Ah, uma outra coisa. Gosto muito do modelo de narrativa do China Miéville. Seria interessante se escrevesse um pouco sobre isso
Olá Roger, Obrigada pelo comentário e por me deixares saber que aprecias o que escrevo. É muito importante para mim saber que estes artigos não se perdem na confusão “das internets”, sim. Quanto ao modelo de narrativa que mencionaste, vou pesquisar sobre isso… Obrigada pelo teu comentário e pela dica. São ambas muito importantes para mim.
Desejo-te muito sucesso para os teus escritos.
Cmpts.